Introdução
Ao contemplar o firmamento em uma noite límpida,
distante das luzes artificiais que toldam a visão, sentimos um misto de
admiração e humildade. O manto estrelado que se estende sobre nossas cabeças
nos convida ao recolhimento íntimo e à meditação sobre nossa origem e destino.
Desde a mais remota Antiguidade, o homem se deteve diante desse espetáculo
silencioso, atribuindo às estrelas significados simbólicos, religiosos e
filosóficos.
O Espiritismo, codificado por Allan Kardec, não
despreza o conhecimento científico da Astronomia, mas amplia-o com a
compreensão espiritual da criação, mostrando-nos que as leis que regem os
astros e as que governam nossas vidas têm origem comum no pensamento divino. A Revista
Espírita, em diversas passagens, nos recorda que o estudo dos mundos e de
seus habitantes é parte integrante da revelação espírita, pois nos auxilia a
compreender a pluralidade dos mundos habitados e a grandeza do Criador.
Assim como as estrelas brilham no céu físico, há
também aquelas que brilham no céu moral da humanidade: as almas que, mesmo
imperfeitas, irradiam luz de bondade, de amor e de consolo.
O Brilho
das Estrelas e o Brilho da Alma
A ciência nos esclarece que as estrelas são imensos
globos de plasma, geradores de luz e calor por meio de reações nucleares.
Embora variem em tamanho, temperatura e cor, todas têm a função de irradiar
energia ao espaço, sustentando e iluminando mundos.
No plano moral, podemos traçar um paralelo: cada
Espírito é também um “astro” em potencial, destinado a irradiar a luz que
provém do seu progresso intelectual e moral. Allan Kardec, em O Livro dos
Espíritos (q. 132), afirma que o objetivo da encarnação é alcançar a
perfeição, ajudando, durante o processo, no progresso geral. Logo, mesmo na
fase de imperfeição, cada criatura pode, à sua medida, aquecer e iluminar os
que dela se aproximam.
Assim como as estrelas nascem de nuvens de gás e
poeira, o Espírito, em sua origem simples e ignorante, surge no cenário da vida
sem grandes claridades; mas, pelo trabalho incessante e pela depuração, vai
adquirindo intensidade de luz, tornando-se fonte de calor moral para os outros.
Jesus: A
Estrela Sublime
Se cada um de nós é chamado a ser uma pequena luz,
Jesus é o sol divino que ilumina a estrada da humanidade. Kardec, em O
Evangelho segundo o Espiritismo (cap. VI), apresenta-o como o guia e modelo
supremo, cuja pureza e grandeza moral jamais foram igualadas. Sua presença na
Terra foi o fulgor máximo que afastou trevas seculares e abriu novos horizontes
para a compreensão da vida.
Na imagem poética da Doutrina Espírita, podemos
dizer que, assim como o Sol sustenta a vida material, Jesus sustenta a vida
espiritual, oferecendo luz, calor e direção segura. Por isso, quanto mais nos
aproximamos de seu exemplo, mais intensa se torna a nossa própria luz.
O
Compromisso de Irradiar Luz
A Revista Espírita (dezembro de 1863) lembra
que “o bem que não se propaga é como a
lâmpada colocada sob o alqueire: inútil para os que caminham na sombra.” É
nosso dever, portanto, tornar visíveis e ativos os bens espirituais que
possuímos.
A presença de uma alma generosa, mesmo silenciosa,
aquece os corações abatidos; um olhar de compreensão, um sorriso sincero ou uma
palavra amiga podem dissipar densas nuvens de tristeza. Pequenos gestos, quando
impregnados de amor, tornam-se fagulhas capazes de acender novas esperanças.
O Espírito Joanna de Ângelis nos recorda, no
pensamento final citado, que ninguém é tão pobre de valores espirituais que não
possa oferecer algo. Esta verdade se harmoniza com o ensinamento kardeciano de
que todos dispõem, ao menos, da boa vontade para praticar o bem.
Conclusão
Assim como as estrelas permanecem no firmamento,
mantendo sua rota e seu brilho, sejamos constantes na tarefa de iluminar o mundo
à nossa volta. Que a certeza de nossa presença amiga seja para os que nos
buscam o que o céu estrelado é para o viajante noturno: referência segura, guia
silencioso, promessa de que a luz sempre existirá.
O Espiritismo nos convida a compreender que a luz
que podemos irradiar não vem apenas de nós, mas da sintonia com as leis divinas
e com o exemplo do Cristo. E, quando a nossa jornada terrestre se encerrar, que
possamos encontrar, no infinito espiritual, um céu interior tão belo quanto
aquele que, em noites límpidas, contemplamos admirados.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon
Ribeiro. FEB.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução
de Guillon Ribeiro. FEB.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869), edições de
dezembro de 1863 e outras passagens sobre mundos habitados.
- Momento Espírita. Iluminando o Universo. Disponível em: https://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=3838&let=I&stat=0
- FRANCO, Divaldo Pereira. Vida Feliz, pelo Espírito Joanna de
Ângelis. LEAL.