sexta-feira, 19 de setembro de 2025

PUREZA DE CORAÇÃO E ÉTICA ESPÍRITA:
CONSTRUINDO VALORES NO REINO DE DEUS
- A Era do Espírito -

Introdução

O ensino de Jesus sobre a busca do Reino de Deus e Sua Justiça (Evangelho segundo Mateus, 6:25-34) convida a humanidade a um profundo exercício de transformação moral. Ao afirmar: “Bem-aventurados os que têm puro o coração, porque verão a Deus” e ao acolher as crianças como modelo para alcançar o Reino dos Céus, Jesus assinala que a pureza de coração está intrinsecamente ligada à simplicidade e à humildade, virtudes que excluem o egoísmo e o orgulho.

Na atualidade, em meio a crises éticas e morais observadas nos cenários político, social e ambiental, essa lição evangélica ressurge com vigor renovado. A Revista Espírita (1858–1869) e as obras da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec reforçam que o progresso moral acompanha o desenvolvimento intelectual, sendo responsabilidade de cada Espírito integrar valores éticos superiores à própria conduta. Este artigo busca refletir, à luz do Espiritismo, sobre a pureza de coração como fundamento da Ética Espírita e sobre o papel do discernimento moral no processo evolutivo do ser humano.

A Pureza de Coração como Fundamento da Ética Espírita

Na perspectiva espírita, a pureza de coração não se limita a um estado sentimental, mas configura um padrão vibratório do Espírito em sintonia com as Leis Naturais ou Divinas. Segundo O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo VIII, Jesus toma a infância como símbolo dessa pureza justamente por representar a ausência de orgulho e de egoísmo. Esses são os dois maiores entraves à evolução moral, e combatê-los é o primeiro passo para construir um mundo interior alinhado ao bem.

O avanço ético-espiritual se estabelece por meio do exercício do livre-arbítrio orientado pela razão e pelo amor. À medida que o Espírito compreende o bem e o mal, aumenta sua responsabilidade individual. Porém, como destaca a Codificação Espírita, não basta saber: é necessário querer e agir no bem. A pureza, portanto, se concretiza na ação, não apenas na intenção.

Discernimento Moral e Responsabilidade Pessoal

O discernimento entre o bem e o mal é progressivo e proporcional ao desenvolvimento intelectual. No entanto, a decisão de escolher o bem exige amadurecimento do domínio afetivo, pois as emoções orientam a vontade. A Revista Espírita registra diversos exemplos de Espíritos esclarecendo que a responsabilidade moral nasce quando compreendemos as consequências de nossos atos para nós e para os outros.

Nesse contexto, a Ética Espírita difere da ética convencional ao incluir, além da comunidade encarnada, os Espíritos desencarnados que participam do progresso coletivo pela mediunidade. Isso amplia a noção de responsabilidade, pois nossas atitudes repercutem não apenas no mundo material, mas em toda a rede espiritual que nos envolve.

O Sistema de Reparação e o Dever de Fazer o Bem

A Lei de Causa e Efeito, amplamente abordada nos livros da codificação espírita e desenvolvida em obras como A Gênese e O Céu e o Inferno, assegura que toda infração à Lei Divina ativa um mecanismo de reparação. Tal sistema não avalia apenas o mal praticado, mas também o bem que poderia ter sido feito e foi negligenciado.

Isso reforça a máxima espírita de que não basta “não fazer o mal”: é imprescindível empenhar-se em fazer o bem, cooperando com a obra de Deus. A omissão diante da necessidade do próximo configura responsabilidade moral, pois cada oportunidade de servir é também uma oportunidade de evoluir.

Misericórdia e Caridade: O Julgar e o Ser Julgado

Jesus adverte: “Com a medida com que medirdes, sereis medidos”. Essa máxima evidencia a íntima ligação entre julgamento e autotransformação. A severidade com os outros cria em nossa consciência um padrão de julgamento que será usado contra nós mesmos no momento do “cair em si”. Por isso, o caminho da pureza de coração exige misericórdia — compreender o erro alheio e estimular sua reparação com amor.

A caridade, entendida como benevolência, indulgência e perdão (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV), representa a expressão prática dessa misericórdia. Só podemos “tirar o cisco do olho do irmão” depois de remover a “trave” do nosso próprio olhar — ou seja, após transformarmos nossa conduta.

Conclusão

A pureza de coração, símbolo da infância espiritual, é a pedra angular da Ética Espírita. Em um mundo marcado pela “demolição de valores”, como apontam análises sociais recentes, o Espiritismo propõe reconstruir o alicerce ético do ser humano pelo autoconhecimento, pela caridade e pela vivência do amor ensinado por Jesus.

Seguir esse caminho não é isentar-se do mundo, mas atuar nele com responsabilidade, justiça e compaixão, contribuindo para que o Reino de Deus se manifeste progressivamente na Terra, tanto no plano individual quanto no coletivo.

Referências

  • Allan Kardec. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • ——————. A Gênese. 1868.
  • ——————. O Céu e o Inferno. 1865.
  • Revista Espírita (1858–1869). Diversos artigos.
  • Luiz Carlos D. Formiga. “Construção e Demolição”. Artigo.
  • Evangelho segundo Mateus, capítulos 5–7.

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