Introdução
Nas relações humanas, tanto no ambiente
profissional quanto na convivência social, a comunicação é elemento essencial
de crescimento. Entre as ferramentas mais valorizadas no campo organizacional
encontra-se o feedback, definido como o retorno oferecido a alguém
acerca de seu comportamento ou desempenho, com a finalidade de aprimoramento.
No entanto, surge a questão: até que ponto o feedback é aplicado de forma
construtiva e até que ponto se confunde com a maledicência — o vício de falar
mal dos outros, de julgar e de disseminar críticas destrutivas?
À luz da Doutrina Espírita codificada por Allan
Kardec, é possível distinguir esses dois caminhos: um voltado à edificação e ao
progresso moral, outro à dispersão e ao atraso espiritual. Este artigo propõe
uma reflexão racional e moral sobre essa diferença, utilizando como base a
Codificação Espírita e a Revista Espírita (1858-1869), além de obras
complementares do Espiritismo.
Feedback:
instrumento de progresso
No campo organizacional, o feedback cumpre a função
de orientar, corrigir e estimular o aperfeiçoamento contínuo. Essa função
encontra paralelo nos ensinamentos dos Espíritos, que afirmam:
“Quem
pode e sabe mais deve auxiliar e esclarecer” (O Livro dos Espíritos,
questão 888a).
Ou seja, corrigir com bondade e orientar com
clareza é um dever de fraternidade. O feedback verdadeiro não humilha, mas
encoraja. Não julga, mas instrui. É um ato de caridade moral, pois auxilia o
outro a se conhecer melhor e a desenvolver suas potencialidades.
Nos Evangelho segundo o Espiritismo,
capítulo X, Jesus nos convida à indulgência para com as faltas alheias. A
indulgência é, em essência, a forma superior de feedback, pois corrige sem
ferir, orienta sem menosprezar.
Maledicência:
obstáculo à evolução
Por outro lado, a maledicência, já combatida por
Jesus ao afirmar “atire a primeira pedra
aquele que estiver sem pecado” (João 8:7), revela-se como veneno sutil das
relações humanas.
Na Revista Espírita de 1862, Kardec cita
Júlio Olivier, que descreve como a calúnia e a maledicência podem destruir
laços de confiança, espalhando suspeitas e desconfianças pelo simples prazer de
atacar. Nesse sentido, a maledicência não constrói: desagrega, desanima e fere.
Para o Espiritismo, esse hábito nocivo prende o
Espírito às zonas inferiores da vida moral, pois o mantém ocupado em apontar as
faltas dos outros sem reconhecer as próprias imperfeições. Trata-se de um
desvio da lei de progresso, que exige esforço individual e cooperação coletiva.
A
distinção essencial
A diferença entre feedback e maledicência está,
portanto, na intenção e no resultado:
- Feedback: busca o crescimento do outro, gera reflexão
e amadurecimento, promove a caridade moral e fortalece os laços de
confiança.
- Maledicência: busca expor ou diminuir, gera ressentimento,
espalha discórdia e afasta os indivíduos do caminho da fraternidade.
Como ensina o Espírito Emmanuel em Pensamento e
Vida, toda palavra é semente: pode ser semente de luz, se edificante; ou de
sombra, se impregnada de malícia.
Conclusão
Ao analisarmos a prática do feedback à luz do
Espiritismo, compreendemos que ele pode ser um poderoso instrumento de
caridade, capaz de auxiliar no progresso de indivíduos e comunidades. Mas, para
isso, precisa estar livre da maledicência, que é sempre destrutiva.
A tarefa que nos cabe é vigiar nossa linguagem e
nossas intenções, lembrando que cada palavra pode ser bênção ou veneno. O
feedback verdadeiro é um exercício de amor e responsabilidade. A maledicência,
ao contrário, é fuga da caridade e atraso espiritual.
Portanto, quando falarmos, que nossas palavras
sejam “sim, sim; não, não” (Mateus
5:37), sempre claras, honestas e impregnadas de amor fraterno. Assim estaremos
contribuindo não apenas para o crescimento de uma equipe ou de uma organização,
mas para a construção de um mundo mais justo e espiritualizado.
Referências
- BÍBLIA SAGRADA. João 8:7; Mateus 5:37.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
- XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e Vida. Pelo Espírito
Emmanuel.
- FIRMINO, Marcelo. A Diferença entre Feedback e Maledicência.
ABRADE – Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo.
- MOSCOVICE, Fela. Desenvolvimento Interpessoal. 1995.
- ARAÚJO, Ane. Coaching Executivo: a conquista da liderança.
1999.
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