quinta-feira, 31 de julho de 2025

 

RESSENTIMENTO: A PRISÃO SILENCIOSA DA ALMA
- A Era do Espírito – 

"Guardar ressentimento é como segurar uma brasa ardente com a intenção de jogá-la em alguém — enquanto queima a própria mão."

Essa metáfora, amplamente conhecida, descreve com precisão o sofrimento autoimposto que o ressentimento nos causa. Outra comparação igualmente impactante afirma que “o ressentimento é um veneno que tomamos esperando que o outro morra”. Ambas imagens traduzem a realidade íntima de quem permanece preso à dor do passado, remoendo feridas que o tempo insiste em não curar porque a alma ainda não se decidiu a libertar-se delas.

Na raiz da palavra ressentimento, encontramos o verbo ressentir, que significa sentir intensamente e sentir de novo. É exatamente isso que fazemos quando guardamos mágoa: revivemos, vezes sem conta, a dor de um episódio que já passou. E com isso, alimentamos uma fonte contínua de desgaste emocional, espiritual e até físico.

A escolha possível: ressentir ou libertar-se?

À primeira vista, parece que não temos escolha. “Mas é mais forte do que eu”, muitos dizem. De fato, sentir raiva ou tristeza diante de uma agressão é natural. Somos seres em aprendizado, sensíveis e imperfeitos. Porém, permanecer indefinidamente acorrentado a esse estado emocional — aí sim, já é uma decisão consciente ou inconsciente que precisa ser revista.

A Doutrina Espírita, ao lançar luz sobre as causas e consequências morais dos nossos sentimentos, nos convida ao autoconhecimento como chave libertadora. No item 919 de O Livro dos Espíritos, ao ser perguntado sobre o meio mais prático para melhorar-se nesta vida, o Espírito de Verdade responde: “Um sábio da antiguidade vo-lo disse: conhece-te a ti mesmo.” É esse olhar sincero sobre as próprias emoções que nos permite perceber que guardar ressentimento é, sim, uma escolha — ainda que difícil — que pode ser substituída por um processo de cura interior e transformação moral.

O alerta de Joanna de Ângelis

Em sua profunda análise psicológica do ser humano, o Espírito Joanna de Ângelis esclarece, na obra Conflitos, que:

"É compreensível o surgimento de uma certa frustração e mesmo de desagrado diante de confrontos e de agressões promovidas por outrem, dando lugar a mágoas, que são uma certa aflição de caráter transitório. Não, porém, à instalação do ressentimento."

Ou seja, a mágoa pode até surgir como reação natural, mas o ressentimento — esse sentimento cristalizado e cultivado — é nocivo e desnecessário. Quando cultivamos o rancor, permanecemos aprisionados a quem nos feriu, como se entregássemos ao ofensor o poder de continuar nos ferindo continuamente.

A libertação pelo perdão

Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo (capítulo X), apresenta o perdão como um dos pilares da moral cristã. Ensina que perdoar não é esquecer artificialmente, mas compreender, renunciar ao desejo de vingança e libertar-se do peso inútil da mágoa. Ao contrário do que muitos pensam, perdoar não é beneficiar o agressor — é beneficiar-se, é devolver-se à paz.

No mesmo sentido, os Espíritos Superiores nos lembram de que nenhuma injustiça escapa à Lei Divina. Deus, sendo soberanamente justo e bom, governa o Universo por meio de leis perfeitas de causa e efeito. Assim, não precisamos nos preocupar com a impunidade dos que nos ferem. A cada um será dado segundo suas obras (Mateus 16:27).

Ressentimento e saúde: uma conexão esquecida

A Doutrina Espírita, ao tratar da ligação entre o corpo e o espírito, também nos alerta para os efeitos físicos das emoções negativas. Em A Gênese, Kardec afirma que os fluidos espirituais sofrem a influência dos nossos pensamentos e sentimentos. Quando estes são desequilibrados, como no caso do ódio e do ressentimento, produzem consequências prejudiciais tanto ao perispírito quanto ao organismo físico.

Não à toa, médicos e terapeutas já reconhecem a influência de sentimentos como a mágoa na gênese de diversas enfermidades psicossomáticas. O Espiritismo, com sua visão integral do ser humano, antecipa e aprofunda essa compreensão ao mostrar que o perdão é um recurso de cura para o Espírito e para o corpo.

