Introdução
A frase “dinheiro é sangue”, quando pronunciada,
pode soar estranha à primeira vista. No entanto, ao ser explicada, revela-se
uma metáfora poderosa: assim como o sangue não pode estagnar em nosso corpo sem
provocar doença ou morte, também o dinheiro, quando parado, perde sua função
social e vital.
Essa visão contrasta com o uso egoísta e predatório
da riqueza, que tantas vezes se converte em instrumento de exploração e
desigualdade. Na perspectiva espírita, o dinheiro não é um mal em si mesmo, mas
um recurso neutro, que adquire valor moral conforme o uso que dele se faz. É,
portanto, ferramenta de prova e oportunidade de serviço ao próximo.
O
Dinheiro como Sangue Social
Do ponto de vista biológico, o sangue circula pelo
corpo distribuindo oxigênio e nutrientes, eliminando resíduos e fortalecendo o
organismo contra infecções. Quando essa circulação se interrompe, instala-se a
doença.
Analogamente, o dinheiro tem papel vital na
circulação das riquezas sociais. Se retido de forma egoísta, gera concentração
e miséria. Se bem administrado, pode se converter em educação, saúde, trabalho
e dignidade.
A própria ciência econômica contemporânea reforça
esse princípio: a circulação de recursos é essencial para evitar a estagnação e
garantir o desenvolvimento sustentável.
A Visão
Espírita sobre a Riqueza
Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos
(questões 814-816), pergunta aos Espíritos sobre a desigualdade das riquezas. A
resposta é clara: as diferenças materiais existem como prova e expiação. O rico
é testado na administração do supérfluo, sendo chamado a praticar a caridade e
a justiça.
Na Revista Espírita (março de 1860), Kardec
analisou o papel dos bens terrenos, destacando que sua posse deve ser entendida
como um depósito confiado por Deus ao homem, que responderá pelo bom ou mau uso
deles. O apego material excessivo é visto como atraso espiritual, enquanto a
utilização solidária da riqueza gera progresso e mérito moral.
Assim, quando aplica-se a fortuna em educação,
acolhimento e profissionalização de jovens em risco, dá-se exemplo concreto de
que o dinheiro pode se transformar em sangue vivo, irrigando áreas de carência
social e fecundando vidas para o futuro.
O Dever
Moral da Circulação
O apego ao dinheiro, com medo de perdê-lo, equivale
à estagnação sanguínea: sufoca, adoece e paralisa. Em contrapartida, o
desprendimento consciente — que não significa desperdício, mas uso equilibrado
— garante que o recurso cumpra sua finalidade de promover o bem-estar coletivo.
No campo espiritual, essa atitude se traduz em
caridade efetiva, que não se resume à esmola imediata, mas busca oferecer meios
para que o outro se sustente dignamente. Cursos, moradia, educação e oportunidades
de trabalho são exemplos de investimento no progresso real do próximo e, por
consequência, da sociedade inteira.
Conclusão
A metáfora do dinheiro como sangue revela uma
verdade profunda: a vida social, assim como o corpo humano, depende de
circulação constante para se manter saudável. Estagnar os bens é favorecer a
desigualdade; fazê-los fluir é promover justiça e solidariedade.
À luz do Espiritismo, entendemos que cada recurso
que nos chega às mãos não nos pertence em definitivo, mas é empréstimo divino.
O uso que dele fazemos nos aproxima ou nos distancia das leis de amor, justiça
e caridade.
Dinheiro é sangue. Precisa circular, levando
oxigênio às regiões de miséria e esperança aos corações que aguardam novas
oportunidades. Quando assim acontece, a riqueza cumpre sua verdadeira função:
tornar-se bênção de vida frutífera para todos.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). Diversos
volumes.
- Momento Espírita. Dinheiro é sangue. Disponível em: https://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=7515&stat=0.
Acesso em: 19 set. 2025.
- PIKETTY, Thomas. O Capital no Século XXI. Rio de Janeiro:
Intrínseca, 2014.
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