terça-feira, 16 de setembro de 2025

FLUIDOS ESPIRITUAIS
PONTES ENTRE MATÉRIA E ESPÍRITO
- A Era do Espírito -

Introdução

A compreensão da constituição do Universo sempre inquietou o ser humano desde os primórdios de sua razão. A ciência moderna, especialmente através da Física Quântica e da Cosmologia, alcançou avanços notáveis sobre a estrutura íntima da matéria e da energia, mas ainda não contempla o elemento espiritual como constitutivo do Universo.

Por sua vez, a Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec a partir de 1857, já abordava essa temática de forma racional e progressista. Nos ensinamentos de obras como O Livro dos Espíritos e A Gênese, e em diversos artigos da Revista Espírita (1858–1869), encontramos o conceito de fluido universal (ou fluido cósmico universal), base de toda a matéria, e suas múltiplas modificações conhecidas como fluidos espirituais, que servem de intermediário entre o espírito e a matéria.

Este artigo busca expor, de forma racional e atualizada, os fundamentos dessa concepção, suas implicações e sua relação com os estudos científicos contemporâneos.

1. Elementos gerais do Universo segundo o Espiritismo

Segundo os Espíritos Superiores na codificação espírita, existem dois elementos gerais no Universo (O Livro dos Espíritos, questão 27):

  • o elemento material, de que provêm todos os corpos físicos;
  • o elemento espiritual, que é o princípio inteligente do Universo (q. 23).

Sobre esses dois princípios repousa toda a organização dos mundos e a existência dos seres vivos. Acima deles está Deus, a Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas (q. 1).

O elemento material apresenta-se em diversos estados, desde a matéria densa e tangível até estados extremamente sutis e imponderáveis. É justamente nesse ponto que os Espíritos indicam a existência de um fluido universal, que “desempenha papel intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita” (q. 27). Esse fluido primitivo, ao condensar-se, dá origem a todas as formas de matéria conhecida; ao desagregar-se, retorna ao seu estado etéreo original.

2. O fluido cósmico universal e os fluidos espirituais

Allan Kardec sistematizou a ideia de que o fluido cósmico universal é o elemento primitivo de onde derivam todas as coisas materiais (A Gênese, cap. XIV, itens 2 a 6). Esse fluido, em estado de eterização, é imponderável e extremamente sutil; ao passar ao estado de materialização, torna-se ponderável e tangível.

As múltiplas modificações desse fluido primitivo originam os chamados fluidos espirituais, que constituem a atmosfera sutil que envolve a Terra e os seres. Embora não sejam “espirituais” no sentido estrito (pois espiritual é somente o espírito, ser inteligente (LE, q. 23), recebem esse nome por se encontrarem mais próximos da natureza do Espírito (LE q. 76) e por servirem de veículo ao pensamento e à vontade dos Espíritos (O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. IV, item 74).

Os Espíritos (encarnados e desencarnados) agem sobre os fluidos, organizando-os, combinando-os, dirigindo-os, impregnando-os de suas intenções e sentimentos. Por isso, os fluidos refletem a qualidade moral de quem os manipula, podendo tornar-se salutares ou perniciosos. Kardec sintetiza isso ao afirmar que, sob o ponto de vista moral, os fluidos podem carregar sentimentos como ódio, amor, egoísmo ou solidariedade; e sob o ponto de vista físico, podem apresentar propriedades calmantes, excitantes, tóxicas ou reparadoras (A Gênese, cap. XIV, item 17).

3. Pontes com a ciência contemporânea

A ciência atual, especialmente a Física de Partículas, demonstra que a matéria é composta por partículas subatômicas, e que matéria e energia são duas expressões de uma mesma realidade, conforme demonstrado pela Equivalência massa-energia de Albert Einstein. Já se conhece que a matéria é descontínua e que existe um campo quântico subjacente permeando todo o espaço — conceito que dialoga com a ideia espírita de um “fluido universal” que preenche o espaço cósmico.

Em 1866, Allan Kardec antecipou a noção de que, pela desagregação da matéria, seus elementos constituintes retornariam ao estado primitivo de fluido cósmico, o que ecoa a concepção moderna de que partículas podem converter-se em radiação e vice-versa.

Embora a ciência atual não reconheça o elemento espiritual, a investigação sobre a influência da mente e da consciência sobre a matéria — por exemplo, estudos sobre Efeito placebo, Psiconeuroimunologia (*) e Campos de consciência — abre caminhos para, no futuro, um possível diálogo com a visão espírita sobre a atuação do pensamento sobre os fluidos.

(*) A psiconeuroimunologia (PNI) é um campo de estudo interdisciplinar que investiga as complexas interações entre o comportamento (psico), o sistema nervoso (neuro) e o sistema imunológico (imunologia) do corpo, bem como o sistema endócrino. O objetivo da PNI é compreender como fatores psicológicos e psicossociais, como estresse, e componentes do sistema nervoso e endócrino, afetam a resposta imunológica e o desenvolvimento de doenças, e vice-versa.

4. Consequências práticas e morais

A Doutrina Espírita mostra que o pensamento e a vontade moldam os fluidos, podendo gerar efeitos benéficos (curas, harmonização, passes) ou maléficos (obsessões, perturbações). Por isso, o estado moral e emocional influencia diretamente a qualidade dos fluidos que emitimos e absorvemos.

Essa compreensão tem implicações éticas e terapêuticas: ambientes impregnados por pensamentos elevados e sentimentos nobres tornam-se mais saudáveis e harmoniosos, enquanto locais saturados de ódio, medo ou egoísmo tornam-se densos e nocivos.

Desse modo, o estudo dos fluidos espirituais não é mero exercício teórico, mas um convite à responsabilidade moral, mostrando que cada ser humano contribui, com seus pensamentos e atitudes, para a atmosfera fluídica do planeta.

Conclusão

O conceito de fluidos espirituais apresentado por Allan Kardec, longe de ser mera especulação, revela-se um elo coerente entre matéria e espírito, antecipando noções hoje abordadas pela física e pela biociência. Reconhecer a existência e a influência dos fluidos é compreender que o Universo é um vasto laboratório espiritual, onde a vontade divina organiza a matéria e onde o pensamento dos seres inteligentes modela as energias sutis.

Enquanto a ciência avança na compreensão do aspecto material do cosmos, a Doutrina Espírita amplia o horizonte, integrando o elemento espiritual como parte essencial da realidade universal e conclamando-nos à elevação moral como condição para interagirmos de forma saudável com os fluidos que nos cercam e nos constituem.

Referências

  • O Livro dos Espíritos – Allan Kardec, 1857.
  • O Livro dos Médiuns – Allan Kardec, 1861.
  • A Gênese – Allan Kardec, 1868.
  • Revista Espírita (1858–1869) – Allan Kardec.
  • O Passe – Terapêutica Espírita, série Atualidade de Allan Kardec - Rubens Policastro Meira.
  • Física Quântica e Física de Partículas — estudos contemporâneos sobre matéria, energia e campos quânticos.
  • Artigos recentes sobre Psiconeuroimunologia e interação mente corpo.

 

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