domingo, 28 de setembro de 2025

COMUNICAÇÃO, APRENDIZADO E ESPIRITISMO
A FORÇA DO VER E DO SENTIR
- A Era do Espírito -

Introdução

A afirmação — presente em muitos manuais de comunicação e em salas de aula — de que “somos 7 % comunicação verbal, 38 % tom de voz e 55 % gestos e postura” tornou-se um paradigma popular para enfatizar a importância do não verbal. Contudo, essa regra (conhecida como “modelo 7-38-55” ou regra de Mehrabian) é frequentemente aplicada de forma imprópria e generalizada. Ao revisitá-la com fontes confiáveis, podemos integrá-la a uma reflexão mais equilibrada, sobretudo quando a confrontamos com princípios da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec e com práticas de comunicação no meio espírita.

Neste artigo, revisitaremos criticamente esse modelo de comunicação, confrontando-o com evidências modernas, e examinaremos como os ensinamentos espíritas ampliam nosso entendimento sobre comunicação espiritual, visual e mediúnica.

O modelo 7-38-55: origem, limitações e uso indevido

Origem e escopo original

O famoso modelo (7 % verbal, 38 % voz, 55 % gesto) foi derivado de experimentos feitos por Albert Mehrabian nos anos 1960 para investigar como as pessoas interpretam sentimentos ou atitudes quando há inconsistência entre palavras, tom de voz e expressão facial.

Esses experimentos utilizaram estímulos muito restritos (palavras simples, entonações variáveis, expressões faciais) e foram aplicados em situações de ambiguidade emocional — por exemplo, quando alguém diz “talvez” com diferentes entonações e expressões faciais, os participantes são induzidos a inferir sentimento (gostar, neutralidade ou aversão).

Importante notar que Mehrabian não sustentou que, em toda comunicação, apenas 7 % do significado vem das palavras. Ele próprio advertiu que sua regra aplica-se estritamente ao contexto de comunicação de emoções e atitudes, em que há conflito entre forma verbal e não verbal.

Críticas e correções de uso

Várias análises e revisões mais recentes apontam que a regra 7-38-55 é frequentemente mal interpretada e aplicada de forma exagerada.

Estudos indicam que essa regra é uma distorção de experimentos específicos e que não pode ser generalizada para discursos, aulas ou textos escritos — em muitos contextos, o conteúdo verbal é essencial e insubstituível. Mehrabian, inclusive, criticou o uso automático dessa regra e lembrou que ela não se aplica a discursos normais ou a situações de comunicação informativa.

Logo, é prudente tratar a regra 7-38-55 como uma ilustração heurística — uma sugestão de quão potente pode ser a comunicação não verbal — e não como um dogma comunicacional absoluto.

Interpretação balanceada

O que se pode extrair de valor dessa regra é a lição de que, em situações de conflito entre o verbal e o não verbal, os receptores tendem a confiar mais no que observam no comportamento, no tom e na congruência global da mensagem. Ou seja: se alguém afirma algo com palavras, mas seu gesto, expressão facial ou entonação contradiz essa afirmação, o receptor dará mais peso ao não verbal.

Entretanto, em comunicação informativa e educativa (como palestras espíritas, aulas doutrinárias, exposições mediúnicas), o conteúdo verbal (ideias, argumentos, lógica) continua sendo fundamental — não pode ser negligenciado.

Psicologia das cores: o que as pesquisas apontam

Revisões sistemáticas e panorama recente

Uma revisão abrangente de pesquisas sobre cor e funcionamento psicológico (Elliot et al., 2015) conclui que há associações consistentes entre cores e estados emocionais, mas que essas associações dependem do contexto, da cultura, das experiências individuais e até do ambiente físico (luz, contraste).

Por exemplo:

·         O vermelho frequentemente está associado a excitação, alerta ou urgência, mas também pode evocar raiva ou agressividade em contextos inadequados.

·         O azul tende a ter efeitos calmantes e está ligado a confiança e serenidade em muitos estudos.

·         O cinza aparece como associado a estados emocionais neutros ou, em excesso, até à diminuição do ânimo, dependendo da luminosidade e combinação com outras cores.

