segunda-feira, 20 de outubro de 2025

O TESOURO DAS PARÁBOLAS
LIÇÕES VIVAS DO REINO DE DEUS
- A Era do Espírito -

Introdução

Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6).

Nessa declaração, Jesus resume a essência de sua missão espiritual: conduzir o ser humano ao conhecimento de si mesmo e à comunhão com Deus. Entre os diversos meios que utilizou para ensinar, as parábolas constituem o mais belo e profundo instrumento pedagógico do Evangelho.

Narradas em linguagem simples, porém carregadas de sabedoria simbólica, as parábolas são histórias possíveis de acontecer, que revelam sentidos celestiais sob a aparência dos fatos cotidianos. Nelas, Jesus falava à alma humana, estimulando a reflexão, a consciência moral e a renovação interior.

À luz da Doutrina Espírita, as parábolas permanecem intemporais e transculturais, pois expressam verdades universais sobre o Espírito imortal e sua jornada evolutiva. São, como afirma Allan Kardec, “a linguagem figurada que a moral divina adota para ser compreendida segundo o grau de adiantamento dos homens”.

1. O Sentido e a Linguagem das Parábolas

As parábolas utilizam uma forma narrativa acessível ao povo simples, mas repleta de recursos simbólicos — metáforas, comparações, símiles e analogias — que comunicam ideias espirituais por meio de imagens familiares.

  • Metáfora: quando Jesus diz “Eu sou a porta” (João 10:9), não descreve um objeto material, mas a via moral que conduz à salvação.
  • Símile ou comparação: “Eu sou como o bom pastor que dá a vida por suas ovelhas” (João 10:11), enfatizando a relação de cuidado e entrega.
  • Similitude: parábolas em que o verbo está no presente, representando o que costuma acontecer — como na Parábola da Candeia (Lucas 11:33).
  • Fábula e alegoria, embora próximas, diferem das parábolas evangélicas, pois nelas o ensinamento não é moral simbólica livre, mas lição espiritual central, com propósito definido.

Jesus falava por parábolas porque essa forma de expressão alcança todos os níveis de entendimento — dos simples aos eruditos —, convidando o ouvinte à interpretação ativa e à busca interior da verdade.

Quando os discípulos lhe perguntaram por que falava assim, respondeu:

“Porque a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas àqueles não lhes é concedido.” (Mateus 13:10–11)

Ou seja, o Espírito preparado decifra o símbolo; o indiferente ou superficial apenas o escuta.

2. O Valor Espiritual das Parábolas

As parábolas têm valor universal e atemporal. Segundo o método de Jesus, cada narrativa reflete a vida comum para conduzir o pensamento ao sentido eterno da existência. São espelhos da alma e sementes de transformação moral, com múltiplas funções:

  • Transculturais, pois falam a todas as gerações e civilizações;
  • Intemporais, porque tratam das leis divinas que regem o progresso espiritual;
  • Simbólicas, comunicando o indizível por meio de imagens e ações;
  • Subversivas, por desafiarem estruturas sociais injustas e valores materialistas;
  • Provocadoras, porque exigem do ouvinte decisão e autoconfronto: “Que vos parece? Qual dos dois fez a vontade do pai?”;
  • Proféticas, pois revelam o Reino de Deus como destino da humanidade reconciliada com o amor e a verdade.

Em sua profundidade moral, as parábolas revelam o divino no humano, mostrando que o Reino dos Céus não está “além”, mas dentro de nós (Lucas 17:21). O Espírito é chamado a construir esse Reino em si mesmo, pela prática da justiça, da misericórdia e da fraternidade.

3. O Método de Jesus: Da Vida à Vida

Jesus partia da realidade concreta de seu tempo — lavradores, pescadores, patrões e servos, mulheres e crianças — para conduzir o pensamento à realidade espiritual. Seu ensino era direto, observacional e experimental:

  • Atenção ao comportamento (ação e consequência moral);
  • Diálogo com o público (provocação reflexiva);
  • Experiência vivida (exemplo prático e cotidiano).

Era um método educativo da alma, fundado na liberdade de consciência e no raciocínio moral. Por isso, as parábolas exigem interpretação ativa — o Espírito deve “ouvir para entender”. Como diz O Livro dos Espíritos (questão 627), “Jesus empregou a linguagem alegórica e parabólica, porque falava segundo os tempos e os lugares; cabe ao Espiritismo restabelecer o sentido verdadeiro dessas parábolas”.

Hoje, em meio à sociedade tecnológica e industrializada, o ensinamento parabólico conserva o mesmo vigor. Basta substituir as figuras da Palestina antiga pelos símbolos da vida moderna: o trabalho, o consumo, a família, as redes sociais. O conteúdo ético é o mesmo: educar o Espírito para o amor e a verdade.

4. As Parábolas e o Espírito Imortal

Na leitura espírita, as parábolas expressam leis universais que regem a evolução do ser.

  • O Semeador representa a lei de causa e efeito, em que cada um colhe o que semeia.
  • O Filho Pródigo retrata a misericórdia divina e o retorno do Espírito arrependido ao Pai.
  • O Bom Samaritano ilustra a lei de caridade e solidariedade universal.
  • A Dracma Perdida simboliza a busca do bem que se esconde em cada alma.
  • As Dez Virgens e os Talentos falam da responsabilidade espiritual diante dos dons recebidos.

