quarta-feira, 10 de setembro de 2025

O ESPIRITISMO EM MARCHA
PESQUISA, ATUALIZAÇÃO E FIDELIDADE A KARDEC
- A Era do Espírito -

Introdução

Durante doze anos de intenso trabalho, Hippolyte Léon Denizard Rivail – que adotou o pseudônimo Allan Kardec – dedicou-se à sistematização das comunicações com os Espíritos, oferecendo à Humanidade uma nova metodologia para a análise racional do invisível. Seu método baseou-se na observação, comparação e controle universal do ensino dos Espíritos, o que permitiu o surgimento de um corpo doutrinário sólido, coerente e de alcance universal.

A Revista Espírita (1858-1869) testemunha esse esforço contínuo de Kardec em conciliar fé e razão, filosofia e ciência, mediunidade e moralidade. Contudo, a própria obra do Codificador adverte: o Espiritismo não é estático. Ele deve acompanhar o progresso das ideias e dos conhecimentos humanos, permanecendo fiel aos seus princípios fundamentais, mas aberto ao diálogo com as novas descobertas.

Hoje, em meio a avanços científicos notáveis e a transformações sociais aceleradas, o desafio dos espíritas é preservar a essência da Doutrina e, ao mesmo tempo, mantê-la viva, dinâmica e capaz de responder às indagações contemporâneas.

Kardec e a Metodologia do Espírito

A codificação espírita não se limitou à reunião de mensagens espirituais. Kardec estabeleceu critérios claros de autenticidade: lógica, coerência, universalidade e conformidade com os princípios morais do Cristo. Essa postura metodológica garantiu que o Espiritismo não se tornasse um movimento místico, mas uma proposta de ciência filosófica e moral da espiritualidade.

Na Revista Espírita, encontramos diversos exemplos em que Kardec recusa comunicações por apresentarem contradições ou caráter duvidoso. O prudente conselho de Erasto, publicado em 1861, mantém-se atual: “Melhor repelir dez verdades do que admitir uma única mentira.”

O Desafio do Presente: Ciência, Pesquisa e Atualização

Apesar dessa herança metodológica, parte do movimento espírita atual afastou-se do espírito crítico e da vigilância recomendada pelo Codificador. Muitas vezes, observa-se a tendência de tratar a codificação espírita como intocável, quando o próprio Kardec previu a necessidade de revisões e complementações, caso a ciência viesse a demonstrar algo contrário ao que ele registrara.

A fidelidade as obras codificadas por Kardec não significam cristalização, mas, ao contrário, manter viva a sua orientação de que o Espiritismo deve dialogar constantemente com a ciência, a filosofia e a moral, discernindo, entre novas comunicações mediúnicas, o que realmente se harmoniza com os princípios da Doutrina.

Assim, duas rotinas se fazem indispensáveis:

  1. O diálogo permanente com as ciências humanas e naturais, identificando os avanços que confirmem ou ampliem a visão espírita do ser e da vida.
  2. A atualização responsável dos conceitos espíritas, feita com base na metodologia espírita, sem afastar-se dos princípios fundamentais da Doutrina dos Espíritos: Deus, Espírito, imortalidade, comunicabilidade, pluralidade das existências, pluralidade dos mundos, progresso e livre-arbítrio.

A Responsabilidade do Espírita Contemporâneo

Cabe ao espírita de hoje retomar a postura investigativa do Mestre de Lyon. É tarefa individual e coletiva distinguir o “joio do trigo” na produção mediúnica, não se deixando levar por mensagens que, ainda que belas, contradizem a lógica, a moral e os princípios fundamentais do Espiritismo.

Mais ainda, é necessário vencer o preconceito de considerar “heresia” qualquer estudo crítico das obras espíritas codificadas por Kardec. Como ciência em construção, a Doutrina Espírita deve permanecer em marcha, ajustando-se ao progresso das ideias e às necessidades espirituais da humanidade.

Kardec não buscava discípulos passivos, mas cooperadores lúcidos. Seu legado, portanto, não é apenas doutrinário, mas também metodológico: estudar, comparar, raciocinar, confrontar ideias e, acima de tudo, aplicar à vida prática os ensinamentos recebidos.

Conclusão

O futuro do Espiritismo depende da capacidade de seus seguidores em unir fidelidade e atualização. Ser fiel as obras espíritas codificadas por Kardec não é apenas repetir suas palavras, mas continuar sua obra, com coragem moral e rigor científico.

O Espiritismo permanece em marcha. E cada espírita consciente é chamado a ser trabalhador ativo nesse processo de investigação, discernimento e vivência do Evangelho à luz da razão.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • PEREIRA, Marcelo H. A Gnosis Espírita. Psicografia (por inspiração) de Herculano. 2013.

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