quarta-feira, 10 de setembro de 2025

A GUERRA INTERIOR E O EXERCÍCIO MORAL
- A Era do Espírito -

Introdução

O poeta Ferreira Gullar, em sua obra O Menino e o Arco-Íris, afirma que “estamos em guerra”, não apenas nas disputas externas e visíveis, mas, sobretudo, na guerra silenciosa e cotidiana que travamos ao lidar com desafios, frustrações e escolhas. De fato, a vida moderna, com suas exigências materiais e emocionais, coloca o ser humano diante de um campo de batalhas invisíveis, que exigem não apenas preparo físico, mas, principalmente, força moral e espiritual.

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec no século XIX, ilumina essa realidade ao revelar que a verdadeira luta não está apenas na conquista dos bens transitórios, mas no desenvolvimento do espírito imortal. Assim, o exercício moral, comparável ao exercício físico para o corpo, torna-se essencial para o progresso individual e coletivo.

O Exercício Moral como Força do Espírito

O corpo físico, por meio da disciplina e da atividade, ganha resistência e vigor; o espírito, pela prática da moralidade, fortalece-se contra o desânimo, o egoísmo e as tentações do imediatismo. Esse fortalecimento não se limita ao intelecto lógico, mas alcança a inteligência moral, mencionada em O Livro dos Espíritos (questões 780 a 785), que impulsiona a humanidade à verdadeira civilização.

Enquanto o corpo é transitório, destinado à decomposição natural, o espírito é imortal e progride de forma contínua, carregando consigo os frutos das experiências vividas. Como esclarece Kardec na Revista Espírita (julho de 1860), os sofrimentos e provas não são punições arbitrárias, mas instrumentos educativos que despertam a consciência e conduzem ao aperfeiçoamento.

A Guerra Invisível do Cotidiano

A luta pelo sustento, pelas relações humanas e pela sobrevivência material reflete apenas parte da realidade existencial. A guerra mais profunda é travada no íntimo de cada ser, entre paixões e virtudes, entre o egoísmo e a fraternidade, entre a indiferença e a compaixão.

Essas batalhas silenciosas constituem o campo de provas e expiações descrito em O Evangelho segundo o Espiritismo. É ali que o livre-arbítrio se manifesta em sua plenitude: semear é sempre uma escolha, mas colher é uma lei natural inevitável.

Sofrimento e Evolução: Inteligência Além da Razão

O Espiritismo ensina que as dificuldades não têm por objetivo castigar, mas desenvolver faculdades superiores: paciência, resignação, compaixão, humildade. São os “tesouros que não enferrujam e que a traça não destrói”, mencionados por Jesus no Sermão da Montanha.

Essa pedagogia espiritual explica por que as bem-aventuranças, vistas sob a ótica material, podem parecer absurdas: como ser feliz na dor? Contudo, sob a ótica espiritual, revelam-se como lições profundas de libertação e progresso. Emmanuel, em A Caminho da Luz, reforça que cada experiência dolorosa representa um degrau na ascensão da humanidade, preparando-a para patamares mais elevados de consciência.

Conclusão

A guerra de cada dia não é apenas contra as carências materiais, mas, sobretudo, contra as nossas próprias imperfeições. O corpo serve de instrumento transitório, mas o espírito recolhe os frutos eternos de cada prova vencida.

Assim, a prática constante da moralidade — o exercício do perdão, da fraternidade e da fé raciocinada — é a verdadeira preparação para as batalhas da vida. O Espiritismo nos mostra que essa guerra invisível não é uma condenação, mas uma oportunidade redentora, pela qual aprendemos que o sofrimento, quando bem compreendido, é um poderoso agente de evolução.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • EMMANUEL (pelo médium Francisco Cândido Xavier). A Caminho da Luz. FEB, 1939.
  • FERREIRA GULLAR. O Menino e o Arco-Íris.
  • SANTOS, Dalmo Duque dos. A Habilidade e a Competência Espiritual.

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