Conclusão: a leveza de ser livre

Deitar a cabeça no travesseiro e poder dizer: “Não guardo mágoa de ninguém” — eis uma das maiores conquistas do Espírito em evolução. Trata-se de uma verdadeira vitória íntima, sinal de maturidade espiritual e de alinhamento com as Leis Divinas.

Relevar, perdoar, seguir adiante... são movimentos que exigem esforço, mas que trazem uma recompensa impagável: a liberdade interior.

Assim, à luz da Doutrina Espírita, aprendamos que o ressentimento é uma prisão sem grades visíveis, mas que nos fere profundamente — e da qual só nós podemos nos libertar.

Façamos essa escolha: pela paz, pelo amor, pela saúde e pela liberdade da alma.

Referências doutrinárias e complementares:

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
  • JOANNA DE ÂNGELIS (Espírito). Conflitos. Psicografia de Divaldo Pereira Franco. LEAL.
  • Artigo base: momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=3372&let=B&stat=0
ESPIRITISMO OU KARDECISMO? 
UMA REFLEXÃO DOUTRINÁRIA 
- A Era do Espírito –


"Diremos, portanto, que a Doutrina Espírita – ou o Espiritismo – tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se o quiserem, os espiritistas."
— Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita

Ao nos debruçarmos com seriedade sobre os fundamentos da Doutrina Espírita, ditada pelos Espíritos Superiores e codificada por Allan Kardec, é inevitável a constatação de que seu conteúdo é uno e coeso. Ainda assim, há, infelizmente, uma tendência crescente à segmentação conceitual da doutrina, seja pela apropriação de rótulos inadequados, seja por tentativas de fusão com práticas religiosas alheias à Codificação. Uma dessas distorções mais comuns é o uso do termo Kardecismo.

O Espiritismo é uma Doutrina, não um “ismo” de homem algum

A palavra Espiritismo foi cunhada por Kardec para designar a nova doutrina, distinguindo-a de termos vagos como espiritualismo. Como explica o Codificador na introdução de O Livro dos Espíritos, o neologismo teve por objetivo delimitar com precisão o campo de estudo e prática da doutrina, centrado nas relações entre os mundos material e espiritual e nas consequências morais daí advindas. Usar, portanto, o termo Kardecismo não só é desnecessário como também equivocado, pois desloca o centro da doutrina dos Espíritos para a figura humana do Codificador.

Herculano Pires, em O Que é o Espiritismo, observa com precisão:

“A Doutrina que nos legou não é o kardecismo, mas o Espiritismo, ou seja, a Doutrina dos Espíritos.”

Essa doutrina, portanto, não é obra exclusiva de um homem, por mais lúcido que tenha sido seu papel. É fruto da ação coordenada do mundo espiritual, da qual Allan Kardec foi instrumento fiel, jamais autor pessoal.

Uma só Doutrina, três aspectos indissociáveis

Outro erro comum é a tentativa de dividir o Espiritismo em compartimentos estanques: científico, filosófico ou religioso. Essa separação artificial compromete o entendimento da Doutrina como um corpo doutrinário harmônico e interdependente. Allan Kardec é claro ao afirmar que o Espiritismo é uma ciência de observação dos fatos espirituais, com consequências filosóficas e morais — e, portanto, com implicações de ordem espiritual no sentido mais elevado do termo: a vivência da moral cristã.

Essa concepção está presente em toda a obra dos Espíritos, ou seja, na Doutrina Espírita, mas se manifesta de maneira particularmente clara em O Evangelho segundo o Espiritismo, quando o Codificador afirma:

“O Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador Prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra.”

Assim, utilizar termos como Espiritismo científico ou Espiritismo laico cria a falsa impressão de que seria possível excluir os outros pilares da doutrina — como se existissem espiritismos diferentes ou opções doutrinárias paralelas dentro do mesmo edifício conceitual.

A confusão com outras práticas: o caso da Umbanda e da “mesa branca”

Alguns termos, como Espiritismo de mesa branca ou Espiritismo de Umbanda, geram ainda mais confusão, especialmente entre os que se iniciam no estudo da doutrina. Tais expressões contribuem para confundir o Espiritismo com a Umbanda ou com outras práticas mediúnicas populares no Brasil que, embora respeitáveis, não fazem parte da Doutrina Espírita.

É fundamental ressaltar três pontos:

  1. Espiritismo e Umbanda não são a mesma coisa.
  2. A Umbanda não é uma vertente do Espiritismo.
  3. O Espiritismo surgiu na França, no século XIX; a Umbanda surgiu no Brasil, no século XX.

