sexta-feira, 12 de setembro de 2025

JUSTIÇA, AMOR E CARIDADE
PARA A RENOVAÇÃO HUMANA E SOCIAL
- A Era do Espírito -

Introdução

A justiça é um dos pilares centrais da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec no século XIX. Longe de ser apenas um conceito jurídico, a justiça é compreendida, no Espiritismo, como um princípio moral universal que visa ao respeito aos direitos de todos os seres. A célebre resposta à questão nº 875 de O Livro dos Espíritos resume com precisão:

“A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais.”

Essa perspectiva amplia o conceito tradicional de justiça, unindo-o ao amor e à caridade, princípios inseparáveis que sustentam a ordem moral do Universo. A Doutrina Espírita, em consonância com os ensinos de Jesus Cristo, propõe uma verdadeira transformação da sociedade por meio da modificação íntima de cada indivíduo e da educação que combate o egoísmo, raiz das desigualdades e das injustiças sociais.

Justiça: entre a lei humana e a lei natural

Para o Espiritismo, a justiça humana é mutável, moldada pelos costumes e valores de cada época, enquanto a lei natural — expressão da vontade divina — é universal, imutável e está inscrita na consciência de cada ser.

Essa lei estabelece que o direito primordial de todo ser é o direito à vida, como ensina a questão nº 880 de O Livro dos Espíritos:

“Ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu semelhante, nem fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal.”

Assim, qualquer ato que ponha em risco a vida — física ou espiritual — é contrário à justiça. Isso inclui não apenas a violência direta, mas também as estruturas e omissões sociais que perpetuam a fome, a miséria e a exclusão. O respeito à vida implica garantir condições dignas de existência a todos.

Justiça e caridade: dois lados da mesma lei

A Doutrina Espírita ensina que não pode haver caridade sem justiça. A caridade não é mera esmola, mas todo ato de benevolência, tolerância e solidariedade nas relações humanas.

Na questão nº 888 de O Livro dos Espíritos, afirma-se:

“Uma sociedade que se baseie na Lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa vontade de alguns.”

Esse princípio revela a responsabilidade coletiva de construir uma sociedade que respeite os direitos fundamentais e elimine as causas estruturais da miséria, da ignorância e dos vícios. Dados atuais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística indicam que cerca de 31% da população brasileira vive em situação de insegurança alimentar, evidenciando a urgência de políticas públicas pautadas na justiça e na caridade efetiva.

O egoísmo como raiz da injustiça

Na questão nº 909 de O Livro dos Espíritos, pergunta-se se o homem pode vencer suas más inclinações, e a resposta é clara:

“Sim, e frequentemente fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade.”

O maior entrave ao progresso moral é o egoísmo, que privilegia os interesses pessoais em detrimento do bem coletivo. Kardec questiona, na questão nº 914, se é possível extirpá-lo:

“À medida que os homens se instruem acerca das coisas espirituais, menos valor dão às coisas materiais. (...) Necessário é que se reformem as instituições humanas que o entretêm e excitam. Isso depende da educação.”

Ou seja, o combate ao egoísmo não se dá apenas individualmente, mas exige a transformação das instituições sociais, políticas e econômicas que o alimentam. A educação espiritualizada, que desenvolve valores como empatia, responsabilidade e solidariedade, é o instrumento essencial dessa renovação.

Justiça social e responsabilidade coletiva

Na questão nº 917, Allan Kardec comenta que o egoísmo é “a chaga social” e deve ser combatido como uma epidemia. Esse combate passa por duas frentes:

  • A transformação íntima do indivíduo, que deve vencer o orgulho, o egoísmo e o materialismo.
  • A mudança das estruturas sociais, para que as instituições deixem de estimular a competição desenfreada e a desigualdade e passem a promover a cooperação, a dignidade e o bem comum.

Portanto, a evolução espiritual não é um processo isolado; implica participação consciente e ativa na sociedade. A justiça, como expressão do amor em ação, precisa orientar tanto as condutas individuais quanto as decisões políticas e econômicas.

Considerações finais

A Doutrina Espírita mostra que a verdadeira justiça transcende códigos legais e se fundamenta na Lei Natural, que exige o respeito irrestrito aos direitos de todos, começando pelo direito à vida.

Sem justiça, não há caridade possível; e sem caridade, não há progresso moral.

Combater o egoísmo, promover a educação e trabalhar pela transformação das instituições humanas são tarefas urgentes e inadiáveis para que possamos construir uma sociedade mais fraterna, justa e solidária, conforme a lei divina do amor ensinada por Jesus:

“Amai-vos uns aos outros.”

Referências

  • Allan Kardec. O Livro dos Espíritos (1857).
  • Allan Kardec. Revista Espírita (1858–1869).
  • Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor.
  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados sobre insegurança alimentar no Brasil, 2024.
  • Emmanuel (espírito), psicografia de Francisco Cândido Xavier. A Caminho da Luz.
  • Albino A. C. de Novaes. “A Lei de Justiça, Amor e Caridade e a Política”. Artigo.

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