Introdução
O ser
humano pode ser compreendido sob múltiplos olhares: científico, filosófico,
religioso ou holístico. Cada abordagem privilegia uma dimensão distinta da
existência. Contudo, nas últimas décadas, um ponto de convergência tem emergido
com força: a compreensão do componente energético do ser humano e suas
interfaces com a natureza e com outros seres.
A ciência
moderna, em especial a física quântica e os estudos sobre bioeletromagnetismo,
começa a admitir que os processos vitais não podem ser explicados apenas pela
visão mecanicista do corpo físico. A espiritualidade, por sua vez, há muito
tempo sustenta que o ser humano é mais do que matéria — é espírito, energia e
consciência. Nesse campo, o Espiritismo, codificado por Allan Kardec no século
XIX, oferece contribuições originais ao relacionar a dimensão energética do ser
humano ao perispírito, elemento de ligação entre o corpo material e o
espírito imortal.
O Ser Humano e seu Campo Energético
O
Espiritismo apresenta o ser humano como um ser tríplice: espírito, perispírito
e corpo físico. O perispírito é descrito como o envoltório semimaterial
que serve de mediador entre o espírito e o corpo, sendo constituído a partir do
fluido cósmico universal, elemento primordial da criação (O Livro dos
Espíritos, questões 93 a 95).
Segundo a
codificação espírita e a Revista Espírita, o perispírito possui
propriedades sutis que permitem a assimilação, transformação e emissão de
energias. Dessa forma, cada indivíduo está em constante troca vibratória com o
meio em que vive. Essa interação explica, em parte, porque estados mentais e
emocionais afetam diretamente a saúde física e psíquica.
Pensamento como Força Vibratória
O
pensamento não é apenas um fenômeno neurológico. Ele é, antes de tudo, uma emissão
vibratória que se projeta no ambiente e atrai forças semelhantes. Kardec já
observava que o pensamento é uma espécie de “raio” ou “fluido” que atinge tanto
outros espíritos quanto pessoas encarnadas (Revista Espírita, 1865).
Esse
mecanismo cria o que poderíamos chamar de filtro vibratório: absorvemos
energias compatíveis com nosso estado interior. Se estamos em equilíbrio e
cultivando bons sentimentos, atraímos energias saudáveis; se, ao contrário, nos
deixamos levar por pensamentos de ódio, pessimismo ou desequilíbrio,
sintonizamos com forças da mesma natureza.
Ciência, Espiritismo e Mentalização Positiva
Estudos
atuais da psicologia positiva e das neurociências confirmam que emoções e
pensamentos influenciam a saúde. Pesquisas sobre epigenética mostram que
o estado mental pode alterar a expressão genética, impactando a imunidade e a
longevidade. Assim, conceitos antes considerados místicos ganham respaldo
científico.
Na
prática, isso significa que a mentalização positiva — base de muitos
métodos de autoajuda — encontra fundamento também na visão espírita. O
Espiritismo, entretanto, amplia essa compreensão, explicando que não se trata
apenas de sugestão mental, mas de uma real sintonia vibratória entre o
ser humano, os fluidos espirituais e a própria ação dos espíritos.
Consequências da Sintonia Energética
Podemos
resumir o processo em alguns pontos:
- Absorção energética
automática – o
perispírito capta constantemente as energias do meio.
- Filtragem vibratória – o tipo de energia
assimilada depende do estado mental e espiritual do indivíduo.
- Metabolização fluídica – as energias absorvidas
são transformadas e distribuídas no corpo físico e espiritual.
- Reforço do estado interior – a energia assimilada
retroalimenta o equilíbrio ou desequilíbrio já existente.
Essa
dinâmica evidencia a importância da vigilância mental e moral. Como
advertia Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, “os maus pensamentos corrompem o homem”
(cap. VIII, item 7). Por outro lado, cultivar o bem, a caridade e a serenidade
é garantia de estar envolto em forças salutares.
Implicações para o Cotidiano
O
Espiritismo propõe que cada pessoa se torne responsável por sua própria
sintonia energética. Isso implica:
- Vigiar pensamentos e
sentimentos,
evitando fixar-se na negatividade.
- Praticar o bem e a caridade, que naturalmente elevam a
vibração pessoal.
- Buscar ambientes saudáveis, físicos e espirituais, que
favoreçam o equilíbrio.
- Manter hábitos saudáveis, como oração, estudo e
convivência edificante.
O
bem-estar, segundo essa visão, não depende apenas de fatores externos ou
genéticos, mas sobretudo da forma como cada um organiza sua vida mental e
espiritual.
Conclusão
A
convergência entre ciência, filosofia e espiritualidade aponta para uma mesma
direção: o ser humano é, antes de tudo, um ser energético. O
Espiritismo, com sua abordagem racional e experimental, antecipa em mais de um
século reflexões que hoje ganham corpo na ciência contemporânea.
A
consciência de que somos emissores e receptores constantes de energia nos
convida a uma responsabilidade maior sobre nossos pensamentos e sentimentos. O
equilíbrio interior não é apenas uma conquista íntima, mas também uma condição
de saúde, de paz social e de sintonia com as leis divinas.
Em última
análise, nosso bem-estar depende de nós mesmos, de nossa vigilância e da
prática constante do amor e da caridade — energias que nos mantêm em sintonia
com a vida em sua expressão mais elevada.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro
dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho Segundo o Espiritismo. 1864.
- KARDEC, Allan. A Gênese.
1868.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos. 1858-1869.
- SHELDRAKE, Rupert. A
Presença do Passado: Campos Morfogenéticos e Hábitos da Natureza. São
Paulo: Cultrix, 2009.
- LIPTON, Bruce. A Biologia
da Crença. São Paulo: Butterfly, 2007.
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