Além disso, a ideia de mesa branca está ligada a um imaginário ritualístico que não condiz com a simplicidade preconizada pelos Espíritos. Nos Centros Espíritas sérios, não há vestimentas especiais, imagens, rituais exteriores nem paramentos. A espiritualidade se manifesta no recolhimento íntimo, na disciplina moral, na oração sincera e no estudo constante.

Por que não Kardecismo?

Voltemos à questão central: por que o termo Kardecismo não é adequado?

Primeiramente, porque Kardec jamais o utilizou. Em suas obras, ele sempre se referiu à Doutrina dos Espíritos, Doutrina Espírita ou, simplesmente, Espiritismo. Em segundo lugar, porque essa terminologia reforça a falsa ideia de que o Espiritismo é criação pessoal de Kardec, e não revelação coletiva dos Espíritos Superiores. Por fim, porque o uso de Kardecismo leva a uma deturpação doutrinária e histórica, obscurecendo o verdadeiro caráter do Espiritismo como revelação progressiva e universal.

Como o próprio Kardec escreveu em O Que é o Espiritismo:

“O erro de todos está na crença comum de que a origem do Espiritismo é uma só; tudo se origina da opinião individual de um homem. (...) Buscam a ideia na Terra, quando ela está no espaço.”

O dever do espírita: preservar e esclarecer

É dever de todo espírita sincero preservar o conteúdo e o conceito da Doutrina Espírita, conforme foi codificada. Isso inclui o cuidado com a linguagem que usamos para divulgá-la. As palavras moldam ideias; ideias moldam atitudes. Quando nos referimos ao Espiritismo como Kardecismo, mesmo com boas intenções, abrimos espaço para incompreensões e distorções, além de darmos margem à visão reducionista de que se trata de mais uma seita com seu “fundador”.

Evitar essa confusão é tarefa de todos nós que estudamos, vivemos e divulgamos a Doutrina Espírita. A clareza conceitual é parte do compromisso com a Verdade que o Espiritismo representa. Ao invés de Kardecismo, digamos com firmeza e serenidade: Doutrina Espírita — ou, simplesmente, Espiritismo.

Sejamos, pois, fiéis à essência da Doutrina dos Espíritos, esclarecendo com amor e firmeza que o Espiritismo é uma só coisa, e é fruto dos ensinamentos dos Espíritos Superiores — seres que, por sua elevação moral e intelectual, atuam como mensageiros da verdade e guias do progresso espiritual da humanidade.

Bibliografia:

  • ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos, Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita. Trad. J. Herculano Pires. São Paulo: LAKE, 2010.
  • ALLAN KARDEC. O Que é o Espiritismo. Trad. Wallace Leal V. Rodrigues. São Paulo: LAKE, 2011.
  • HERCULANO PIRES. Notícia sobre o Livro O Que é o Espiritismo.
  • ANDRES GUSTAVO ARRUDA. Espiritismo ou Kardecismo? Texto-base.

 

O FILHO PRÓDIGO E SAMAEL: DOIS CAMINHOS, 
UM SÓ DESTINO ESPIRITUAL
- A Era do Espírito -


“Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz; o homem precisa habituar-se a ela pouco a pouco, do contrário fica deslumbrado.”
— Allan Kardec, A Gênese, cap. I, item 14.

A parábola e o símbolo: dois relatos, uma mesma essência

A parábola do Filho Pródigo, narrada por Jesus em Lucas 15:11-32, é uma das mais conhecidas e tocantes lições do Evangelho. Nela, um jovem, após abandonar o lar paterno, esbanjar sua herança e conhecer a miséria, retorna arrependido, sendo recebido com amor e perdão por seu pai. Esse ensinamento, de profunda moral espiritual, tem paralelos impressionantes com a trajetória simbólica de Samael, descrita na segunda parte do Livro de Melquisedeque, um evangelho apócrifo de conteúdo espiritualista notável.

À luz da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec e ditada pelos Espíritos superiores, e com base no método espírita — que consiste na análise racional, na observação dos fatos espirituais e na universalidade dos ensinos —, é possível confrontar essas duas histórias e extrair lições fundamentais para o entendimento do processo evolutivo do Espírito.

Samael e o Filho Pródigo: a ilusão da liberdade e a queda pelo orgulho

O jovem da parábola abandona o lar movido pela ilusão de autonomia. Samael, por sua vez, corrompe os ensinos de Salém após ser nomeado guardião do “pergaminho da harmonia”. Ambos, em posições privilegiadas, desviam-se pela vaidade e pelo orgulho, acreditando-se acima das leis divinas.

