Introdução
Em 31
de março de 1869, Allan Kardec retornou à pátria espiritual em decorrência da
ruptura de um aneurisma. Contando desde o momento em que tomou contato com os
fenômenos das chamadas “mesas girantes”, foram cerca de quinze anos de
dedicação intensa e ininterrupta à pesquisa e à codificação da Doutrina
Espírita.
Hoje,
passados mais de 150 anos de sua desencarnação, os frutos do Espiritismo continuam
a iluminar consciências e a consolar corações, mostrando a atualidade e a
profundidade de sua obra. No entanto, mais importante do que recordar a data de
seu desencarne é refletir: como podemos, de fato, honrar sua memória e dar
continuidade ao seu legado?
Mais do que recordar: o convite à ação
Na
edição de junho de 1869 da Revista Espírita, publicada logo após sua
desencarnação, Kardec — através de mensagem espiritual — faz uma reflexão sobre
os aniversários e centenários que homenageiam benfeitores da humanidade. Ele
afirma que tais datas são dignas de respeito e reconhecimento, pois lembram à
sociedade que “somente os que trabalham para melhorar a sorte de seus irmãos
têm direito a todo o respeito e a toda veneração”.
Contudo,
Kardec adverte que o simples ato de admirar e aplaudir não é suficiente. É
necessário ir além da comoção e do entusiasmo. Segundo suas palavras:
“A admiração, o
respeito, a simpatia comovem o teu coração, animam o teu espírito, excitam a
tua coragem, mas é necessário ainda mais... É necessário que eles
reconheçam discípulos e êmulos entre os que fazem reviver o seu
passado.”
Com
essa exortação, Kardec nos convida a compreender que honrá-lo verdadeiramente
não se resume a frequentar eventos comemorativos, citar seus livros ou exaltar
seu nome, mas seguir seus passos e assumir responsabilidades semelhantes às
que ele assumiu diante do Cristo.
Ser discípulo: viver os ensinamentos
Ser um
discípulo de Kardec significa estudar profundamente as obras da
Codificação — como O Livro dos Espíritos,
O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese — e buscar vivenciar os princípios morais que delas
decorrem.
O
discípulo não é mero leitor: ele reflete, transforma-se e age, aplicando
o conhecimento espírita na própria vida e nas relações com o próximo. Assim,
torna-se um instrumento do bem, colaborando com o progresso moral da
humanidade, conforme ensina a Revista
Espírita (1858–1869).
Ser êmulo: caminhar lado a lado no ideal do bem
O
termo êmulo significa esforçar-se para igualar ou até superar alguém em
qualidades ou méritos. Ser um êmulo de Kardec não significa competir com
ele, mas comprometer-se sinceramente a trilhar o mesmo caminho de esforço,
estudo, abnegação e fidelidade à verdade.
É buscar
ser tão dedicado à causa do bem quanto ele foi, integrando-se ao esforço
coletivo dos bons Espíritos para regenerar a humanidade — começando pela vitória
sobre as próprias imperfeições.
Essa
visão está em perfeita sintonia com o ideal cristão apresentado por Jesus: “Sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai
Celestial” (Evangelho segundo Mateus, 5:48). Kardec não desejava ser visto
como autoridade infalível, mas como um trabalhador entre outros
trabalhadores, que confiava no progresso de todos nós.
A verdadeira homenagem
Compreendemos,
então, que a melhor forma de homenagear Kardec não está nas flores, nos
discursos ou nas solenidades, mas em tornar vivos os seus ensinamentos pelo
exemplo diário.
Isso
significa:
- Estudar com
seriedade a Doutrina Espírita e divulgá-la com responsabilidade.
- Praticar a caridade
com humildade e discrição, sem interesses pessoais.
- Viver a fé
raciocinada, analisando com lógica e bom senso qualquer manifestação
espiritual.
- Esforçar-se pela transformação
íntima, modificando sentimentos e atitudes à luz do Evangelho.
Seguindo
por esse caminho, tornamo-nos discípulos e êmulos do Codificador,
contribuindo para que a Doutrina Espírita continue sendo um farol de razão,
consolo e esperança para as novas gerações.
Referências
- Allan Kardec – O
Livro dos Espíritos.
- Allan Kardec – O
Livro dos Médiuns.
- Allan Kardec – O
Evangelho segundo o Espiritismo.
- Allan Kardec – O
Céu e o Inferno.
- Allan Kardec – A
Gênese.
- Revista Espírita
(1858–1869), especialmente a edição de junho de 1869.
- Alexandre Fontes da
Fonseca – Aniversário do Desencarne de Kardec: Como Comemorar?
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