Introdução
Entre os ensinos mais marcantes de Jesus está o
convite: “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça” (Mateus
6:33). A advertência é clara: a verdadeira felicidade não se apoia em
conquistas exteriores, mas na vivência da justiça divina, que se expressa nos
padrões de certo e errado inscritos em nossa própria consciência.
Na Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec,
aprendemos que a consciência é a bússola moral do ser humano, onde repousa a
Lei de Deus (O Livro dos Espíritos,
questão 621). Segui-la é caminhar rumo à plenitude; ignorá-la é desviar-se,
acumulando dores e consequências que nos reconduzem, pela experiência e pela
reencarnação, ao caminho da retificação.
Viver em busca da justiça divina não significa
esperar passivamente uma recompensa futura, mas agir, aqui e agora, em sintonia
com a verdade que liberta.
Ter
ouvidos de ouvir: o discernimento espiritual
Jesus frequentemente se referia aos que têm
“ouvidos de ouvir”. Não falava apenas da audição física, mas da capacidade de
compreender e acolher as lições espirituais. O Espiritismo explica que esse
discernimento nasce do exercício da razão iluminada pela fé, sem fanatismo nem
materialismo cego.
Aquele que ouve, mas interpreta a verdade de forma
egoísta, adapta-a a seus interesses pessoais e fecha-se à justiça divina.
Quantos não acumulam bens que não podem levar consigo após a morte? Quantos não
se deixam dominar pelo orgulho, pela inveja, pelo ciúme ou pela preguiça,
comprometendo o progresso próprio e o bem-estar coletivo?
Justiça
divina e as escolhas humanas
Segundo o Espiritismo, Deus é soberanamente justo e
bom. Suas leis são universais e perfeitas, e a felicidade está em vivê-las com
autenticidade. Porém, como Espíritos em aprendizado, muitas vezes nos desviamos
por causa de nossas imperfeições.
Quando agimos contrariamente à Lei de Deus,
experimentamos a infelicidade — não como castigo, mas como consequência natural
de nossas escolhas. É nesse contexto que a dor, embora amarga, cumpre função
educativa: desperta-nos do erro e aponta caminhos de redenção.
Nos dias atuais, dados da Organização Mundial da
Saúde indicam que milhões sofrem de ansiedade, depressão e doenças
relacionadas ao estresse. Muitos desses sofrimentos estão ligados a
desequilíbrios existenciais — a busca desenfreada por posses, status e poder. O
convite de Jesus permanece atual: substituir a vaidade pelo serviço, o egoísmo
pela fraternidade, a inveja pela valorização do próprio esforço, encontrando na
vivência da justiça divina um antídoto para os males morais e sociais.
A justiça
divina como critério de vida
O Espiritismo nos recorda que toda posse material
ou intelectual é empréstimo divino. Um dia, prestaremos contas do uso que
fizemos de nossas oportunidades, talentos e bens. Assim, buscar a justiça de
Deus é compreender que o verdadeiro valor não está no ter, mas no ser: ser
útil, ser irmão, ser solidário, ser justo.
Nas páginas da Revista Espírita (1858-1869),
Kardec frequentemente alerta contra o orgulho e o personalismo, lembrando que o
progresso espiritual resulta da prática do bem e da fidelidade à lei de amor e
justiça. Essa visão amplia o entendimento do Evangelho, mostrando que as
palavras de Cristo não são metáforas distantes, mas diretrizes práticas para o
cotidiano.
Conclusão
Buscar a justiça de Deus é uma tarefa diária. É
exercitar a consciência, cultivar a virtude e resistir às ilusões passageiras
do egoísmo e do orgulho. É entender que o reino de Deus não se encontra em
aparências externas, mas no íntimo de cada ser que se esforça por viver o amor,
a solidariedade e a fraternidade.
Ter “ouvidos de ouvir” é mais do que escutar: é
decidir, com liberdade e responsabilidade, seguir os padrões divinos de certo e
errado, que são, em última análise, o caminho da verdadeira felicidade.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
- BÍBLIA SAGRADA. Evangelho de Mateus, cap. 6, v. 33.
- Momento Espírita. Ouvindo com a alma. Disponível em: https://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=7512&stat=0.
- Organização Mundial da Saúde (OMS). World Mental Health Report.
Genebra: OMS, 2022.
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