Essa atitude está diretamente ligada à lei de liberdade e ao livre-arbítrio, como ensina o Espiritismo (cf. O Livro dos Espíritos, questões 115 a 121). Nenhum Espírito é criado mau; a queda é uma consequência do mau uso da liberdade — e não um castigo divino.

A miséria e o remorso: consequências naturais da escolha

O filho pródigo acaba por experimentar a fome e a humilhação, chegando a desejar a comida dos porcos. Samael, ao trair a confiança do príncipe, também mergulha em um estado de dissociação espiritual e queda moral.

Segundo Kardec, em A Gênese (cap. III), o mal é resultado da imperfeição e da ignorância temporárias do Espírito, não de uma natureza má. Ambos os personagens colhem os frutos amargos de suas escolhas, conforme a lei de causa e efeito — um dos pilares da justiça divina na Doutrina Espírita.

Arrependimento, retorno e regeneração: a vitória do bem

O ponto de virada em ambas as histórias é o arrependimento. O filho pródigo reconhece sua condição e volta ao pai. Samael, diante da dor, busca a reconciliação com a ordem de Salém. Não há punição eterna nem exclusão definitiva — há educação espiritual e recomeço.

O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, item 27, afirma:
“Deus sempre deixa aberta a porta do arrependimento. A justiça divina se exerce sempre com misericórdia.”

Ambos os personagens ilustram a mensagem fundamental da Doutrina Espírita: o mal não é definitivo, o Espírito é perfectível e todo sofrimento tem por fim o progresso.

Duas metáforas do Espírito em prova

Tanto Samael quanto o filho pródigo simbolizam o Espírito em situação de prova e aprendizado. Cada erro cometido não os define como entidades condenadas, mas como aprendizes em trânsito. A queda não é o fim, mas parte do processo de ascensão.

O método espírita nos convida a ler além da letra, interpretando esses relatos como símbolos universais da trajetória do Espírito imortal, que caminha de forma livre, mas responsável, rumo à perfeição.

Reflexões Finais: o Pai aguarda, a Lei educa, o Espírito desperta

A parábola do Filho Pródigo e a história de Samael nos recordam que o amor divino é sempre receptivo, e que a Lei de Deus não castiga: ensina. O Pai não impede a partida, mas aguarda de braços abertos o retorno. A Justiça, com sua sabedoria infinita, organiza os meios para que o Espírito desperte, aprenda e se reconcilie com a luz.

Como nos ensina o Espírito de Verdade:
“Espíritas! amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI)

Para Refletir:

  • Quais são os momentos em que, como Samael ou o filho pródigo, nos deixamos levar pelo orgulho e pela ilusão?
  • Temos consciência de que a dor, muitas vezes, é o caminho de retorno à nossa origem espiritual?
  • Estamos atentos aos sinais do arrependimento sincero em nós mesmos e nos outros?

“Toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída que deverá ser paga; se não o for em uma existência, sê-lo-á na seguinte ou seguintes; pois todas as existências são solidárias entre si.”
O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, item 7

Leituras Complementares:

  • Lucas 15:11-32 – A Parábola do Filho Pródigo
  • Evangelhos Apócrifos – Livro de Melquisedeque (Segunda Parte)
  • O Livro dos Espíritos – Allan Kardec: questões 115 a 121
  • O Evangelho segundo o Espiritismo – cap. V e VI
  • A Gênese – Allan Kardec: cap. III
  • Revista Espírita – artigos sobre Espíritos em queda e regeneração
  • O Céu e o Inferno – Parte 2: Exemplos de Espíritos arrependidos

 

AS LEIS NATURAIS E OS CICLOS DO UNIVERSO
- A Era do Espírito -

Uma reflexão espírita sobre as transformações ambientais da Terra

Vivemos tempos desafiadores. A natureza tem dado sinais claros de desequilíbrio: secas prolongadas, enchentes violentas, incêndios devastadores, ondas de calor sem precedentes. Recentemente, um conjunto de imagens comparativas do Rio São Francisco — um dos mais emblemáticos cursos d’água do Brasil — revelou o alarmante recuo de suas águas em determinadas regiões. Onde antes havia um caudaloso e majestoso rio, hoje se observam margens secas e trechos de terra exposta, outrora cobertos pelo curso natural da água. As causas imediatas? Estiagens severas, mudanças climáticas e manejo inadequado dos recursos hídricos.

