sexta-feira, 26 de setembro de 2025

ABORTO, POLÍTICA E CONSCIÊNCIA: 
UMA REFLEXÃO ESPÍRITA SOBRE A VIDA
- A Era do Espírito -

Introdução

O debate sobre o aborto está longe de ser apenas uma questão de legislação ou de saúde pública. Ele envolve ética, filosofia, espiritualidade e, sobretudo, a consciência humana diante da vida. O diálogo reproduzido em um opúsculo de 1998 revela a profundidade do conflito: de um lado, a reivindicação da autonomia da mulher sobre seu corpo; de outro, o reconhecimento do direito à vida do feto.

A discussão permanece atual e ainda mais acirrada. Em tempos de polarizações políticas, muitos reduzem a questão ao slogan de “direito de escolher”, esquecendo-se que há outra vida envolvida. À luz da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, o aborto é uma decisão que vai além da legislação humana, pois toca os fundamentos da vida espiritual e das responsabilidades do Espírito encarnado.

O olhar espírita sobre a vida e o aborto

Em O Livro dos Espíritos (questões 344 a 360), Kardec questiona os Espíritos sobre o momento em que a alma se une ao corpo, a sacralidade da vida desde a concepção e as consequências espirituais do aborto. A resposta é clara: o ser em gestação é um Espírito em processo de encarnação, não um “amontoado de células”. O aborto voluntário representa, portanto, uma interrupção violenta de um processo natural, com repercussões tanto para a mãe quanto para o Espírito reencarnante.

Na Revista Espírita (1866, artigo “A Pena de Morte”), Kardec observa que, ao justificar mortes em nome de ideias ou conveniências sociais, o ser humano se afasta da moral universal. O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao aborto: quando a consciência tenta “desumanizar” o embrião, nega-se a responsabilidade espiritual pela vida que se desenvolve.

A retórica da desumanização

O diálogo citado no opúsculo destaca um ponto essencial: antes de suprimir direitos ou vidas, cria-se uma narrativa para desumanizar o outro. Foi assim em regimes totalitários que justificaram genocídios; é assim quando se tenta reduzir o embrião a um simples “aglomerado celular”.

A Doutrina Espírita adverte que esse mecanismo de desumanização serve apenas para aliviar consciências temporariamente, mas não elimina a realidade espiritual. O Espírito que deveria reencarnar continua existindo, e a responsabilidade diante das Leis Divinas permanece.

Entre saúde pública e responsabilidade espiritual

É verdade que milhares de mulheres, especialmente pobres, recorrem a métodos inseguros e colocam suas vidas em risco. Isso exige políticas públicas que unam educação sexual, acesso a métodos contraceptivos e apoio social às gestantes. Entretanto, legalizar o aborto como solução simples significa transferir o problema para outro plano: o espiritual.

O Espiritismo não fecha os olhos para a dor das mulheres, mas propõe uma alternativa de consciência: prevenir em vez de eliminar, apoiar em vez de punir, orientar em vez de condenar. A verdadeira “modernidade” não está em legitimar a supressão da vida, mas em construir uma sociedade que valorize a maternidade responsável e ofereça condições dignas para que nenhuma mulher veja no aborto a única saída.

Conclusão

A política pode legislar sobre direitos e deveres, mas não pode alterar as leis universais que regem a vida e a evolução espiritual. Cada decisão relacionada ao aborto tem consequências que ultrapassam os limites do corpo e da existência terrena.

Ao refletir sobre esse tema, o Espiritismo nos convida a elevar a discussão: não se trata apenas de um debate jurídico ou ideológico, mas de uma questão de consciência. Defender a vida desde a concepção não é retrocesso; é reconhecer que a existência é um bem maior que antecede qualquer direito humano.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • FORMIGA, Luiz Carlos D. “A política do aborto: O que se quer é ‘desumanizar’ o embrião”. Arigo, 1998. Disponível em: http://www.geocities.com/neurj/neurj.htm.

 

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