Outra revisão sistemática (Jonauskaite et al., 2025) analisou mais de um século de estudos de cor e encontrou padrões de associação entre cores e emoções: cores claras tendem a emoções positivas de baixa ativação (azul, branco, verde), enquanto cores escuras tendem a emoções negativas de alta ativação (vermelho, preto). Ressalta-se, contudo, que muitas correspondências são associativas e não determinísticas.

Aplicação prudente

Essas revisões apontam que podemos usar as cores com propósito probatório — para reforçar sentimentos ou tornar o ambiente mais harmonioso — mas sempre considerando fatores contextuais: cultura local, iluminação, contraste, expectativas do público.

Em centros espíritas, por exemplo, um ambiente claro, com cores suaves (azul claro, verde claro, tons neutros) pode favorecer a serenidade e a concentração dos frequentadores, sem que isso garanta efeitos absolutos.

Comunicação, aprendizado e Espiritismo: síntese crítica

Comunicação: mais do que palavras

Embora o modelo 7-38-55 seja conhecido, ele nasceu de experimentos com emoções ambíguas e não se aplica automaticamente a todas as formas de comunicação. O que ele nos ensina é que, quando há conflito entre o que dizemos e como nos expressamos, a expressão facial, postura e tom tendem a prevalecer. Em palestras, aulas doutrinárias e exposições espíritas, o uso harmonioso entre conteúdo verbal e expressividade não verbal é essencial: o verbo clarifica, o gesto humaniza.

Aprendizado: o valor da participação

Os dados populares (20 % ouvindo, 50 % ouvindo e vendo, 80 % participando) não têm origem científica inequívoca, mas vêm de teorias de ensino e aprendizagem — como a aprendizagem ativa e a pedagogia participativa. Eles servem como guia: aprender não é apenas ouvir, mas interagir. No Espiritismo, os grupos de estudo, debates e questionamentos obedecem a esse princípio, conforme recomendado pelos primeiros adeptos da codificação e registrado na Revista Espírita.

Cores e ambiente: possibilidades com critério

As pesquisas modernas confirmam que as cores têm efeitos emocionais, mas não universais: variam conforme cultura, iluminação e contexto. Em ambientes espíritas, cores suaves e harmônicas podem favorecer a paz interior e a receptividade, mas não substituem uma comunicação clara e coerente.

Comunicação espiritual: além do visível

Para além da comunicação humana, o Espiritismo reconhece que os Espíritos transmitem por pensamento, imagens mentais, intuições e sentimentos. Nessa esfera espiritual, o “ver e sentir” se expande: o médium capta impressões sutis que não dependem de voz ou gesto humano. A sintonia moral e a elevação íntima são fatores determinantes nessa comunicação.

Conclusão revisitada

Ao unir critérios científicos contemporâneos com os princípios espíritas, evitamos dogmatismos e recorremos ao equilíbrio. A comunicação eficaz depende não de porcentagens mágicas, mas da congruência entre o que se diz, como se expressa e o ambiente em que ocorre. No Espiritismo, cultivar a coerência interior, seriedade no discurso e sintonia espiritual torna-se caminho para que o “ver e sentir” não sejam meros artifícios, mas expressão genuína da verdade que queremos transmitir.

Referências

  • Allan Kardec. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • Allan Kardec. Revista Espírita. 1858-1869.
  • Mehrabian, Albert. Silent Messages. Belmont, CA: Wadsworth, 1971.
  • Burgoon, J. K.; Guerrero, L. K.; Floyd, K. Nonverbal Communication. Routledge, 2016.
  • Elliot, A. J.; Maier, M. A.; Moller, A. C.; Friedman, R. (2015). “Color psychology: Effects of perceiving color on psychological functioning in humans”. Annual Review of Psychology, 66, 95–120.
  • Jonauskaite, D. et al. (2025). “One century of research on color and emotion: A systematic review”. Frontiers in Psychology.
  • Temple University Beasley School of Law. “The Seven Percent Delusion”.
  • Storytelling With Impact. “Mehrabian’s Communication Model: Beyond the 7-38-55 Rule”.
  • BusinessBalls. “Albert Mehrabian’s Communication Studies and the 7-38-55 Rule”.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O QUE TEM QUE SER SERÁ — LIÇÕES ESPÍRITAS SOBRE PROVAS, LIVRE-ARBÍTRIO E PERSEVERANÇA - A Era do Espírito - Introdução Vivemos em tempos d...