Introdução
O
Transtorno do Pânico (TP) é uma das expressões mais intensas da ansiedade
humana contemporânea. Caracteriza-se por crises súbitas e avassaladoras de
medo, acompanhadas de sintomas físicos e psicológicos que simulam situações de
extremo perigo. No século XXI, o TP tornou-se um desafio crescente de saúde
pública: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3% da
população mundial sofre desse transtorno, e o número de diagnósticos aumentou
significativamente após a pandemia de COVID-19, em razão do estresse
prolongado, da insegurança e do isolamento social.
Para a
ciência médica, trata-se de uma disfunção multifatorial — envolvendo aspectos
genéticos, biológicos e ambientais —, mas, sob a ótica da Doutrina Espírita
codificada por Allan Kardec, é também uma manifestação do desequilíbrio
entre corpo e espírito. Nesse contexto, o Espiritismo oferece uma compreensão
ampliada do fenômeno, propondo o reencontro do indivíduo com sua própria
essência espiritual e com as leis morais que regem a vida.
1. A Crise de Pânico e o Mecanismo da Alma
Em O
Livro dos Espíritos (questões 258–268), Kardec ensina que o Espírito
escolhe suas provas e desafios como meios de progresso. As crises emocionais,
embora dolorosas, podem ser compreendidas como oportunidades de reajuste e
aprendizado moral.
No
caso do Transtorno do Pânico, observa-se uma hiperativação do sistema de
defesa, sem causa real de perigo. Do ponto de vista espiritual, esse
mecanismo pode refletir lembranças inconscientes de situações traumáticas
vividas em existências anteriores, impressas no perispírito e reativadas
por circunstâncias atuais.
A Revista
Espírita (fevereiro de 1864) relata casos de “perturbações morais e
fisiológicas” em que a origem era atribuída a estados vibratórios do Espírito,
e não apenas ao corpo físico. Assim, o pânico pode ser visto como um clamor
da alma, um pedido inconsciente de equilíbrio, que surge quando a mente
perde a sintonia com as vibrações superiores da confiança e da fé.
2. Causas Profundas e Fatores Espirituais
Além
dos fatores biológicos e psicológicos reconhecidos pela ciência — como
alterações neuroquímicas, predisposições hereditárias e eventos de estresse
intenso —, a Doutrina Espírita amplia a compreensão do Transtorno do Pânico ao
incluir aspectos da vida espiritual que influenciam o equilíbrio mental do ser
humano.
Allan
Kardec, em O Livro dos Espíritos (questões 459 e 474), ensina que os
Espíritos exercem influência muito maior do que imaginamos sobre nossos
pensamentos e sentimentos. Assim, certas perturbações emocionais podem refletir
não apenas desequilíbrios orgânicos, mas também interferências sutis do plano
espiritual.
Entre
as causas espirituais possíveis, destacam-se:
- Sensibilidade
mediúnica não educada: Espíritos com maior sensibilidade psíquica —
isto é, com percepções espirituais mais amplas — podem captar, de modo
inconsciente, emoções e vibrações de sofrimento provenientes de Espíritos
desencarnados ou de ambientes carregados. Quando essa faculdade não é
compreendida nem orientada, pode gerar confusão emocional e sensação de
medo intenso sem causa aparente.
- Influência
espiritual (obsessão): Conforme Kardec explica em O Livro dos
Médiuns (cap. XXIII, “Da obsessão”), Espíritos sofredores, perturbados
ou vingativos podem exercer ação persistente sobre os encarnados,
reforçando pensamentos de angústia e desespero. Essa influência, somada à
predisposição emocional do indivíduo, pode amplificar crises de ansiedade
e pânico.
- Desarmonia
fluídica:
Pensamentos reiterados de medo, culpa, desvalorização ou desesperança
desorganizam a circulação dos fluidos espirituais que vitalizam o corpo
físico. Essa perturbação no perispírito — o elo entre o Espírito e o corpo
— repercute no organismo, produzindo sintomas físicos e psíquicos
compatíveis com o estado de ansiedade extrema.
É
importante ressaltar que tais causas espirituais não substituem o diagnóstico e
o tratamento médico, psicológico e terapêutico adequados. O Espiritismo, ao
contrário, recomenda a integração dos cuidados materiais e espirituais,
considerando o ser humano em sua totalidade — corpo, mente e Espírito.
O
apoio espiritual, por meio da prece, do estudo, da transformação íntima e da
prática do bem, atua como recurso complementar de reequilíbrio, fortalecendo a
serenidade interior e tornando o indivíduo menos suscetível às influências
perturbadoras.
3. Terapia Integral: Ciência, Moral e
Espiritualidade
O
tratamento do Transtorno do Pânico deve ser multidimensional. A Terapia
Cognitivo-Comportamental (TCC), associada à medicação sob orientação
psiquiátrica, tem comprovada eficácia clínica. Contudo, o Espiritismo
acrescenta o tratamento espiritual e moral, voltado à harmonização das
forças internas.
As
práticas recomendadas incluem:
- Prece e meditação: que disciplinam o
pensamento e restauram o equilíbrio vibratório;
- Evangelho no Lar: cria um campo de
proteção energética e moral no ambiente doméstico;
- Passe magnético e
água fluidificada: auxiliam na recomposição do perispírito e na
regulação das energias sutis;
- Estudo e
autoconhecimento: fortalecem o discernimento e a fé
raciocinada, permitindo compreender as causas profundas das aflições.
Como
ensina Emmanuel em Pensamento e Vida (cap. 5), “a mente é o espelho da vida em toda parte”. Quando o pensamento se
educa, a emoção se reequilibra e o corpo responde em saúde.
4. A Função Evolutiva da Dor e o Caminho da
Serenidade
O
Espiritismo não encara o sofrimento como castigo, mas como instrumento de
regeneração. Em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. V, item 18),
lê-se: “A dor é a bênção que Deus envia
aos seus eleitos.” Assim, o Transtorno do Pânico pode representar um convite
à transformação interior, um chamado à reconstrução da confiança em si e na
Providência Divina.
O
medo, quando compreendido, torna-se o ponto de partida para o despertar da fé.
E a fé, quando raciocinada, converte-se em serenidade — o antídoto espiritual
do pânico. Como afirma André Luiz em Nos Domínios da Mediunidade (cap.
10), “a serenidade é o reflexo da alma em
paz com as leis do Universo”.
Conclusão
O
Transtorno do Pânico é um fenômeno complexo, que exige atenção clínica,
compreensão psicológica e sensibilidade espiritual. O Espiritismo amplia essa
visão, mostrando que o medo extremo é também um sinal da alma pedindo
reeducação emocional e reconexão com as leis divinas.
O
tratamento integral — unindo ciência, fé e moral — permite ao indivíduo
reencontrar o equilíbrio interior e transformar o pânico em aprendizado. Cuidar
da mente é cuidar do espírito, e cuidar do espírito é reencontrar a paz que
nenhuma crise é capaz de destruir.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. FEB, 2022.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. FEB, 2021.
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Médiuns. FEB, 2020.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858–1869). Diversos volumes.
- EMMANUEL. Pensamento
e Vida. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. FEB, 2020.
- ANDRÉ LUIZ. Nos
Domínios da Mediunidade. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. FEB,
2018.
- Organização Mundial
da Saúde (OMS). Global Burden of Mental Disorders Report, 2023.
- BECK, Aaron. Terapia
Cognitivo-Comportamental e os Transtornos de Ansiedade. Artmed, 2019.
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