sexta-feira, 12 de setembro de 2025

REENCARNAÇÃO E MEMÓRIA GENÉTICA
CIÊNCIA, RAZÃO E ESPIRITUALIDADE EM DIÁLOGO
- A Era do Espírito -

Introdução

Ao longo da história, a ciência tem sido caracterizada por uma postura conservadora, cautelosa na aceitação de novas ideias. Essa prudência, embora necessária para a validação do conhecimento, muitas vezes torna-se obstáculo quando fenômenos legítimos desafiam os paradigmas vigentes. Como observa Jim B. Tucker, “a natureza conservadora da ciência tem sido o seu ponto mais forte e o seu ponto mais fraco”. Essa reflexão se aplica perfeitamente à resistência que muitos ainda demonstram em aceitar a realidade da Reencarnação — um princípio fundamental da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec.

A negação da reencarnação por parte de alguns setores científicos, sob a alegação de que lembranças espontâneas de vidas passadas seriam simples produtos de “memória genética”, não resiste a uma análise mais detida e criteriosa. A Doutrina Espírita, fundamentada na razão e na observação dos fatos, convida ao estudo e não à crença cega. Como ensinava Allan Kardec, “fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade”.

Memória Genética: Limites de uma Hipótese

A chamada “memória genética” é, em essência, a transmissão biológica de características hereditárias, e não de experiências pessoais vividas por um indivíduo. Confundir herança genética com recordações conscientes é um equívoco conceitual. Como destacou Hernani Guimarães Andrade, “nem tudo aquilo que pode ser provado constitui uma verdade, tanto quanto nem tudo o que é verdadeiro pode ser cabalmente provado”.

Pesquisadores como Ian Stevenson, da Universidade de Virgínia, analisaram milhares de casos de crianças que afirmavam lembrar de vidas anteriores. Stevenson chegou a catalogar mais de 2.500 ocorrências verificáveis, nas quais as crianças relataram nomes, locais, eventos e até objetos ocultos que puderam ser confirmados independentemente. Para ele, mesmo admitindo a hipótese da memória genética, esta não poderia explicar casos em que não havia qualquer relação consanguínea entre as famílias atual e anterior, nem o intervalo de poucos anos entre uma vida e outra.

Do mesmo modo, Jim B. Tucker, seu sucessor na mesma universidade, observou que a maioria dessas crianças começa a relatar lembranças por volta dos dois anos de idade e cessa por volta dos sete, quando passam a levar uma vida normal — um padrão que não se explicaria pela genética, mas se ajusta ao conceito de esquecimento natural das vidas anteriores, conforme ensinado pela Doutrina Espírita (O Livro dos Espíritos, questões 392–393).

Casos Documentados que Desafiam a Genética

Relatos como o da jovem Shanti Devi, na Índia, são paradigmáticos. Ela descreveu com precisão sua vida anterior como Ludgi, identificou familiares, a casa onde vivera e até o local exato onde estavam escondidos seus anéis — informações desconhecidas de qualquer outra pessoa viva. Já na Turquia, o menino Ismail (posteriormente reconhecido como a reencarnação de Abit Süzülmüs) e a menina Cevriye (identificada como Sehide, esposa de Abit) revelaram detalhes de um assassinato que apenas as vítimas poderiam conhecer, incluindo nomes de pessoas, locais, dívidas e até fatos que foram confirmados posteriormente por investigações judiciais.

Tais evidências empíricas desafiam a hipótese da memória genética. A transmissão de informações tão específicas e extrafamiliares por via hereditária seria biologicamente impossível, e não há qualquer registro científico que comprove a passagem de memórias pessoais por genes. A genética transmite aptidões e estruturas, não recordações conscientes.

A Visão Espírita: Reencarnação como Lei Natural

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec no século XIX, oferece uma explicação lógica e moral para esses fenômenos: a reencarnação é uma lei natural, instrumento da justiça divina e mecanismo de progresso do Espírito. Em O Livro dos Espíritos (questões 166 a 222), os Espíritos ensinam que renascer é necessário para o aperfeiçoamento moral e intelectual, permitindo ao Espírito reparar erros passados e desenvolver novas capacidades.

Essa visão é corroborada por outros estudos espíritas, como os de Hernani Guimarães Andrade no Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas (IBPP), que investigou casos de lembranças espontâneas de vidas anteriores no Brasil, chegando a conclusões semelhantes às de Stevenson e Tucker. Hernani propôs ainda o conceito de “modelo organizador biológico” (MOB) como interface entre o perispírito e o corpo físico, conceito alinhado com a explicação espírita de como a individualidade espiritual sobrevive à morte e renasce em novo corpo.

Razão e Moral: Uma Nova Ciência do Espírito

A aceitação da reencarnação não é questão de crença, mas de abertura à investigação científica desprovida de preconceito. A ciência progride quando questiona seus próprios limites e reconhece que nem toda a realidade pode ser capturada pelos métodos tradicionais. A postura de recusa apriorística diante das evidências não é ciência, mas dogmatismo.

A Doutrina Espírita propõe a harmonização entre fé e razão, entre ciência e moral. Admitir a reencarnação implica aceitar a responsabilidade pelas próprias ações, compreender a justiça divina e cultivar valores como a fraternidade, a compaixão e o perdão. A reencarnação nos mostra que a vida não termina com a morte, e que cada existência é uma oportunidade de crescimento e reparação.

Conclusão

A hipótese da “memória genética” não explica os inúmeros casos bem documentados de lembranças de vidas anteriores. Ao contrário, os dados apontam para a reencarnação como a explicação mais coerente, racional e abrangente. O Espiritismo, ao unir ciência, filosofia e moral, oferece o alicerce necessário para compreendermos que somos Espíritos imortais em contínuo progresso.

Aceitar essa realidade não significa negar a ciência, mas ampliá-la — pois, como ensinou Allan Kardec, “o Espiritismo marcha com o progresso e jamais será ultrapassado, porque se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro sobre um ponto, ele se modificará nesse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará”.

Referências

  • Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • Allan Kardec. Revista Espírita (coleção completa 1858–1869).
  • Ian Stevenson. Twenty Cases Suggestive of Reincarnation. University of Virginia, 2010.
  • Jim B. Tucker. Life Before Life. St. Martin’s Press, 2007.
  • Hernani Guimarães Andrade. A Reencarnação no Brasil. Pensamento, 1988.
  • Roy Stemman. Reencarnação – Histórias verdadeiras de vidas passadas. Cultrix, 2005.

 

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