segunda-feira, 29 de setembro de 2025

A VISÃO ESPÍRITA DOS SONHOS
ENTRE O INCONSCIENTE E A VIDA ESPIRITUAL
- A Era do Espírito -

Introdução

Desde a Antiguidade, os sonhos fascinam a humanidade. Povos antigos os interpretaram como mensagens divinas, presságios ou manifestações do inconsciente. No campo da ciência, especialmente após Freud, foram analisados como expressões de desejos reprimidos e dinâmicas psíquicas. Entretanto, a Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, amplia a compreensão desse fenômeno, mostrando que o sonho não se reduz a um simples produto cerebral, mas pode ser também a expressão da atividade da alma durante o sono.

O Espiritismo propõe que, durante o repouso do corpo, o Espírito experimenta um estado de liberdade relativa, em que pode reencontrar outros Espíritos, visitar lugares e até mesmo ter lampejos do futuro, sempre segundo a permissão das Leis Divinas.

O sonho como libertação do Espírito

Em O Livro dos Espíritos, encontramos ensinamentos fundamentais sobre o sono e os sonhos. Na questão 401, os Espíritos afirmam:

“Durante o sono, afrouxam-se os laços que prendem a alma ao corpo, e, não precisando este da presença dela, ela se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos.”

Assim, os sonhos não são meras alucinações, mas podem refletir a realidade espiritual em que o ser se encontra temporariamente. Algumas vezes, tratam-se apenas de imagens fragmentadas da memória ou impressões fisiológicas; outras vezes, revelam experiências autênticas vividas pelo Espírito em liberdade parcial.

Tipos de sonhos na visão espírita

Allan Kardec e a tradição espírita classificam os sonhos em diferentes categorias:

  • Sonhos fisiológicos: relacionados a estímulos orgânicos e cerebrais.
  • Sonhos pantomnésicos: recordações do passado que emergem da memória profunda.
  • Sonhos premonitórios: percepções do futuro, sempre subordinadas à permissão divina e ligadas às causas presentes.
  • Sonhos espirituais: experiências reais no plano espiritual, em que o Espírito interage com outros seres desencarnados ou encarnados.

Essa classificação mostra que nem todo sonho tem o mesmo valor ou origem. A análise deve ser feita com prudência, unindo discernimento e fé raciocinada.

O sonho como revelador do futuro?

Um dos aspectos mais instigantes é a possibilidade dos sonhos proféticos. Lincoln teria sonhado com o próprio velório antes de ser assassinado; Nostradamus deixou predições que intrigam estudiosos até hoje. Kardec, em A Gênese (cap. XVI), discute a “Teoria da Presciência”, explicando que o futuro absoluto não está determinado, mas alguns acontecimentos podem ser previstos como desdobramentos naturais das causas já em curso.

Portanto, o sonho profético não é contrário ao livre-arbítrio, mas uma intuição das consequências prováveis de escolhas e situações já estabelecidas.

Ciência, psiquismo e Espiritismo

A ciência moderna confirma que os sonhos estão ligados a processos neurológicos, especialmente na fase REM (rapid eye movements), quando há intensa atividade cerebral. Entretanto, os relatos de experiências lúcidas, sonhos compartilhados e memórias recuperadas durante o sono indicam que há mais do que simples descargas elétricas.

O Espiritismo contribui ao considerar o homem em sua totalidade — corpo, perispírito e Espírito — e ao compreender os sonhos como uma ponte entre o mundo material e o espiritual.

Conclusão

O estudo dos sonhos, à luz do Espiritismo, revela uma dimensão mais profunda da vida psíquica. Eles não são apenas símbolos do inconsciente, mas também experiências reais da alma liberta temporariamente dos laços da matéria. Cabe-nos interpretá-los com equilíbrio, sem superstição nem reducionismo materialista, lembrando que Deus nos concede, mesmo durante o sono, oportunidades de aprendizado, reencontros e preparação para a vida espiritual.

Como disse Kardec na Revista Espírita (1860, julho):

“Os sonhos são um dos meios que a alma possui para entrar em relação com o mundo invisível.”

Assim, compreender o sonho é compreender um pouco mais da própria imortalidade do Espírito.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos (1858-1869).
  • LOUREIRO, Carlos Bernardo. A Visão Espírita do Sono e dos Sonhos. Matão-SP: O Clarim.
  • FORMIGA, Luiz Carlos D. “A Visão Espírita dos Sonhos”. Revista Internacional de Espiritismo, Ano LXXIV, n. 1, Matão, fevereiro de 1999.

 

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