domingo, 14 de setembro de 2025

FLUIDO CÓSMICO UNIVERSAL E A NATUREZA DOS ESPÍRITOS:
FUNDAMENTOS DA CRIAÇÃO SEGUNDO A DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec no século XIX, apresenta uma concepção abrangente e racional sobre a origem e a estrutura do universo. Um dos conceitos fundamentais dessa cosmovisão é o do Fluido Cósmico Universal (FCU) — elemento primordial de onde derivam todas as formas de matéria e energia.

Além de explicar a constituição da matéria, o Espiritismo aborda a natureza e a origem dos Espíritos, seres inteligentes da criação, bem como o vínculo entre Espírito e matéria por meio do perispírito. Esses temas encontram-se sistematizados em O Livro dos Espíritos, especialmente no Livro Segundo — Mundo Espírita ou dos Espíritos (Capítulo I, seções I a IV).

Este artigo explora tais fundamentos, articulando-os ao papel do Fluido Cósmico Universal e às explicações publicadas por Allan Kardec na Revista Espírita (1858-1869), compondo um quadro coerente da Criação e da existência espiritual.

1. O Fluido Cósmico Universal: Matéria Primordial da Criação

Segundo a Codificação Espírita, o FCU é o elemento primitivo de onde provêm todas as coisas. Criado por Deus, é a matéria elementar que, sob diversas modificações e combinações, dá origem tanto às substâncias conhecidas quanto às que ainda nos escapam à percepção.

Em A Gênese (cap. XIV, item 2), Kardec afirma que o FCU é o “veículo do pensamento divino”, a substância sobre a qual a vontade de Deus atua para formar os mundos e todos os seres vivos. Ele constitui, assim, a base da matéria tangível e das formas sutis da matéria espiritual.

A Revista Espírita reforça esse conceito em diversas passagens, sublinhando que o FCU não é o próprio Deus, mas procede d’Ele como instrumento de Sua ação criadora. Pela manipulação desse fluido, segundo leis naturais, se dá a formação, a transformação e a evolução de tudo o que existe no Universo.

2. Origem e Natureza dos Espíritos

Em O Livro dos Espíritos (questões 76 a 83), os Espíritos Superiores ensinam que os Espíritos são os seres inteligentes da Criação. Criados simples e ignorantes, sem conhecimentos ou virtudes adquiridas, possuem, no entanto, potencial ilimitado para alcançar a sabedoria e a perfeição.

Ao longo de múltiplas experiências e aprendizados, desenvolvem suas faculdades intelectuais e qualidades morais, ascendendo das ordens inferiores às mais elevadas, até o estado de Espíritos puros.

Kardec explica que os Espíritos não são formados da matéria grosseira, mas de uma substância sutil, derivada também do FCU. Essa distinção é fundamental: a matéria comum é inerte e temporária, enquanto o Espírito é ativo, inteligente e imortal. Seus envoltórios — corpos físicos ou sutis — são transitórios, subordinados às leis divinas de evolução.

3. O Mundo Espiritual: Morada Primordial dos Espíritos

De acordo com Kardec, o mundo espiritual é o mundo primitivo e permanente, enquanto o mundo corporal é secundário e transitório, servindo apenas como instrumento para o progresso do ser imortal (O Livro dos Espíritos, questões 85, 132 e 222).

O retorno ao mundo espiritual após a desencarnação revela que a verdadeira vida é a espiritual, ao passo que a existência corpórea é apenas uma etapa de aprendizado.

Relatos publicados na Revista Espírita descrevem o plano espiritual como dinâmico, organizado e hierarquizado, habitado por Espíritos em diferentes graus de progresso. Cada um ocupa posição compatível com seu nível de evolução, avançando conforme se purifica moralmente e se desenvolve intelectualmente.

4. Forma e Ubiquidade dos Espíritos

Conforme O Livro dos Espíritos (questões 88 a 92), os Espíritos não possuem forma material fixa. Sua essência é imaterial e fluídica. No entanto, podem tornar-se perceptíveis assumindo formas aparentes, geralmente humanas, mediante o perispírito, em função de sua vontade ou da necessidade de identificação.

Por não estarem submetidos às leis da gravidade ou do tempo, os Espíritos deslocam-se pela força do pensamento. Essa faculdade lhes confere mobilidade e a possibilidade de ubiquidade aparente, fenômeno descrito por Kardec na Revista Espírita: o Espírito pode transmitir simultaneamente seu pensamento a diferentes pontos, sem se dividir em múltiplos seres.

5. O Perispírito: Elo entre Espírito e Matéria

O perispírito é o envoltório semimaterial do Espírito, formado a partir do FCU (O Livro dos Espíritos, questão 93). Ele se adapta às condições do mundo em que o Espírito habita, variando em densidade e sutileza.

Funções principais do perispírito:

  • Permitir a ação do Espírito sobre a matéria;
  • Servir de canal entre corpo e Espírito, transmitindo sensações e impressões;
  • Preservar a individualidade após a morte, possibilitando reconhecimento e memória no plano espiritual.

Em O Livro dos Médiuns e na Revista Espírita, Kardec documenta a plasticidade do perispírito, que pode condensar-se ou rarefazer-se, explicando fenômenos como aparições, materializações e mudanças de aparência.

Além disso, o perispírito desempenha papel essencial:

  • Na encarnação, liga o Espírito ao corpo físico, servindo de molde para sua organização;
  • Na desencarnação, se desprende progressivamente, conduzindo o Espírito de volta à vida espiritual.

Assim, o perispírito assegura a continuidade da identidade pessoal e a interação entre Espírito e matéria.

Conclusão

A Doutrina Espírita apresenta uma visão lógica e harmoniosa da Criação: tudo se origina no Fluido Cósmico Universal, matéria primordial submetida à vontade divina.

Os Espíritos, criados simples e ignorantes, percorrem um processo evolutivo contínuo, no qual a vida corpórea é apenas uma etapa educativa. O mundo espiritual é sua morada primitiva e definitiva.

O perispírito, formado do mesmo elemento cósmico, constitui o elo indispensável entre o princípio inteligente e a matéria, garantindo a preservação da individualidade e explicando a continuidade da vida além da morte.

Esses princípios, expostos por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, A Gênese e na Revista Espírita, revelam um universo regido pela inteligência e pelo amor divinos, no qual a evolução conduz todos os seres ao destino de perfeição.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2º Livro: Mundo Espírita ou dos Espíritos. Cap. I – Dos Espíritos.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 2ª Parte: Das Manifestações Espíritas.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. Cap. XIV – Os Fluidos.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos (1858-1869).
  • KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 2ª Parte – Manifestações dos Espíritos.

 

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