Contudo, a Doutrina Espírita oferece uma visão mais profunda e abrangente, capaz de integrar esses acontecimentos aos ciclos planetários e à responsabilidade moral da humanidade. Para compreender esse tema — a devastação ambiental em correlação com os ciclos da Terra e sua posição no Universo — à luz do Espiritismo, é fundamental integrarmos três grandes eixos:

  1. As Leis Naturais da Criação, segundo o Espiritismo
  2. Os ciclos da Terra como reflexo da Lei do Progresso e da Lei de Conservação
  3. A responsabilidade moral e espiritual do ser humano como co-criador no planeta

1. As Leis Naturais e os Ciclos do Universo

A Doutrina Espírita, conforme codificada por Allan Kardec, nos ensina que o Universo é regido por leis imutáveis, sábias e harmônicas, que expressam a vontade divina (cf. O Livro dos Espíritos, questões 614 a 618). Dentre essas leis, destacam-se para nosso tema:

  • Lei do Progresso (q. 776 a 785)
    Tudo evolui: o planeta, os seres vivos, as sociedades e as consciências. Inclusive a Terra passa por transformações físicas e espirituais, movendo-se no espaço e atravessando estágios planetários — de mundos primitivos até de regeneração.
  • Lei de Conservação (q. 701 a 707)
    Deus dá ao ser humano os recursos necessários à vida, mas exige que ele use esses bens com sabedoria e respeito. O desperdício, a ganância e o desequilíbrio geram consequências inevitáveis.
  • Lei de Destruição (q. 728 a 741)
    A destruição é parte da renovação. Ela é necessária ao equilíbrio dos ecossistemas e à regeneração das formas, mas quando provocada pelo abuso humano, torna-se desequilíbrio e dor.

Essas leis nos mostram que nada está isolado. Os movimentos naturais ― as estações, as secas, as enchentes ― estão entrelaçados ao movimento do planeta em torno de si, ao redor do Sol e na galáxia.

A TERRA EM MOVIMENTO E A LEI DO PROGRESSO

O movimento da Terra ao redor do Sol (ano) e sobre seu eixo (dia e noite), bem como seu deslocamento dentro do sistema solar e da galáxia, não são apenas fenômenos físicos, mas também símbolos de movimento espiritual. A Terra avança não só no espaço, mas no tempo evolutivo — passando por fases morais, como disse Emmanuel em A Caminho da Luz.

Por isso, crises ambientais como a seca no Rio São Francisco não podem ser vistas apenas como fenômenos meteorológicos ou cíclicos naturais. Elas também refletem um desajuste moral e coletivo, indicando o nível espiritual da humanidade.

2. Desrespeito à Natureza: Entre Causa e Consequência

A degradação ambiental resulta do afastamento do homem das leis divinas. O Espiritismo nos ensina que:

  • Somos espíritos encarnados para progredir em inteligência e moralidade;
  • O planeta é uma morada transitória, que precisa ser respeitada como obra divina;
  • O mau uso da liberdade — quando escolhemos a destruição em vez da harmonia — gera consequências educativas, individuais e coletivas.

A destruição de rios, florestas e ecossistemas, o uso excessivo de agrotóxicos e a emissão desenfreada de gases poluentes, como no caso do Rio São Francisco, não são castigos divinos, mas respostas naturais e sociais às ações humanas, conforme a lei de causa e efeito.

E mesmo os flagelos naturais (secas, enchentes, terremotos), quando não provocados diretamente pelo homem, funcionam como instrumentos pedagógicos, que despertam solidariedade, resignação, compaixão e renovação moral (cf. O Livro dos Espíritos, q. 737 e 741).

3. Responsabilidade Coletiva e Consciência Planetária

“A Terra não pertence ao homem, o homem pertence à Terra”
— (Sabedoria ancestral, reafirmada por Espíritos Superiores)

Kardec nos lembra que os bens da Terra são para todos (q. 711), e o uso egoísta, predatório e destrutivo gera desequilíbrios, escassez e sofrimento. A espiritualidade superior também nos mostra que:

  • A Terra é um planeta em transição, e essa regeneração exige renovação moral;
  • Os recursos naturais são bens comuns, cuja gestão envolve responsabilidade espiritual;
  • A destruição provocada pelo homem acelera o processo de transformação planetária, mas com maior dor.

