Introdução
A
compreensão da constituição do Universo sempre inquietou o ser humano desde os
primórdios de sua razão. A ciência moderna, especialmente através da Física
Quântica e da Cosmologia, alcançou avanços notáveis sobre a estrutura íntima da
matéria e da energia, mas ainda não contempla o elemento espiritual como
constitutivo do Universo.
Por
sua vez, a Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec a partir de 1857, já
abordava essa temática de forma racional e progressista. Nos ensinamentos de
obras como O Livro dos Espíritos e A Gênese, e em diversos artigos da Revista
Espírita (1858–1869), encontramos o conceito de fluido universal (ou fluido
cósmico universal), base de toda a matéria, e suas múltiplas modificações
conhecidas como fluidos espirituais, que servem de intermediário entre o
espírito e a matéria.
Este
artigo busca expor, de forma racional e atualizada, os fundamentos dessa
concepção, suas implicações e sua relação com os estudos científicos
contemporâneos.
1. Elementos gerais do Universo segundo o
Espiritismo
Segundo
os Espíritos Superiores na codificação espírita, existem dois elementos
gerais no Universo (O Livro dos
Espíritos, questão 27):
- o elemento
material, de que provêm todos os corpos físicos;
- o elemento
espiritual, que é o princípio inteligente do Universo (q. 23).
Sobre
esses dois princípios repousa toda a organização dos mundos e a existência dos
seres vivos. Acima deles está Deus, a Inteligência Suprema, causa primária
de todas as coisas (q. 1).
O
elemento material apresenta-se em diversos estados, desde a matéria densa e
tangível até estados extremamente sutis e imponderáveis. É justamente nesse
ponto que os Espíritos indicam a existência de um fluido universal, que “desempenha papel intermediário entre o
espírito e a matéria propriamente dita” (q. 27). Esse fluido primitivo, ao
condensar-se, dá origem a todas as formas de matéria conhecida; ao
desagregar-se, retorna ao seu estado etéreo original.
2. O fluido cósmico universal e os fluidos
espirituais
Allan
Kardec sistematizou a ideia de que o fluido cósmico universal é o elemento
primitivo de onde derivam todas as coisas materiais (A Gênese, cap. XIV, itens 2 a 6). Esse fluido, em estado de eterização,
é imponderável e extremamente sutil; ao passar ao estado de materialização,
torna-se ponderável e tangível.
As
múltiplas modificações desse fluido primitivo originam os chamados fluidos
espirituais, que constituem a atmosfera sutil que envolve a Terra e os
seres. Embora não sejam “espirituais” no sentido estrito (pois espiritual é
somente o espírito, ser inteligente (LE, q. 23), recebem esse nome por se
encontrarem mais próximos da natureza do Espírito (LE q. 76) e por servirem de veículo
ao pensamento e à vontade dos Espíritos (O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. IV, item 74).
Os
Espíritos (encarnados e desencarnados) agem sobre os fluidos, organizando-os,
combinando-os, dirigindo-os, impregnando-os de suas intenções e sentimentos.
Por isso, os fluidos refletem a qualidade moral de quem os manipula,
podendo tornar-se salutares ou perniciosos. Kardec sintetiza isso ao afirmar
que, sob o ponto de vista moral, os fluidos podem carregar sentimentos como
ódio, amor, egoísmo ou solidariedade; e sob o ponto de vista físico, podem
apresentar propriedades calmantes, excitantes, tóxicas ou reparadoras (A Gênese, cap. XIV, item 17).
3. Pontes com a ciência contemporânea
A
ciência atual, especialmente a Física de Partículas, demonstra que a matéria é
composta por partículas subatômicas, e que matéria e energia são duas
expressões de uma mesma realidade, conforme demonstrado pela Equivalência
massa-energia de Albert Einstein. Já se conhece que a matéria é descontínua e
que existe um campo quântico subjacente permeando todo o espaço — conceito que
dialoga com a ideia espírita de um “fluido universal” que preenche o espaço
cósmico.
Em
1866, Allan Kardec antecipou a noção de que, pela desagregação da matéria, seus
elementos constituintes retornariam ao estado primitivo de fluido cósmico,
o que ecoa a concepção moderna de que partículas podem converter-se em radiação
e vice-versa.
Embora
a ciência atual não reconheça o elemento espiritual, a investigação
sobre a influência da mente e da consciência sobre a matéria — por exemplo,
estudos sobre Efeito placebo, Psiconeuroimunologia (*) e Campos de consciência —
abre caminhos para, no futuro, um possível diálogo com a visão espírita sobre a
atuação do pensamento sobre os fluidos.
(*) A psiconeuroimunologia
(PNI) é um campo de estudo interdisciplinar que investiga as complexas
interações entre o comportamento (psico), o sistema nervoso (neuro) e o sistema
imunológico (imunologia) do corpo, bem como o sistema endócrino. O objetivo da
PNI é compreender como fatores psicológicos e psicossociais, como estresse, e
componentes do sistema nervoso e endócrino, afetam a resposta imunológica e o
desenvolvimento de doenças, e vice-versa.
4. Consequências práticas e morais
A
Doutrina Espírita mostra que o pensamento e a vontade moldam os fluidos,
podendo gerar efeitos benéficos (curas, harmonização, passes) ou maléficos
(obsessões, perturbações). Por isso, o estado moral e emocional influencia
diretamente a qualidade dos fluidos que emitimos e absorvemos.
Essa
compreensão tem implicações éticas e terapêuticas: ambientes impregnados por
pensamentos elevados e sentimentos nobres tornam-se mais saudáveis e
harmoniosos, enquanto locais saturados de ódio, medo ou egoísmo tornam-se
densos e nocivos.
Desse
modo, o estudo dos fluidos espirituais não é mero exercício teórico, mas um
convite à responsabilidade moral, mostrando que cada ser humano contribui,
com seus pensamentos e atitudes, para a atmosfera fluídica do planeta.
Conclusão
O
conceito de fluidos espirituais apresentado por Allan Kardec, longe de
ser mera especulação, revela-se um elo coerente entre matéria e espírito,
antecipando noções hoje abordadas pela física e pela biociência. Reconhecer a
existência e a influência dos fluidos é compreender que o Universo é um
vasto laboratório espiritual, onde a vontade divina organiza a matéria e
onde o pensamento dos seres inteligentes modela as energias sutis.
Enquanto
a ciência avança na compreensão do aspecto material do cosmos, a Doutrina
Espírita amplia o horizonte, integrando o elemento espiritual como parte
essencial da realidade universal e conclamando-nos à elevação moral como
condição para interagirmos de forma saudável com os fluidos que nos cercam e
nos constituem.
Referências
- O Livro dos Espíritos – Allan Kardec,
1857.
- O Livro dos Médiuns – Allan Kardec,
1861.
- A Gênese – Allan Kardec, 1868.
- Revista Espírita (1858–1869) –
Allan Kardec.
- O Passe – Terapêutica Espírita, série
Atualidade de Allan Kardec - Rubens Policastro Meira.
- Física Quântica e
Física de Partículas — estudos contemporâneos sobre matéria, energia e
campos quânticos.
- Artigos recentes
sobre Psiconeuroimunologia e interação mente corpo.
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