domingo, 14 de setembro de 2025

FENÔMENOS PSÍQUICOS E TEORIAS CONTRADITÓRIAS
ENTRE A NEGAÇÃO E A CRENÇA ACRÍTICA
- A Era do Espírito -

Introdução

A humanidade sempre se encontrou dividida diante de fatos novos, sobretudo quando estes desafiam os limites da ciência tradicional ou confrontam crenças religiosas estabelecidas. De um lado, encontramos aqueles que aceitam tudo sem exame, de outro, os que negam sistematicamente sem sequer analisar os fatos. Esse comportamento se repete na história do pensamento humano, revelando tanto a necessidade de progresso intelectual quanto a persistência da ignorância diante das leis universais ainda desconhecidas.

Os fenômenos psíquicos — manifestações de ordem espiritual ou mediúnica — constituem um dos campos mais férteis para se observar esse impasse. Registrados em diferentes culturas e épocas, eles foram alvo de fascínio, medo e controvérsia. Mas, como advertiu Allan Kardec, negar os fatos sem estudo ou aceitá-los sem discernimento é um erro igualmente prejudicial. O Espiritismo surgiu justamente para oferecer uma interpretação racional e metódica, distinguindo-se de hipóteses fantasiosas e de dogmas inflexíveis.

Fenômenos psíquicos na história: entre condenações e reducionismos

Desde os primeiros séculos do cristianismo, os fenômenos espirituais foram objeto de interpretações contraditórias. Concílios como o de Elvira e o de Ancyra (século IV) condenaram as práticas mediúnicas como demoníacas, enquanto, séculos depois, o Canon Episcopi (século X) classificou tais manifestações como ilusões sem realidade objetiva. Já na Idade Moderna e Contemporânea, com o avanço da ciência, surgiram explicações materialistas igualmente reducionistas, que oscilavam entre atribuí-los a doenças nervosas, fraudes, histeria ou alucinações coletivas.

Em pleno século XIX, quando os fenômenos de Hydesville e as mesas girantes atraíram a atenção do público, a Academia de Ciências da França os analisou sem maior rigor metodológico. Chegou-se a propor absurdos como a “lesão muscular” ou “movimentos inconscientes” como causa de manifestações que desafiavam as próprias leis físicas conhecidas. Nesse período, multiplicaram-se teorias que ora negavam, ora admitiam parcialmente os fatos, mas sempre afastando a hipótese da intervenção de inteligências extracorpóreas.

A contribuição da Doutrina Espírita

Foi nesse cenário de contradições que o Espiritismo, codificado por Allan Kardec, se destacou por adotar um método de observação, comparação e dedução. Longe de aceitar tudo cegamente, Kardec questionava os Espíritos, submetia comunicações a critérios de universalidade e coerência, e rejeitava explicações obscuras ou dogmáticas.

A Doutrina mostrou que os fenômenos psíquicos não são frutos de ilusões, mas expressões de uma realidade espiritual que interage com o mundo material. Kardec não se contentou em explicar o “como” dos fatos, mas buscou também o “porquê”, elucidando sua função moral e educativa. A causa produtora dos fenômenos, segundo o Espiritismo, está na ação dos Espíritos sobre os fluidos e sobre os médiuns, em conformidade com leis naturais ainda pouco conhecidas pela ciência materialista.

Essa abordagem diferencia-se tanto do misticismo quanto do ceticismo radical:

  • Do misticismo, porque não se apoia em dogmas inquestionáveis, mas em fatos observáveis;
  • Do materialismo, porque não reduz a realidade a processos fisiológicos ou ilusórios.

Dados atuais: ciência e espiritualidade em diálogo

Na atualidade, os fenômenos psíquicos continuam a despertar interesse. Pesquisas sérias em universidades de ponta, como na Universidade de Virginia (EUA) e na Universidade de Edimburgo (Reino Unido), estudam experiências de quase-morte (EQMs), memórias de vidas passadas e percepções extra-sensoriais. Embora parte da comunidade científica ainda se mantenha cética, cresce a produção de evidências que apontam para a sobrevivência da consciência além da morte física.

Por outro lado, teorias contraditórias continuam a surgir, muitas vezes repetindo antigos reducionismos sob novas roupagens — como atribuir tudo à “atividade cerebral residual” ou a “ilusões cognitivas”. Assim como no século XIX, convivem lado a lado explicações limitadas e interpretações mais abrangentes, revelando que a humanidade ainda caminha lentamente para compreender leis espirituais que regem tais manifestações.

Conclusão

A análise dos fenômenos psíquicos mostra que a humanidade oscila historicamente entre aceitar sem exame e negar sem estudo. O Espiritismo, com sua proposta racional e científica, continua oferecendo um caminho equilibrado, pautado na observação e na busca da verdade.

As teorias contraditórias podem prevalecer por algum tempo, mas não resistem ao exame dos fatos. Como lembrou Allan Kardec, “a verdade é como a luz: pode ser velada, mas nunca apagada”. Os fenômenos psíquicos, longe de simples curiosidades, são convites à reflexão sobre a imortalidade da alma e sobre a responsabilidade moral que dela decorre.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1861.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • SCHUTEL, Cairbar. “Os fenômenos psíquicos e as teorias contraditórias”. Revista Internacional de Espiritismo, março de 1929.
  • GREYSON, Bruce. After: A Doctor Explores What Near-Death Experiences Reveal about Life and Beyond. New York: St. Martin’s Essentials, 2021.
  • TART, Charles. The End of Materialism: How Evidence of the Paranormal Is Bringing Science and Spirit Together. Oakland: New Harbinger, 2009.

 

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