Portanto, não basta atribuir os eventos à “vontade de Deus” ou a um “carma coletivo”. Devemos assumir, como espíritos conscientes, a coautoria dos desequilíbrios ambientais e também o compromisso com a reparação.

4. A Conexão entre Cosmos, Natureza e Espírito

Ao considerarmos os ciclos da Terra — como as eras geológicas, os períodos de glaciação e aquecimento, os ciclos orbitais e a movimentação dentro da Via Láctea — percebemos que tudo é movimento e transformação. O planeta acompanha o fluxo cósmico, mas sua vibração é influenciada pela conduta moral de seus habitantes.

A regeneração do planeta não virá apenas por fenômenos naturais, mas pela renovação interior do ser humano, que começa no pensamento e se expressa em ações concretas: consumo consciente, respeito à vida, justiça social e preservação ambiental.

5. Conclusão Inspiradora: O Bom Combate pelo Planeta

A Doutrina Espírita nos convida ao bom combate: aquele que começa dentro de nós, no enfrentamento das más tendências, da indiferença, da omissão e do egoísmo. A seca no Rio São Francisco, os desastres ambientais, as tragédias climáticas não são meras fatalidades — são apelos da Terra e da espiritualidade superior ao despertar da consciência humana.

Seja pelas leis físicas que regem os ciclos planetários, seja pelas leis morais que regem o espírito imortal, tudo converge para o bem e o progresso. Mas esse progresso depende de nossa escolha diária.

“O futuro pertence aos que forem bons.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. III)

Referências Doutrinárias
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Ed. FEB.
Kardec, Allan. A Gênese. Ed. FEB.
Emmanuel. A Caminho da Luz. Psicografado por Francisco Cândido Xavier.
Pereira, Marcelo Henrique. O sinal visível da devastação da Natureza e da poluição humana sobre a Terra.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

O AUTOCONHECIMENTO E A SABEDORIA DE TALES:
UMA LEITURA À LUZ DO ESPIRITISMO
- A Era do Espírito –
 

"Conhece-te a ti mesmo."
— Inscrição do templo de Delfos, adotada por Sócrates e reforçada por Kardec como chave da elevação moral.

Tales de Mileto, reconhecido como o primeiro filósofo da tradição ocidental, viveu por volta de 625 a.C., em Mileto, na Ásia Menor — atual território da Turquia. De origem fenícia e espírito investigativo, Tales não apenas foi um dos sete sábios da Grécia antiga, mas também o fundador da Escola Jônica, considerada o berço do pensamento filosófico sobre a natureza e seus princípios.

A ele são atribuídas reflexões profundas e atemporais, nas quais já se percebe a busca por respostas fundamentais sobre Deus, o universo, a alma humana e os desafios existenciais. Quando interrogado por um sábio sobre questões essenciais da vida, Tales respondeu com simplicidade e sabedoria:

  • O que é mais antigo?
    Deus, porque sempre existiu.
  • O que é mais belo?
    O Universo, porque é obra de Deus.
  • O que é mais constante?
    A esperança, porque permanece mesmo quando tudo se perde.
  • Qual é a melhor de todas as coisas?
    A virtude, sem a qual nada de bom existiria.
  • Qual é a mais rápida?
    O pensamento, que em um instante pode alcançar os confins do universo.
  • Qual é a mais difícil?
    Conhecer-se a si mesmo.

Esse último ensinamento ecoa com especial vigor no coração da Doutrina Espírita, que reconhece o autoconhecimento como ferramenta essencial para a evolução do Espírito.

O Autoconhecimento na Visão Espírita

Na questão 919 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta aos Espíritos Superiores qual o meio prático mais eficaz de o homem se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal. A resposta é direta:

“Um sábio da Antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.

Na continuação dessa resposta, Santo Agostinho orienta sobre a importância da análise diária das próprias ações, sugerindo um exame de consciência sistemático, como quem revisa contas a prestar à própria alma. Essa prática é vista como a base sólida do progresso moral.

Ao valorizar a busca por si mesmo, o Espiritismo ensina que o ser humano é um Espírito em constante processo de aperfeiçoamento, criado simples e ignorante, mas dotado da potencialidade divina que o impulsiona à perfeição relativa. Por isso, compreender-se — com suas imperfeições, tendências e virtudes — é um passo indispensável para a regeneração íntima.

O Pensamento como Força Criadora

Ao afirmar que o pensamento é a coisa mais rápida de todas, Tales antecipava um princípio também fundamental na filosofia espírita: a força do pensamento como poder criador, modelador e conector entre mundos.

