sábado, 6 de setembro de 2025

O JULGAMENTO DOS OUTROS
E A VERDADE DA CONSCIÊNCIA
- A Era do Espírito -

Introdução

Na vida em sociedade, cedo ou tarde, todos experimentamos a amarga sensação de sermos incompreendidos, julgados com injustiça ou até mesmo tratados como vilões em narrativas que não nos pertencem. Esse fenômeno, tão humano quanto doloroso, revela a fragilidade das percepções individuais e a influência das paixões, feridas e limitações de cada um.

À luz da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, essa realidade ganha contornos mais amplos: somos Espíritos em processo de aprendizado, convivendo uns com os outros para testar, fortalecer e desenvolver as virtudes necessárias ao progresso moral. Assim, o julgamento alheio, ainda que injusto, pode ser oportunidade de crescimento espiritual, desde que saibamos ancorar-nos na consciência tranquila e na prática do bem.

O Julgamento Humano e as Ilusões da Aparência

Em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. X, item 11), Kardec destaca que, se a indulgência para com as imperfeições alheias é virtude, a severidade no julgamento dos outros é falta de caridade. Ainda assim, muitos se deixam levar pelas aparências ou pelas próprias dores para projetar nos outros a responsabilidade de suas inquietações.

Quando alguém nos pinta como vilão, isso fala mais da visão e da história interior dessa pessoa do que da realidade de quem somos. Trata-se, como ensina a Psicologia e confirma a experiência espírita, de projeção: ver no outro aquilo que ainda não se aprendeu a reconhecer ou superar em si mesmo.

A Revista Espírita (dezembro de 1861) traz relatos de Espíritos que, ao desencarnarem, reconheceram ter feito julgamentos apressados e injustos, percebendo tarde demais o mal que haviam causado. Esse testemunho reforça o ensinamento de Jesus: “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mateus 7:1).

A Força Interior e a Consciência Tranquila

O Espiritismo ensina que o verdadeiro tribunal do ser humano é a sua consciência. Em O Livro dos Espíritos (q. 621), os Espíritos afirmam que “a lei de Deus está escrita na consciência”. Assim, se nossa intenção é reta, se procuramos agir com honestidade e bondade, não devemos nos perturbar em excesso com as opiniões alheias.

Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XXVII, item 10), ressalta a importância da oração como refúgio e fortaleza para o Espírito. Ao invés de alimentar ressentimentos ou entrar em disputas intermináveis para defender nossa imagem, cabe-nos cultivar serenidade, confiar em Deus e deixar que nossas obras falem por nós.

É nesse ponto que o conselho de Emmanuel ecoa com clareza: “A melhor defesa é a consciência reta”. O que somos em essência, sustentado pela prática do bem, se sobrepõe às narrativas distorcidas que porventura se levantem contra nós.

Libertar-se da Necessidade de Aprovação

Uma das grandes armadilhas da vida é a busca constante pela aprovação alheia. O Espiritismo nos recorda que encarnamos para aprender, corrigir erros e avançar moralmente — e esse processo nem sempre será compreendido ou aceito por todos.

Em O Livro dos Médiuns (cap. XXIX, item 350), Kardec esclarece que a transformação da humanidade se dará gradualmente, pelo aperfeiçoamento dos indivíduos. Nesse caminho, os que tentam viver de acordo com valores espirituais inevitavelmente enfrentarão incompreensão, quando não hostilidade.

Jesus mesmo advertiu: “Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem... Regozijai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus” (Mateus 5:11-12). O Mestre, incompreendido e acusado injustamente, mostrou que a verdadeira grandeza está em manter-se fiel ao amor, mesmo diante da calúnia e da perseguição.

Considerações Finais

Não somos o vilão da nossa própria vida, ainda que a narrativa de outro nos coloque nesse papel. A Doutrina Espírita nos orienta a separar a opinião transitória dos homens da verdade perene que habita nossa consciência.

A grande lição é viver de modo íntegro, com coragem e serenidade, protegendo nossa energia contra o ressentimento e mantendo o coração firme na prática do bem. O julgamento dos outros é passageiro; o testemunho de nossa consciência, porém, nos acompanha eternamente.

Assim, quando nos sentirmos alvo de incompreensões ou acusações injustas, lembremo-nos do ensinamento de Kardec: “A verdadeira superioridade é a que resulta da prática efetiva da caridade e da humildade” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VII, item 11). Eis a rota segura para caminhar com paz, sem se perder nas sombras da ignorância alheia.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.
  • KARDEC, Allan. A Gênese.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • XAVIER, Francisco Cândido (psicografias de Emmanuel). Fonte Viva. Federação Espírita Brasileira.
  • XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. Federação Espírita Brasileira.

 

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