Introdução
“Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João
14:6).
Nessa
declaração, Jesus resume a essência de sua missão espiritual: conduzir o ser
humano ao conhecimento de si mesmo e à comunhão com Deus. Entre os diversos
meios que utilizou para ensinar, as parábolas constituem o mais belo e
profundo instrumento pedagógico do Evangelho.
Narradas
em linguagem simples, porém carregadas de sabedoria simbólica, as parábolas são
histórias possíveis de acontecer, que revelam sentidos celestiais
sob a aparência dos fatos cotidianos. Nelas, Jesus falava à alma humana,
estimulando a reflexão, a consciência moral e a renovação interior.
À luz da Doutrina
Espírita, as parábolas permanecem intemporais e transculturais, pois
expressam verdades universais sobre o Espírito imortal e sua jornada evolutiva.
São, como afirma Allan Kardec, “a linguagem figurada que a moral divina adota
para ser compreendida segundo o grau de adiantamento dos homens”.
1. O Sentido e a Linguagem das Parábolas
As
parábolas utilizam uma forma narrativa acessível ao povo simples, mas repleta
de recursos simbólicos — metáforas, comparações, símiles e analogias —
que comunicam ideias espirituais por meio de imagens familiares.
- Metáfora: quando Jesus diz “Eu
sou a porta” (João 10:9), não descreve um objeto material, mas a via
moral que conduz à salvação.
- Símile ou comparação: “Eu sou como o bom
pastor que dá a vida por suas ovelhas” (João 10:11), enfatizando a
relação de cuidado e entrega.
- Similitude: parábolas em que o verbo
está no presente, representando o que costuma acontecer — como na Parábola
da Candeia (Lucas 11:33).
- Fábula e alegoria, embora próximas, diferem
das parábolas evangélicas, pois nelas o ensinamento não é moral simbólica
livre, mas lição espiritual central, com propósito definido.
Jesus
falava por parábolas porque essa forma de expressão alcança todos os níveis
de entendimento — dos simples aos eruditos —, convidando o ouvinte à interpretação
ativa e à busca interior da verdade.
Quando os
discípulos lhe perguntaram por que falava assim, respondeu:
“Porque a vós é dado conhecer os
mistérios do Reino dos Céus, mas àqueles não lhes é concedido.” (Mateus 13:10–11)
Ou seja,
o Espírito preparado decifra o símbolo; o indiferente ou superficial apenas o
escuta.
2. O Valor Espiritual das Parábolas
As
parábolas têm valor universal e atemporal. Segundo o método de Jesus,
cada narrativa reflete a vida comum para conduzir o pensamento ao sentido
eterno da existência. São espelhos da alma e sementes de
transformação moral, com múltiplas funções:
- Transculturais, pois falam a todas as
gerações e civilizações;
- Intemporais, porque tratam das leis
divinas que regem o progresso espiritual;
- Simbólicas, comunicando o indizível
por meio de imagens e ações;
- Subversivas, por desafiarem estruturas
sociais injustas e valores materialistas;
- Provocadoras, porque exigem do ouvinte
decisão e autoconfronto: “Que vos parece? Qual dos dois fez a vontade
do pai?”;
- Proféticas, pois revelam o Reino de
Deus como destino da humanidade reconciliada com o amor e a verdade.
Em sua
profundidade moral, as parábolas revelam o divino no humano, mostrando
que o Reino dos Céus não está “além”, mas dentro de nós (Lucas 17:21). O
Espírito é chamado a construir esse Reino em si mesmo, pela prática da justiça,
da misericórdia e da fraternidade.
3. O Método de Jesus: Da Vida à Vida
Jesus
partia da realidade concreta de seu tempo — lavradores, pescadores,
patrões e servos, mulheres e crianças — para conduzir o pensamento à realidade
espiritual. Seu ensino era direto, observacional e experimental:
- Atenção ao comportamento (ação e consequência
moral);
- Diálogo com o público (provocação reflexiva);
- Experiência vivida (exemplo prático e
cotidiano).
Era um método
educativo da alma, fundado na liberdade de consciência e no raciocínio
moral. Por isso, as parábolas exigem interpretação ativa — o Espírito
deve “ouvir para entender”. Como diz O Livro dos Espíritos (questão
627), “Jesus empregou a linguagem alegórica e parabólica, porque falava segundo
os tempos e os lugares; cabe ao Espiritismo restabelecer o sentido verdadeiro
dessas parábolas”.
Hoje, em
meio à sociedade tecnológica e industrializada, o ensinamento parabólico
conserva o mesmo vigor. Basta substituir as figuras da Palestina antiga pelos
símbolos da vida moderna: o trabalho, o consumo, a família,
as redes sociais. O conteúdo ético é o mesmo: educar o Espírito para
o amor e a verdade.
4. As Parábolas e o Espírito Imortal
Na
leitura espírita, as parábolas expressam leis universais que regem a
evolução do ser.
- O Semeador representa
a lei de causa e efeito, em que cada um colhe o que semeia.
- O Filho Pródigo
retrata a misericórdia divina e o retorno do Espírito arrependido
ao Pai.
- O Bom Samaritano
ilustra a lei de caridade e solidariedade universal.
- A Dracma Perdida
simboliza a busca do bem que se esconde em cada alma.
- As Dez Virgens e os Talentos
falam da responsabilidade espiritual diante dos dons recebidos.