Em A Gênese, Allan Kardec explica que o pensamento é uma das formas de ação do Espírito e pode atuar sobre os fluidos espirituais, moldando paisagens, transmitindo intenções e mesmo influenciando outros Espíritos ou encarnados. Por isso, o pensamento, além de veloz, é criativo e revelador da essência do ser.

Esperança e Virtude: Alicerces Espirituais

Na resposta sobre o que é mais constante e o que é melhor, Tales apontou, respectivamente, a esperança e a virtude. O Espiritismo corrobora essa visão ao tratar a esperança como força anímica que sustenta o Espírito nos momentos de dor, sendo, conforme nos ensina Léon Denis, “a luz que brilha nos instantes de sombra”.

A virtude, por sua vez, é o resultado de uma vontade reta e consciente, cultivada pela educação do Espírito e pelo esforço em dominar as más inclinações. Sem ela, o bem não se concretiza; com ela, a alma progride com segurança.

Conhecer-se para Amar e Servir

Conhecer-se é, portanto, um exercício de humildade e coragem. É perceber-se como Espírito imortal, temporariamente encarnado, com provas e missões a cumprir. É aceitar as próprias limitações sem resignar-se ao erro, e buscar diariamente a superação de si mesmo, com fé, perseverança e caridade.

O Espiritismo não nos pede perfeição imediata, mas nos convida ao esforço contínuo. Traz luz à consciência e esperança ao coração, afirmando que somos os artífices de nosso destino, e que ninguém está condenado a permanecer no erro indefinidamente.

* * *

Que as reflexões de Tales, esse sábio da Antiguidade, nos inspirem a trilhar o caminho da virtude, da esperança e, sobretudo, do autoconhecimento, pois como ensina a Doutrina Espírita, ninguém pode progredir sem antes conhecer-se a si mesmo.

"O homem que se conhece é como o agricultor que conhece sua terra: saberá onde há pedras, espinhos, flores e frutos, e com esse saber, cultivará melhor seu campo interior."
— Inspiração baseada na filosofia espírita.

Referências:
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, especialmente a questão 919.
Kardec, Allan. A Gênese, cap. XIV, item 14 – "O papel do pensamento".
Denis, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor.
Texto-base: 
Momento Espírita, momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=2907&let=Q&stat=0 
Biografia resumida de Tales de Mileto (domínio público).
A ESPIRITUALIZAÇÃO DO PENSAMENTO E OS OBJETOS DE CULTO NA VISÃO ESPÍRITA
- A Era do Espírito –
 

Desde tempos imemoriais, religiões de todo o mundo utilizam objetos materiais como instrumentos de fé e ligação com o sagrado. Estátuas, talismãs, medalhas, roupas cerimoniais e imagens sacras são, ainda hoje, comuns em práticas devocionais de diversas tradições. Esses itens têm por objetivo promover um contato mais próximo com o divino — ou com entidades espirituais consideradas intermediárias entre Deus e a humanidade.

Contudo, à luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, compreendemos que tais objetos não são necessários para estabelecer a verdadeira conexão com o Plano Espiritual Superior. O Espiritismo, ao nos revelar as leis que regem o pensamento e a mente, propõe um caminho de elevação espiritual que independe de elementos externos.

O Respeito às Crenças Alheias

É natural, ao abraçar o Espiritismo e compreender sua proposta de espiritualização íntima, que o espírita se liberte do uso de objetos de culto. Porém, tal entendimento não nos deve conduzir à crítica ou ao desprezo por aqueles que ainda se valem desses recursos com sinceridade e reverência. Como aponta André Luiz na obra Mecanismos da Mediunidade:

“Talismãs e altares, vestes e paramentos, símbolos e imagens [...] destinam-se a incentivar a produção de ondas mentais [...] atraindo forças do mesmo tipo que as arremessadas pelo operador.” (p. 193-194)

Esses objetos, ainda que materiais, podem favorecer o direcionamento mental e emocional para estados de fé, esperança, reverência e sintonia com o bem. Mesmo os que se encontram mergulhados em práticas supersticiosas, quando motivados por sentimentos nobres, são beneficiados por esse esforço mental.

Sintonia: O Verdadeiro Culto

O Espiritismo nos ensina que a ligação com os Espíritos Superiores ocorre conforme a qualidade dos nossos pensamentos, sentimentos e intenções. A sintonia com as esferas elevadas não depende de fórmulas, ritos ou emblemas, mas sim do estado interior que cultivamos. A cada momento, atraímos para junto de nós entidades cujas vibrações se afinam com as nossas.

