Introdução
A
Doutrina Espírita nos recorda que somos Espíritos imortais, criados simples e
ignorantes, destinados à perfeição relativa por meio do esforço próprio e da
lei do progresso (O Livro dos Espíritos, q. 115). Nossas reencarnações
representam etapas sucessivas de aprendizado, nas quais utilizamos o corpo
físico — “uniforme de serviço” — para o cumprimento de tarefas na Terra.
Se
cuidamos com zelo do corpo, realizando consultas médicas, prevenções,
tratamentos e cirurgias, também precisamos cuidar daquilo que realmente somos:
Espíritos em evolução. Essa dimensão espiritual, reconhecida pela Organização
Mundial da Saúde desde 1998 como parte integrante do conceito de saúde, não
pode ser esquecida. É sobre ela que recai a proposta de uma “higiene da alma”.
1. O corpo físico como instrumento de evolução
Jesus nos
ensinou que o corpo é “templo do Senhor” (Jo 2:21). Joanna de Ângelis, por sua
vez, o define como “veículo com que a Divindade honra o ser, facultando-lhe a
ascensão aos planos celestes” (Messe de Amor).
Assim, se
lavamos o corpo diariamente, prevenimos doenças e recorremos à Medicina sempre
que necessário, também devemos aplicar medidas equivalentes à nossa vida
espiritual, pois o Espírito é a causa e o corpo, efeito. A violação das leis
divinas gera desequilíbrios íntimos que se refletem em enfermidades somáticas,
como advertiu Kardec em A Gênese, ao falar da influência moral sobre a
saúde.
2. A higiene da alma: fundamentos espíritas
Angel
Aguarod, em Pequenos e grandes problemas, lembra que a higiene mais importante
é a da alma, caracterizada por uma vida isenta de vícios e protegida contra as
paixões inferiores. Inspirados nessa visão, podemos pensar em práticas
espirituais equivalentes às medidas de cuidado físico:
- Médico espiritual: Jesus, que nos prescreve o
Evangelho como remédio eterno.
- Exames preventivos: o autoconhecimento,
recomendado por Kardec em O Livro dos Espíritos (q. 919), como meio
mais eficaz para a reforma íntima.
- Tratamentos: oração, estudo edificante,
trabalho no bem e disciplina do pensamento.
- Aparelhos auxiliares: moderação no falar
(mordaça da maledicência), atenção fraterna (aparelhos auditivos
espirituais), paciência e caridade (muletas morais).
- Vacinas espirituais: o amor e o estudo das leis
divinas, que fortalecem contra recaídas em erros reincidentes.
Esses
recursos promovem não apenas equilíbrio íntimo, mas também previnem distúrbios
de ordem obsessiva, que, segundo Kardec (Revista Espírita, 1863),
derivam de sintonia infeliz entre Espíritos desencarnados e encarnados.
3. Corpo e Espírito: interação constante
A ciência
médica já admite a influência de fatores emocionais e espirituais sobre a saúde
física. O Espiritismo vai além: ensina que toda infração à lei divina repercute
no organismo. André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier, descreve
minuciosamente em Nos Domínios da Mediunidade os impactos fluídicos da
mente desequilibrada sobre o corpo.
Assim, a
higiene da alma não é apenas um ideal abstrato: é medida concreta de
preservação da saúde integral. Cultivar pensamentos elevados, manter hábitos
morais sadios e agir com bondade são tão importantes quanto seguir dietas ou
tomar medicamentos.
Conclusão
A higiene
espiritual é condição indispensável para a evolução do ser humano. Cuidar do
corpo é dever; cuidar da alma, necessidade essencial. A Doutrina Espírita nos
mostra que a verdadeira saúde nasce da harmonia entre corpo e Espírito,
sustentada pela vivência do Evangelho de Jesus.
Embora o
caminho exija paciência e perseverança, podemos realizá-lo com o apoio dos
Benfeitores espirituais e, sobretudo, de nosso Irmão Maior, Jesus, que nunca
nos abandona. Sejamos, pois, diligentes na prática do bem, pois a higiene da
alma é a maior garantia de paz interior e de progresso espiritual.
Referências
- Allan Kardec. O Livro dos
Espíritos. FEB, ed. histórica.
- Allan Kardec. O Livro dos
Médiuns. FEB, ed. histórica.
- Allan Kardec. A Gênese.
FEB, ed. histórica.
- Allan Kardec. Revista
Espírita (1858–1869). FEB.
- Joanna de Ângelis
(espírito). Messe de Amor. Psicografia de Divaldo P. Franco.
- Aguarod, Angel. Pequenos
e grandes problemas.
- Xavier, Francisco Cândido
(André Luiz). Nos Domínios da Mediunidade. FEB, 2015.
- Organização Mundial da
Saúde. Definição de saúde (1998).
- Ghiggino, Ivone Molinaro. Higiene
da Alma. Artigo.
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