domingo, 14 de setembro de 2025

PARAPSICOLOGIA E AS INTERPRETAÇÕES PESSOAIS: 
ENTRE A CIÊNCIA E O SECTARISMO
- A Era do Espírito -

Introdução

A trajetória humana no campo do conhecimento revela um padrão recorrente: a dificuldade de analisar novos fenômenos de forma imparcial. Esse problema não é exclusivo da religião ou da ciência, mas atinge todo processo de investigação. Quando surgem fatos novos, é comum que muitos aceitem sem exame ou rejeitem sem estudo, o que inevitavelmente conduz a distorções e confusões.

No Espiritismo, Allan Kardec preveniu esse risco estabelecendo o princípio da concordância universal dos ensinos dos Espíritos, de modo que nenhuma interpretação pessoal, isolada ou sectária, pudesse alterar o núcleo doutrinário. Já na Parapsicologia, campo científico que emergiu no século XX para estudar os fenômenos psíquicos, observa-se um problema semelhante: o excesso de interpretações pessoais moldadas por interesses materialistas ou religiosos.

A análise desse impasse nos convida a refletir sobre a relação entre ciência, espiritualidade e preconceitos, mostrando como a busca pela verdade requer rigor metodológico e desapego de visões pré-concebidas.

A Parapsicologia e os desvios interpretativos

A Parapsicologia, fundada por Joseph Banks Rhine na Universidade de Duke (EUA), apresentou ao mundo a possibilidade de estudar fenômenos como a percepção extra-sensorial (PES) e a psicocinesia com critérios estatísticos e laboratoriais. Para Rhine, esses estudos indicavam que a mente poderia agir além dos limites conhecidos da fisiologia, sugerindo a existência de um componente extra físico do ser humano.

Contudo, à medida que a Parapsicologia se expandia, surgiram diferentes interpretações. Alguns, como o francês Robert Amadou, reduziram os fenômenos ao campo da psicologia e da fisiologia, negando seu caráter espiritual. Outros, como certos grupos religiosos, tentaram transformar a Parapsicologia em instrumento de combate ao Espiritismo, apresentando explicações parciais ou até caricaturais.

No Brasil, durante os anos 1960, proliferaram cursos e institutos de Parapsicologia ligados a tendências confessionais. Muitos buscavam enquadrar os fenômenos paranormais em teorias de hipnose, reflexos condicionados ou simples charlatanismo, sem estudos consistentes e sem diálogo com pesquisas internacionais. Casos como o do médium José Arigó, alvo de interpretações reducionistas, ilustram como as análises pessoais podem distorcer a realidade em nome de agendas ideológicas.

O Espiritismo e o critério da universalidade

O Espiritismo, desde o século XIX, já enfrentava problema semelhante. Kardec advertia que os fenômenos mediúnicos não podiam ser interpretados a partir de opiniões individuais ou dogmáticas. Para evitar desvios, estabeleceu o critério da universalidade do ensino dos Espíritos, que só admite como princípios doutrinários as comunicações confirmadas de forma concordante, em diferentes lugares e por médiuns diversos.

Esse método protege a Doutrina contra distorções sectárias e permite que a investigação avance de modo seguro, preservando sua essência filosófica, científica e moral. Em contraste, a Parapsicologia, ao não contar com um critério semelhante, ficou vulnerável a interpretações pessoais que, muitas vezes, enfraquecem seu potencial de diálogo com a espiritualidade.

Dados atuais: ciência, psi e espiritualidade

Nas últimas décadas, pesquisas sobre experiências de quase-morte (EQMs), memórias de vidas passadas (como nos estudos de Ian Stevenson, na Universidade da Virgínia) e experimentos de telepatia (Universidade de Edimburgo) têm renovado o debate sobre a realidade dos fenômenos psíquicos. Embora nem sempre se apresentem como provas definitivas, tais estudos fortalecem a hipótese de que a consciência não se reduz ao cérebro.

Paralelamente, setores mais conservadores da ciência ainda buscam enquadrar esses fenômenos em explicações puramente fisiológicas ou psicológicas. Assim, repete-se o ciclo histórico: interpretações pessoais moldadas por paradigmas materialistas ou por interesses religiosos, em vez de uma análise aberta e rigorosa.

Conclusão

O problema das interpretações pessoais não é exclusivo da Parapsicologia nem do Espiritismo, mas um desafio humano constante. No entanto, enquanto a ciência parapsicológica ainda luta para se firmar em meio a disputas de paradigmas, o Espiritismo já oferece, desde o século XIX, um critério metodológico claro que permite separar a verdade das opiniões individuais.

Seja no laboratório ou no centro espírita, a busca pela verdade deve ser guiada pelo respeito aos fatos e pela abertura à transcendência. Afinal, como ensinou Kardec, a luz não pode ser abafada por preconceitos ou sistemas pessoais: cedo ou tarde, ela se impõe pela força da própria realidade.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1861.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • PIRES, José Herculano. “Parapsicologia e interpretações pessoais”. Anuário Espírita 1965. Instituto de Difusão Espírita.
  • RHINE, J. B. New Frontiers of the Mind. New York: Farrar & Rinehart, 1937.
  • STEVENSON, Ian. Twenty Cases Suggestive of Reincarnation. Charlottesville: University of Virginia Press, 1974.
  • GREYSON, Bruce. After: A Doctor Explores What Near-Death Experiences Reveal about Life and Beyond. New York: St. Martin’s Essentials, 2021.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

JOIO E TRIGO: O DISCERNIMENTO E A ESCOLHA - A Era do Espírito - Introdução A parábola do joio e do trigo, narrada por Jesus Cristo no Evan...