segunda-feira, 29 de setembro de 2025

PLANEJAMOS A VIDA, ESQUECEMOS DA MORTE
UMA REFLEXÃO ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

O ser humano, em sua busca por segurança e sentido, tende a planejar minuciosamente os caminhos da vida. Desde a escolha de uma carreira até a preparação de festas e comemorações, somos levados a projetar, organizar e administrar cada etapa da existência material. Contudo, quando se trata da morte — destino inevitável de todos os seres encarnados — o silêncio e a omissão predominam. Raros são os que pensam na própria partida, menos ainda os que planejam seus últimos momentos e suas consequências.

À luz da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec e fundamentada nas Revistas Espíritas (1858-1869), refletir sobre a morte não é morbidez, mas sabedoria. Trata-se de reconhecer a continuidade da vida, compreender o sentido do retorno ao “lar paterno” e preparar-se para essa transição com serenidade e consciência tranquila.

A Vida Planejada e o Esquecimento da Morte

Um paradoxo humano: planeja-se a graduação, os convites, os casamentos, a quantidade de filhos e até os bens materiais, mas raramente se pensa no momento da partida. A morte continua sendo percebida como ruptura definitiva, quando, segundo o Espiritismo, é apenas uma passagem — uma “mudança de estado” do Espírito.

A Doutrina Espírita, em O Livro dos Espíritos (questões 149 e 150), ensina que a vida verdadeira é a espiritual, sendo a encarnação apenas um estágio temporário de aprendizado. Planejar a vida sem considerar a morte é, portanto, negligenciar a etapa mais certa e natural do processo evolutivo.

Planejar a Partida: Um Ato de Consciência

Embora não possamos definir a data ou as circunstâncias da morte, podemos preparar-nos para ela no que diz respeito à consciência, às relações interpessoais e ao legado moral. São desejos simples e humanos: morrer num dia de sol, cercado de pensamentos positivos, com flores singelas e lembranças gratas.

Essa perspectiva não é apenas poética, mas profundamente doutrinária. Em O Céu e o Inferno, a Doutrina Espírita apresenta exemplos de Espíritos desencarnados que relatam experiências pacíficas ou dolorosas de passagem, diretamente relacionadas ao modo como viveram. Conscientemente ou não, ao desejar partir em paz, é traduzir a essência do que a Doutrina Espírita chama de “morte sem agonia moral”, fruto de uma vida reta e útil.

O Valor Espiritual do Legado e da Prece

A Doutrina Espírita reforça que os pensamentos e as preces dos que permanecem encarnados são recursos reais para o Espírito que retorna ao mundo espiritual. A evocação de boas lembranças, a gratidão e os sentimentos elevados funcionam como energia de amparo, iluminando o caminho de quem parte. Na Revista Espírita de abril de 1860, Kardec registra comunicações de Espíritos beneficiados por essas vibrações, confirmando que o bem não cessa com a morte.

Planejar a partida, portanto, não significa decidir apenas sobre cerimônias ou flores, mas também cultivar, em vida, ações e sentimentos que inspirem lembranças felizes e orações sinceras.

Flores Simples, Símbolos Eternos

O desejo de ter flores no caixão — ainda que singelas — simboliza mais do que estética. Representa beleza, gratidão e ligação afetiva com a Terra. Na linguagem espírita, a flor é um sinal de esperança e transitoriedade: nasce, floresce e murcha, assim como os ciclos da existência corporal. Reconhecer a efemeridade da vida não diminui seu valor; ao contrário, amplia-o.

Conclusão

Planejar a morte não é fixar-se no fim, mas dar sentido ao percurso. É compreender, à luz do Espiritismo, que a vida material é preparação para uma vida mais ampla e duradoura. Cada gesto de amor, cada vínculo construído, cada consciência tranquila é um passo para uma partida serena. Assim, mais importante do que escolher o dia ou as flores do adeus é garantir que, ao chegar esse momento, tenhamos a paz interior de quem esgotou com dignidade o quinhão de energia recebido da Bondade Divina.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 86ª ed. FEB, 2018.
  • KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 64ª ed. FEB, 2016.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). Diversos volumes. FEB.
  • Momento Espírita. Para quando ela chegar. Disponível em: momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=7521&stat=0

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