Cada parábola é, portanto, uma chave moral e psicológica que abre ao Espírito a compreensão das leis de Deus. Na Revista Espírita (dezembro de 1863), Kardec afirma que “o Evangelho é o código moral da humanidade futura”, e que a interpretação simbólica das parábolas deve conduzir à transformação íntima e à vivência do amor.

5. Jesus, o Educador das Almas

Jesus foi o educador divino que libertou consciências pela palavra e pelo exemplo. Em sua convivência, rompeu preconceitos sociais e religiosos, dignificando a mulher, acolhendo os marginalizados e reconhecendo o valor espiritual de cada ser humano.

Falou à mulher samaritana (João 4), perdoou a adúltera (João 8), curou enfermos de corpo e alma e mostrou que a verdadeira família é espiritual, composta daqueles que “fazem a vontade do Pai” (Mateus 12:50).

Cada parábola é, portanto, uma chamada à conversão interior. O Mestre não narrava para entreter, mas para despertar. Suas histórias convidam o Espírito a participar da obra divina — a transformar o coração em campo fértil, o egoísmo em compaixão, a ignorância em luz.

Como ensina Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XVII, item 4), “reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações”. As parábolas são, nesse sentido, instrumentos vivos da regeneração do Espírito.

6. A Utilidade das Parábolas na Educação e Divulgação Espírita

As parábolas constituem um dos mais valiosos recursos didáticos do Evangelho. Pela força simbólica e simplicidade expressiva, alcançam o coração e a razão, despertando no ouvinte o discernimento moral e a intuição do bem. Jesus, mestre por excelência, empregava esse método pedagógico para adaptar as verdades eternas ao entendimento humano, convidando cada Espírito a refletir e interpretar conforme seu próprio grau de evolução.

À luz da Doutrina Espírita, que se propõe a restaurar o Cristianismo em sua pureza moral e racionalidade filosófica, as parábolas assumem papel essencial na educação espírita. Nas aulas de evangelização infantil e juvenil, elas tornam o aprendizado mais acessível e encantador, estimulando a imaginação, o sentimento e a razão moral. A narrativa simbólica conduz naturalmente à reflexão sobre valores como justiça, amor, perdão e responsabilidade espiritual, permitindo que as lições do Evangelho se transformem em atitudes.

Nas palestras e estudos doutrinários, as parábolas funcionam como pontes entre o ensinamento moral e a vivência cotidiana. O expositor que as utiliza, sem deturpar-lhes o sentido, desperta o interesse do público e favorece a assimilação da mensagem. Assim, parábolas como a do Semeador, do Filho Pródigo, do Bom Samaritano ou dos Talentos revelam-se instrumentos de educação da consciência e de renovação interior, conforme o método espírita de análise — racional, moral e universal.

Com o avanço dos recursos tecnológicos, as parábolas também encontram espaço nos áudios, vídeos e artigos espíritas. A narrativa simbólica, quando transposta para a linguagem audiovisual, conserva sua força espiritual e adquire nova abrangência, alcançando corações distantes e públicos diversos. Em blogs, podcasts e redes sociais, o uso responsável das parábolas pode unir emoção e clareza, mantendo a fidelidade ao Evangelho e à Codificação Espírita.

Desse modo, as parábolas não são apenas lembranças do passado, mas instrumentos vivos de educação moral e espiritual. Reinterpretadas à luz do Espiritismo, continuam a semear no mundo o mesmo convite que Jesus dirigiu aos seus ouvintes: “Quem tem ouvidos de ouvir, ouça.”

São, portanto, verdadeiros códigos de luz, que, quando aplicados com discernimento e amor, auxiliam a formação de consciências mais lúcidas e corações mais fraternos — cumprindo o propósito essencial do ensino espírita: iluminar pela razão e consolar pelo amor.

Conclusão

As parábolas de Jesus permanecem como joias eternas do pensamento espiritual da humanidade. Elas contêm a simplicidade da flor e a profundidade do oceano: todos podem admirá-las, mas apenas os que buscam a verdade em espírito e verdade as compreendem em plenitude.

Para o Espiritismo, essas parábolas são expressões da lei do progresso — revelam o caminho do Espírito desde a ignorância até a sabedoria, desde o egoísmo até o amor universal. São o tesouro moral do Evangelho, que ilumina o coração humano e orienta o destino da Terra rumo ao Reino de Deus.

“O Pai não quer a morte do ímpio, mas que ele se redima e viva.”
(Ezequiel 18:23)

Referências

  • ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos, questões 614–627, 1009.
  • ALLAN KARDEC. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, XVIII e XXV.
  • ALLAN KARDEC. A Gênese, cap. XVII – “Predições do Evangelho”.
  • Revista Espírita (1858–1869), artigos sobre o ensino moral de Jesus.
  • ARMOND, Edgar. O Redentor. São Paulo: FEESP.
  • XAVIER, Francisco Cândido (psicografia). Emmanuel. Caminho, Verdade e Vida.
  • BÍBLIA SAGRADA. Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e João.

 

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