Cada
parábola é, portanto, uma chave moral e psicológica que abre ao Espírito
a compreensão das leis de Deus. Na Revista Espírita (dezembro de 1863),
Kardec afirma que “o Evangelho é o código moral da humanidade futura”, e que a
interpretação simbólica das parábolas deve conduzir à transformação íntima e à
vivência do amor.
5. Jesus, o Educador das Almas
Jesus foi o educador divino que libertou consciências pela palavra e pelo exemplo. Em sua convivência, rompeu preconceitos sociais e religiosos, dignificando a mulher, acolhendo os marginalizados e reconhecendo o valor espiritual de cada ser humano.
Falou à mulher samaritana (João 4), perdoou a adúltera (João 8), curou enfermos
de corpo e alma e mostrou que a verdadeira família é espiritual,
composta daqueles que “fazem a vontade do Pai” (Mateus 12:50).
Cada
parábola é, portanto, uma chamada à conversão interior. O Mestre não
narrava para entreter, mas para despertar. Suas histórias convidam o Espírito a
participar da obra divina — a transformar o coração em campo fértil, o egoísmo
em compaixão, a ignorância em luz.
Como
ensina Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XVII, item
4), “reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos
esforços que emprega para domar suas más inclinações”. As parábolas são, nesse
sentido, instrumentos vivos da regeneração do Espírito.
6. A Utilidade das Parábolas na Educação e
Divulgação Espírita
As
parábolas constituem um dos mais valiosos recursos didáticos do Evangelho. Pela
força simbólica e simplicidade expressiva, alcançam o coração e a razão,
despertando no ouvinte o discernimento moral e a intuição do bem. Jesus, mestre
por excelência, empregava esse método pedagógico para adaptar as verdades
eternas ao entendimento humano, convidando cada Espírito a refletir e
interpretar conforme seu próprio grau de evolução.
À luz da
Doutrina Espírita, que se propõe a restaurar o Cristianismo em sua pureza moral
e racionalidade filosófica, as parábolas assumem papel essencial na educação
espírita. Nas aulas de evangelização infantil e juvenil, elas tornam
o aprendizado mais acessível e encantador, estimulando a imaginação, o
sentimento e a razão moral. A narrativa simbólica conduz naturalmente à
reflexão sobre valores como justiça, amor, perdão e responsabilidade
espiritual, permitindo que as lições do Evangelho se transformem em atitudes.
Nas palestras
e estudos doutrinários, as parábolas funcionam como pontes entre o
ensinamento moral e a vivência cotidiana. O expositor que as utiliza, sem
deturpar-lhes o sentido, desperta o interesse do público e favorece a
assimilação da mensagem. Assim, parábolas como a do Semeador, do Filho Pródigo,
do Bom Samaritano ou dos Talentos revelam-se instrumentos de educação da
consciência e de renovação interior, conforme o método espírita de análise — racional,
moral e universal.
Com o
avanço dos recursos tecnológicos, as parábolas também encontram espaço nos áudios,
vídeos e artigos espíritas. A narrativa simbólica, quando transposta para a
linguagem audiovisual, conserva sua força espiritual e adquire nova
abrangência, alcançando corações distantes e públicos diversos. Em blogs,
podcasts e redes sociais, o uso responsável das parábolas pode unir emoção e
clareza, mantendo a fidelidade ao Evangelho e à Codificação Espírita.
Desse
modo, as parábolas não são apenas lembranças do passado, mas instrumentos
vivos de educação moral e espiritual. Reinterpretadas à luz do Espiritismo,
continuam a semear no mundo o mesmo convite que Jesus dirigiu aos seus
ouvintes: “Quem tem ouvidos de ouvir,
ouça.”
São,
portanto, verdadeiros códigos de luz, que, quando aplicados com
discernimento e amor, auxiliam a formação de consciências mais lúcidas e
corações mais fraternos — cumprindo o propósito essencial do ensino espírita: iluminar
pela razão e consolar pelo amor.
Conclusão
As
parábolas de Jesus permanecem como joias eternas do pensamento espiritual da
humanidade. Elas contêm a simplicidade da flor e a profundidade do oceano:
todos podem admirá-las, mas apenas os que buscam a verdade em espírito e
verdade as compreendem em plenitude.
Para o
Espiritismo, essas parábolas são expressões da lei do progresso —
revelam o caminho do Espírito desde a ignorância até a sabedoria, desde o
egoísmo até o amor universal. São o tesouro moral do Evangelho, que
ilumina o coração humano e orienta o destino da Terra rumo ao Reino de Deus.
“O Pai
não quer a morte do ímpio, mas que ele se redima e viva.”
(Ezequiel
18:23)
Referências
- ALLAN KARDEC. O Livro dos
Espíritos, questões 614–627, 1009.
- ALLAN KARDEC. O Evangelho
segundo o Espiritismo, cap. XVII, XVIII e XXV.
- ALLAN KARDEC. A Gênese,
cap. XVII – “Predições do Evangelho”.
- Revista Espírita (1858–1869), artigos sobre
o ensino moral de Jesus.
- ARMOND, Edgar. O Redentor.
São Paulo: FEESP.
- XAVIER, Francisco Cândido
(psicografia). Emmanuel. Caminho, Verdade e Vida.
- BÍBLIA SAGRADA. Evangelhos
segundo Mateus, Marcos, Lucas e João.
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