segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O PAPEL E AS VARIEDADES DOS MÉDIUNS
- A Era do Espírito -

Introdução

O estudo da mediunidade ocupa lugar central na Codificação Espírita. Desde os primeiros fenômenos das mesas girantes até a consolidação da filosofia espírita, os médiuns se apresentam como instrumentos indispensáveis à comunicação entre os dois mundos. No entanto, o exercício dessa faculdade exige atenção, disciplina e, sobretudo, discernimento quanto às influências que podem atuar sobre o médium e sobre a qualidade das mensagens transmitidas.

Na Revista Espírita de março de 1859, Allan Kardec aprofunda essa questão, descrevendo os diferentes tipos de médiuns, suas aptidões, os riscos do uso inadequado da faculdade e o valor moral da missão mediúnica. Este artigo busca retomar esses pontos à luz das demais obras da Codificação, destacando a importância do estudo e da responsabilidade que recaem sobre aqueles que servem de intérpretes dos Espíritos.

Todos Somos, Mais ou Menos, Médiuns

Kardec ensina, tanto na Revista Espírita quanto em O Livro dos Médiuns (2ª parte, cap. XIV, item 159), que todos os homens são médiuns em maior ou menor grau, pois todos sofrem a influência dos Espíritos. Contudo, convencionou-se aplicar esse título apenas aos que possuem uma faculdade mais patente, capaz de produzir efeitos ostensivos.

Essa observação revela que a mediunidade não é privilégio, mas condição natural do ser humano. Em Obras Póstumas (Primeira Parte, tópico 6), Kardec reforça que essa faculdade é inerente ao homem, constituindo-se em lei universal que aproxima o plano material ao espiritual.

Variedades de Médiuns

A experiência demonstrou que as aptidões mediúnicas variam, dando origem a diferentes categorias. Entre elas, destacam-se:

  • Médiuns de efeitos físicos: produzem fenômenos materiais, como ruídos, movimentos de objetos ou mesas girantes. Geralmente, Espíritos de ordem inferior se utilizam deles, embora Espíritos superiores possam recorrer a esses fenômenos para fins instrutivos ou de convicção inicial.
  • Médiuns de comunicações inteligentes: subdividem-se em várias classes, como psicógrafos (escreventes), falantes, auditivos, videntes, poetas, músicos e poliglotas.

O mais comum é o médium psicógrafo, que pode ser:

  1. Mecânico – quando a mão se move independentemente da vontade do médium, sem que ele tenha consciência prévia do conteúdo.
  2. Intuitivo – quando o Espírito age sobre o pensamento do médium, transmitindo ideias que este percebe como se fossem suas. O médium atua como intérprete, consciente da mensagem, mas sem que o conteúdo lhe pertença.

A dificuldade natural para o médium intuitivo é distinguir o que provém de si mesmo do que lhe é inspirado. Kardec observa que a prática constante e as confirmações inesperadas — como informações desconhecidas do médium, mas verdadeiras — fortalecem a confiança na autenticidade da comunicação.

Aptidões Especiais e Limites da Faculdade

Um dos pontos ressaltados por Kardec é que os médiuns devem respeitar suas aptidões naturais. Nem todos são capazes de produzir poesia, música ou desenhos mediúnicos, ainda que não possuam formação artística. Os Espíritos escolhem instrumentos adequados, levando em conta não apenas o conhecimento, mas também a flexibilidade psíquica e moral do médium.

Assim, a mediunidade não deve ser forçada, nem transformada em objeto de vaidade. Cada médium deve desenvolver com humildade a faculdade que lhe foi confiada, lembrando o ensinamento de La Fontaine citado por Kardec: “forçando o nosso talento, nada faríamos com perfeição”.

A Missão Moral do Médium

Embora os efeitos físicos tenham desempenhado importante papel no início do Espiritismo, servindo como “vestíbulo da ciência”, Kardec lembra que os Espíritos superiores não se ocupam de movimentos de mesas ou pancadas senão de modo transitório, para atrair a atenção. O verdadeiro objetivo do intercâmbio espiritual é a transmissão de ensinamentos morais e filosóficos.

O Espírito São Luís, citado na Revista Espírita de março de 1859, adverte que o valor das reuniões espíritas não está nos fenômenos materiais, mas na seriedade, na busca da verdade e no cultivo da caridade. Abandonar comunicações instrutivas para buscar apenas manifestações físicas significa descer de patamar, trocando a companhia de Espíritos elevados pela influência de Espíritos levianos.

Assim, o médium é chamado a compreender que sua faculdade é missão e serviço. Quanto mais se dedica ao estudo, à moralização e à disciplina interior, mais atrai Espíritos esclarecidos e mais útil se torna à propagação do Espiritismo.

Conclusão

O estudo dos médiuns, iniciado por Kardec já nos primeiros anos da Revista Espírita, permanece atual. A mediunidade, sendo faculdade humana e universal, é campo de experiências diversas, mas só adquire real valor quando orientada pela razão e pela moral espírita.

O médium, como intérprete dos Espíritos, deve cultivar a humildade, a disciplina e a seriedade, evitando o orgulho e a curiosidade fútil. Reconhecer suas aptidões naturais, respeitar os limites de sua faculdade e buscar sempre a instrução moral são condições para que sua missão se realize em harmonia com os objetivos da Doutrina Espírita.

Referências

  • KARDEC, Allan. Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos. Ano 2, março de 1859.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1861.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 1890.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.

 

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