Introdução
Ao
longo da história, a ciência tem sido caracterizada por uma postura
conservadora, cautelosa na aceitação de novas ideias. Essa prudência, embora
necessária para a validação do conhecimento, muitas vezes torna-se obstáculo
quando fenômenos legítimos desafiam os paradigmas vigentes. Como observa Jim B.
Tucker, “a natureza conservadora da
ciência tem sido o seu ponto mais forte e o seu ponto mais fraco”. Essa
reflexão se aplica perfeitamente à resistência que muitos ainda demonstram em
aceitar a realidade da Reencarnação — um princípio fundamental da Doutrina
Espírita codificada por Allan Kardec.
A
negação da reencarnação por parte de alguns setores científicos, sob a alegação
de que lembranças espontâneas de vidas passadas seriam simples produtos de
“memória genética”, não resiste a uma análise mais detida e criteriosa. A
Doutrina Espírita, fundamentada na razão e na observação dos fatos, convida ao
estudo e não à crença cega. Como ensinava Allan Kardec, “fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face em
todas as épocas da humanidade”.
Memória Genética: Limites de uma Hipótese
A
chamada “memória genética” é, em essência, a transmissão biológica de
características hereditárias, e não de experiências pessoais vividas por um
indivíduo. Confundir herança genética com recordações conscientes é um equívoco
conceitual. Como destacou Hernani Guimarães Andrade, “nem tudo aquilo que pode
ser provado constitui uma verdade, tanto quanto nem tudo o que é verdadeiro
pode ser cabalmente provado”.
Pesquisadores
como Ian Stevenson, da Universidade de Virgínia, analisaram milhares de casos
de crianças que afirmavam lembrar de vidas anteriores. Stevenson chegou a
catalogar mais de 2.500 ocorrências verificáveis, nas quais as crianças
relataram nomes, locais, eventos e até objetos ocultos que puderam ser
confirmados independentemente. Para ele, mesmo admitindo a hipótese da memória
genética, esta não poderia explicar casos em que não havia qualquer relação
consanguínea entre as famílias atual e anterior, nem o intervalo de poucos anos
entre uma vida e outra.
Do
mesmo modo, Jim B. Tucker, seu sucessor na mesma universidade, observou que a
maioria dessas crianças começa a relatar lembranças por volta dos dois anos de
idade e cessa por volta dos sete, quando passam a levar uma vida normal — um
padrão que não se explicaria pela genética, mas se ajusta ao conceito de
esquecimento natural das vidas anteriores, conforme ensinado pela Doutrina
Espírita (O Livro dos Espíritos, questões 392–393).
Casos Documentados que Desafiam a Genética
Relatos
como o da jovem Shanti Devi, na Índia, são paradigmáticos. Ela descreveu com
precisão sua vida anterior como Ludgi, identificou familiares, a casa onde
vivera e até o local exato onde estavam escondidos seus anéis — informações desconhecidas
de qualquer outra pessoa viva. Já na Turquia, o menino Ismail (posteriormente
reconhecido como a reencarnação de Abit Süzülmüs) e a menina Cevriye
(identificada como Sehide, esposa de Abit) revelaram detalhes de um assassinato
que apenas as vítimas poderiam conhecer, incluindo nomes de pessoas, locais,
dívidas e até fatos que foram confirmados posteriormente por investigações
judiciais.
Tais
evidências empíricas desafiam a hipótese da memória genética. A transmissão de
informações tão específicas e extrafamiliares por via hereditária seria
biologicamente impossível, e não há qualquer registro científico que comprove a
passagem de memórias pessoais por genes. A genética transmite aptidões e
estruturas, não recordações conscientes.
A Visão Espírita: Reencarnação como Lei Natural
A
Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec no século XIX, oferece uma
explicação lógica e moral para esses fenômenos: a reencarnação é uma lei
natural, instrumento da justiça divina e mecanismo de progresso do Espírito. Em
O Livro dos Espíritos (questões 166 a 222), os Espíritos ensinam que
renascer é necessário para o aperfeiçoamento moral e intelectual, permitindo ao
Espírito reparar erros passados e desenvolver novas capacidades.
Essa
visão é corroborada por outros estudos espíritas, como os de Hernani Guimarães
Andrade no Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas (IBPP), que
investigou casos de lembranças espontâneas de vidas anteriores no Brasil,
chegando a conclusões semelhantes às de Stevenson e Tucker. Hernani propôs
ainda o conceito de “modelo organizador biológico” (MOB) como interface entre o
perispírito e o corpo físico, conceito alinhado com a explicação espírita de
como a individualidade espiritual sobrevive à morte e renasce em novo corpo.
Razão e Moral: Uma Nova Ciência do Espírito
A
aceitação da reencarnação não é questão de crença, mas de abertura à
investigação científica desprovida de preconceito. A ciência progride quando
questiona seus próprios limites e reconhece que nem toda a realidade pode ser
capturada pelos métodos tradicionais. A postura de recusa apriorística diante
das evidências não é ciência, mas dogmatismo.
A
Doutrina Espírita propõe a harmonização entre fé e razão, entre ciência e
moral. Admitir a reencarnação implica aceitar a responsabilidade pelas próprias
ações, compreender a justiça divina e cultivar valores como a fraternidade, a
compaixão e o perdão. A reencarnação nos mostra que a vida não termina com a
morte, e que cada existência é uma oportunidade de crescimento e reparação.
Conclusão
A
hipótese da “memória genética” não explica os inúmeros casos bem documentados
de lembranças de vidas anteriores. Ao contrário, os dados apontam para a
reencarnação como a explicação mais coerente, racional e abrangente. O
Espiritismo, ao unir ciência, filosofia e moral, oferece o alicerce necessário
para compreendermos que somos Espíritos imortais em contínuo progresso.
Aceitar
essa realidade não significa negar a ciência, mas ampliá-la — pois, como
ensinou Allan Kardec, “o Espiritismo marcha
com o progresso e jamais será ultrapassado, porque se novas descobertas lhe
demonstrarem que está em erro sobre um ponto, ele se modificará nesse ponto; se
uma nova verdade se revelar, ele a aceitará”.
Referências
- Allan Kardec. O
Livro dos Espíritos. 1857.
- Allan Kardec. Revista
Espírita (coleção completa 1858–1869).
- Ian Stevenson. Twenty
Cases Suggestive of Reincarnation. University of Virginia, 2010.
- Jim B. Tucker. Life
Before Life. St. Martin’s Press, 2007.
- Hernani Guimarães
Andrade. A Reencarnação no Brasil. Pensamento, 1988.
- Roy Stemman. Reencarnação
– Histórias verdadeiras de vidas passadas. Cultrix, 2005.
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