Ao
longo da história, diferentes religiões lançaram mão de objetos materiais como
recursos de expressão da fé: talismãs, imagens, roupas rituais, medalhas e
outros símbolos. Esses elementos, utilizados por milhões de fiéis, funcionam
como pontos de apoio para a devoção, ajudando a estabelecer uma sensação de
proximidade com o sagrado.
O
Espiritismo, codificado por Allan Kardec, traz uma abordagem diferenciada. Não
nega a importância histórica e psicológica dos objetos de culto, mas esclarece
que a verdadeira ligação com Deus e com os Espíritos Superiores não depende de
elementos externos, mas da qualidade do pensamento e da vida interior.
Este
artigo busca refletir sobre o papel dos objetos religiosos, a função mental que
desempenham e a proposta espírita de espiritualização contínua da mente,
baseada na Codificação Espírita, na Revista Espírita (1858-1869) e em
obras complementares como as de André Luiz.
Objetos religiosos: função psicológica e espiritual
O uso
de objetos de culto expressa a necessidade humana de exteriorizar sentimentos
religiosos. Como lembra André Luiz em Mecanismos da Mediunidade, esses
recursos funcionam como estímulos mentais que ajudam a projetar ondas de
pensamento, estabelecendo sintonia com determinadas faixas vibratórias.
Por
esse motivo, tais práticas não devem ser ridicularizadas pelos espíritas, mas
respeitadas como parte do processo evolutivo de cada grupo religioso. Kardec
mesmo ressaltou, em diferentes trechos da Revista Espírita, a
importância da tolerância e do respeito mútuo entre crenças, observando que
cada religião cumpre um papel pedagógico na marcha da humanidade.
Contudo,
a Doutrina Espírita esclarece que a ligação com o Alto não depende de talismãs
ou símbolos materiais. O elo verdadeiro está no estado íntimo, na disciplina
mental e na conduta moral.
O pensamento como força criadora
A
proposta espírita vai além da simples substituição de símbolos externos:
trata-se de educar a mente. O pensamento, ensina o Espiritismo, é uma força
viva que cria vínculos, atrai companhias espirituais e define o padrão
vibratório do ser.
Nesse
sentido, Paulo de Tarso já advertia: “Transformai-vos
pela renovação da vossa mente” (Romanos 12:2). Essa renovação não ocorre
por ritos externos, mas pela constante vigilância sobre os pensamentos e
sentimentos.
Autores
espirituais complementam esse entendimento. André Luiz, em No Mundo Maior,
aponta que a evolução espiritual exige “revolver
ideias, renovar concepções e modificar, invariavelmente, para o bem maior o
modo íntimo de ser”.
O desafio da disciplina mental
Apesar
do conhecimento, manter o pensamento elevado não é tarefa fácil. A vida
cotidiana, com suas pressões, distrações e conflitos, frequentemente desvia a
mente para vibrações negativas — queixas, mágoas, pessimismo e ressentimentos.
O
esforço do espírita consciente é disciplinar a mente, sustentando uma atitude
de oração contínua, não restrita a momentos formais. Como lembra André Luiz, “somente a conduta reta sustenta o reto
pensamento, e de posse do reto pensamento a oração é o mais elevado toque de
indução para a comunhão com as Esferas Superiores”.
Conclusão
O
Espiritismo nos convida a transcender a dependência de objetos de culto,
respeitando seu uso em outras tradições, mas compreendendo que o verdadeiro
culto está na transformação íntima.
A
espiritualização do pensamento é a meta maior: aprender a pensar, sentir e agir
em consonância com o bem, cultivando a sintonia permanente com os Espíritos
Superiores. Assim, caminhamos passo a passo rumo ao futuro em que o amor e a
elevação mental serão a linguagem universal das almas despertas.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. 1ª ed. Paris: 1857.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. Paris: 1864.
- KARDEC, Allan. A
Gênese. Paris: 1868.
- KARDEC, Allan
(dir.). Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos. Paris:
1858-1869.
- XAVIER, Francisco
Cândido, pelo Espírito André Luiz. Mecanismos da Mediunidade. FEB.
- XAVIER, Francisco
Cândido, pelo Espírito André Luiz. No Mundo Maior. FEB.
- WAISBERG, Tales
Henrique da Silva. Objetos de Culto e Espiritualização do Pensamento.
Artigo.
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