terça-feira, 16 de setembro de 2025

CARMA E DARMA: À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA CODIFICADA POR ALLAN KARDEC
- A Era do Espírito -

Introdução

Os conceitos de carma e darma têm origem na tradição filosófico religiosa da Índia antiga e são centrais em sistemas como o Hinduísmo e o Budismo. Ambos expressam ideias de ordem moral e causal que regem a existência e a evolução dos seres.

Já a Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec no século XIX, propõe um sistema racional de leis morais e naturais universais, fundamentado na existência do espírito imortal, na reencarnação e na lei de causa e efeito. Embora a Doutrina não utilize os termos orientais, ela apresenta princípios compatíveis com o conteúdo moral que os conceitos de carma e darma representam.

Este artigo busca comparar, de forma racional e didática, esses conceitos orientais com os ensinamentos espíritas, destacando suas aproximações e diferenças.

Carma e a Lei de Causa e Efeito na Doutrina Espírita

O carma (do sânscrito karman) refere-se às ações e às consequências delas derivadas, constituindo um sistema de causalidade moral que se projeta através das sucessivas existências. Esse princípio encontra paralelo direto na Lei de Causa e Efeito, explicitada pela Doutrina Espírita.

Em O Livro dos Espíritos, na questão 963 e seguintes, Kardec apresenta que “toda infração da lei de Deus traz suas consequências inevitáveis” e que as faltas do passado só podem ser reparadas por meio da expiação e da reparação. Na questão 1008, afirma-se que “a pena é proporcional à gravidade da falta e à eficácia do arrependimento”, mostrando a relação direta entre atos e consequências.

Na Revista Espírita (janeiro de 1862), Kardec explica que “as provas têm por fim a reparação do passado e o adiantamento do Espírito”, indicando que os acontecimentos difíceis não são castigos arbitrários, mas efeitos educativos de causas anteriores. Assim, o carma, entendido como o encadeamento moral das ações, corresponde no Espiritismo à ação da Lei de Causa e Efeito, guiada pela justiça e pela misericórdia divina.

Darma e a Lei de Justiça, Amor e Caridade

O darma (do sânscrito dharma) representa o conjunto de deveres morais e éticos que sustentam a ordem universal e guiam o indivíduo para o bem e a verdade. Ele expressa o princípio de agir conforme a própria natureza espiritual, contribuindo para a harmonia do todo.

Esse conceito encontra um paralelo na Doutrina Espírita na Lei de Justiça, Amor e Caridade, apresentada no Livro Terceiro de O Livro dos Espíritos (questões 873 a 892). Kardec registra que “a lei de Deus está escrita na consciência” (q. 621), e que o dever moral é o caminho do progresso do Espírito.

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, está afirmado que “o verdadeiro espírita é reconhecido pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações”, reforçando que o cumprimento do dever moral é o eixo da evolução espiritual.

Assim, o darma pode ser compreendido como um conceito análogo ao dever moral individual diante da lei divina que sustenta a criação, exatamente como ensinado pela Doutrina Espírita.

Relação entre Darma, Carma e Evolução Espiritual

Nas tradições orientais, o cumprimento do darma (agir segundo a lei moral) gera um carma positivo, que conduz a melhores renascimentos e maior sabedoria. O descumprimento do darma gera carma negativo, resultando em sofrimentos futuros que visam ao reajuste moral do indivíduo.

No Espiritismo, de modo semelhante, agir segundo a lei divina (dever moral) conduz a experiências futuras mais felizes e ao progresso espiritual. Agir contra essa lei gera consequências educativas e reparadoras, que se manifestam em novas encarnações até que haja o aprendizado necessário.

Portanto, embora os termos sejam distintos, a lógica causal e moral é muito próxima:

  • Darma → cumprir a lei moral divina (Espiritismo)
  • Carma → consequência das ações perante essa lei (Espiritismo: causa e efeito)

A diferença essencial está no fundamento teórico: enquanto as tradições orientais atribuem o carma e o darma a uma ordem cósmica impessoal, a Doutrina Espírita entende essas leis como expressões da vontade de Deus, soberanamente justo e bom (O Livro dos Espíritos, q. 1 a 13).

Conclusão

A comparação revela que os conceitos de carma e darma são compatíveis com os princípios da Doutrina Espírita, embora com vocabulário e enquadramento filosófico diferentes. No Espiritismo, a ideia de causalidade moral e de dever ético universal está claramente estabelecida como Lei de Causa e Efeito e Lei de Justiça, Amor e Caridade, integradas à pedagogia divina que conduz os Espíritos à perfeição.

Assim, o Espiritismo oferece uma visão racional e esperançosa desses princípios, ao apresentar Deus como Pai amoroso que orienta a evolução, e não apenas como juiz que aplica punições automáticas.

Referências

  • Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. 1ª ed. 1857.
  • ———. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1ª ed. 1864.
  • ———. Revista Espírita (1858–1869). Diversos artigos sobre expiação, provas e progresso dos Espíritos.
  • Filosofia indiana — Conceitos de carma e darma (etimologia do sânscrito e uso no Hinduísmo e Budismo).
  • Estudos comparados de religião — Pesquisas contemporâneas sobre moralidade e causalidade espiritual.

 

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