terça-feira, 29 de julho de 2025

"PAI, NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÕES...": UMA LEITURA ESPÍRITA À LUZ DA DOUTRINA DE KARDEC
- A Era do Espírito -

A belíssima oração ensinada por Jesus aos apóstolos — o Pai Nosso — traz, em sua última parte, uma súplica profunda: "Não nos deixeis cair em tentações...". Embora familiar, essa frase requer reflexão cuidadosa para evitar interpretações equivocadas das palavras do Mestre. O Espiritismo, com sua clareza doutrinária, oferece-nos uma chave valiosa de entendimento.

1. O que são tentações?

O termo "tentação" provém do latim tentare, que significa tocar, sondar, experimentar, procurar seduzir ou corromper. Em essência, a tentação é a ação de instigar o ser humano ao erro, testar seus limites morais e espirituais.

A benfeitora Joanna de Ângelis esclarece com precisão:

“A tentação representa uma avaliação em torno das conquistas do equilíbrio, por parte de quem busca o melhor, na trilha do aperfeiçoamento próprio.” (Leis Morais da Vida, pág. 140, psicografia de Divaldo Franco)

De forma semelhante, o autor espírita Rodolfo Calligaris, em Sermão da Montanha (cap. 6), afirma que o ser humano precisa passar por situações difíceis e contraditórias para desenvolver discernimento, utilizar o livre-arbítrio e escolher o bem, evoluindo moral e intelectualmente.

Logo, a tentação não é punição, mas oportunidade educativa. É um "exame espiritual", um sistema de aferição de nossas resistências morais. Vencê-la é galgar patamares mais altos. Ceder a ela é estacionar — ou repetir lições de vida até a verdadeira aprendizagem.

2. O que nos ensina Allan Kardec?

A Doutrina Espírita, por meio da Codificação, trata da tentação como prova e estímulo ao progresso.

Na questão 712-a de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta sobre o atrativo dos bens materiais:

Qual o objetivo dessa tentação?
Resposta dos Espíritos:
“Desenvolver-lhe a razão, que deve preservá-lo dos excessos.”

Ou seja, as tentações também exercem o papel de despertar a consciência e desenvolver virtudes, como a moderação, a renúncia e o equilíbrio. São desafios pedagógicos da Lei Divina.

3. A origem das tentações: interna e externa

A primeira origem das tentações está no interior do próprio indivíduo. São os reflexos de suas experiências passadas, de tendências ainda não vencidas, resíduos de condutas equivocadas que carregamos de existências anteriores.

Como diz Emmanuel:

“A árvore equilibra-se sobre sua própria raiz, como o homem, no presente, respira o influxo do passado.” (Religião dos Espíritos, pág. 19)

Essa sombra interior, que ainda se enovela em nossos pensamentos, é o campo fértil onde germinam as tentações. São fragilidades que, se não reconhecidas e enfrentadas, perpetuam a queda moral.

A segunda origem está fora do homem, e diz respeito à influência dos Espíritos inferiores, que, em sintonia com nossas imperfeições, se aproveitam de nossas fraquezas para nos desestabilizar.

Emmanuel descreve esse processo como um ataque gradual, que começa por ideias aparentemente inofensivas e evolui até o domínio da obsessão:

“Leves debuxos mentais nos incomodam de leve... e passam, muitas vezes, ao domínio da obsessão manifesta.”

4. A vigilância do pensamento: conexão com o mundo espiritual

A Doutrina Espírita é clara ao afirmar que estamos mergulhados num oceano de pensamentos e influências espirituais. Nosso pensamento é energia que vibra numa determinada faixa, atraindo Espíritos afins — encarnados ou desencarnados.

“Pensar mal” é abrir a porta da sintonia com inteligências igualmente desequilibradas.

Daí a recomendação vigilante de Jesus:

"Vigiai e orai, para não cairdes em tentação!" (Marcos 14:38)

A vigilância é o policiamento constante dos próprios pensamentos, palavras e ações. A oração é o recurso de elevação e proteção espiritual. Juntos, são um escudo seguro contra as sugestões do mal.

5. O sentido verdadeiro do pedido “não nos deixeis cair em tentação”

Quando oramos “não nos deixeis cair em tentações”, não estamos pedindo para escapar das provas necessárias, mas rogando assistência e amparo do Alto, para que não fraquejemos diante das escolhas erradas.

A responsabilidade é sempre nossa, pois temos o livre-arbítrio. O auxílio divino se manifesta como intuições, inspirações e amparo espiritual — mas a decisão de agir bem cabe ao nosso esforço pessoal.

“O mal só é irresistível para aquele que nele se compraz.” (O Livro dos Espíritos, q. 645)

6. A vitória sobre o mal é possível

O Espiritismo mostra que ninguém está condenado ao erro. O mal não é fatalidade, e a tentação não é derrota certa.

“O cultivo da bondade incessante é recurso eficaz contra o assédio de toda influência perniciosa.” (Emmanuel, idem)

Unamos, portanto, vigilância, oração e trabalho no bem. A bondade ativa é o antídoto mais poderoso contra as tentações. Que nossas ações sejam inspiradas no bem constante e que a oração seja a luz que nos guia. Assim, caminharemos protegidos e fortalecidos, sob as bênçãos do Pai e do Cristo, nosso guia e modelo.

Referências
GHIGGINO, Ivone Molinaro. Pai: não nos deixeis cair em tentações..
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Questão 712-a, q. 645.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
CALLIGARIS, Rodolfo. Sermão da Montanha, cap. 6.
JOANNA DE ÂNGELIS (espírito). Leis Morais da Vida. Psicografia de Divaldo Franco.
EMMANUEL (espírito). Religião dos Espíritos. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

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