“Somente a conduta reta sustenta o reto pensamento [...] a prece será sempre o reflexo positivamente sublime do Espírito.” (Mecanismos da Mediunidade, p. 195)

A verdadeira espiritualidade é silenciosa, íntima e contínua. O culto mais elevado é aquele que se expressa em uma conduta digna e no esforço diário pela renovação interior. Essa vivência dispensa intermediários materiais.

A Disciplina da Mente

Apesar do conhecimento oferecido pela Doutrina Espírita, manter o pensamento elevado ainda é um desafio. O mundo moderno, com suas pressões, distrações e valores efêmeros, dificulta a criação de uma ligação perene com o Alto.

Quantas vezes perdemos tempo alimentando mágoas, julgamentos e pensamentos negativos? Quantas oportunidades de conexão com nossos mentores espirituais são desperdiçadas por indisciplina mental?

“É indispensável [...] renovar as concepções e modificar, invariavelmente, para o bem maior o modo íntimo de ser.” (No Mundo Maior, p. 259)

Treinar a mente para permanecer afinada com ideais superiores é uma das tarefas mais exigentes e essenciais da jornada evolutiva. Requer esforço constante, vigilância e perseverança.

Oração: A Ponte com o Alto

A oração, compreendida em sua essência, é o exercício mais poderoso de sintonia com as Esferas Superiores. Ela pode ser feita a qualquer hora, em qualquer lugar, bastando para isso a disposição sincera da alma em elevar-se.

“No reconhecimento ou na petição [...] ei-la [a prece] exteriorizando a consciência que a formula, em efusões indescritíveis.” (Mecanismos da Mediunidade, p. 195)

O Espiritismo convida o ser humano à vivência de um culto permanente no templo da consciência. Convida-nos a sermos, nós mesmos, o altar em que se manifesta o divino, pela prática do bem, pela renovação dos pensamentos e pela construção diária do Reino de Deus em nossos corações.

Conclusão

Não é pelo abandono de objetos de culto que se mede a espiritualidade de alguém, mas pela elevação moral e pelo esforço em alinhar pensamento, sentimento e ação aos princípios superiores da vida. Enquanto humanidade ainda em processo de amadurecimento espiritual, é natural que muitos se apeguem a recursos físicos como apoio à fé. E isso merece nosso respeito.

Contudo, o convite espírita é claro: transformar-se pela renovação da mente, como disse o apóstolo Paulo (Romanos 12:2). É por meio da disciplina mental, da prece sincera e da prática do amor que nos tornamos verdadeiramente ligados à espiritualidade maior — sem necessidade de qualquer mediação material.

Bibliografia
Xavier, Francisco Cândido & Vieira, Waldo. Mecanismos da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. FEB, 25ª ed., 2006.
Xavier, Francisco Cândido. No Mundo Maior. Pelo Espírito André Luiz. FEB, 24ª ed., 2005.
Paulo de Tarso. Carta aos Romanos, 12:2.
Sérgio Maurício. “Uma religião espírita?” – Texto base.
RAZÃO, LÓGICA E ESPIRITISMO: 
UMA REFLEXÃO À LUZ DO MÉTODO ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

“É preciso tudo fazer passar pelo crivo da razão e da lógica.”
O Livro dos Médiuns, cap. XX, item 230

A recomendação acima, dada por Erasto e registrada por Allan Kardec, sintetiza um dos pilares da abordagem espírita: submeter todo ensinamento ao exame da razão. Este princípio não se limita a uma diretriz ética ou a um conselho genérico — trata-se, na verdade, de uma diretriz metodológica fundamental na construção do conhecimento espírita.

Kardec não codificou o Espiritismo com base em revelações místicas, mas sim a partir da observação rigorosa dos fenômenos espirituais, da análise comparada das mensagens mediúnicas e, sobretudo, da fidelidade à lógica e ao bom senso. Assim, o uso da razão é mais do que um apoio: é a base sobre a qual se assenta toda a estrutura doutrinária espírita.

A Centralidade da Razão no Pensamento Espírita

O Espiritismo se define como uma doutrina de fé raciocinada (cf. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 7). Isso significa que nenhuma ideia deve ser aceita cegamente, mesmo quando emanada por um Espírito considerado “superior”. Kardec foi categórico:

“Antes de aceitar uma comunicação como proveniente de um Espírito superior, é necessário saber se ela resiste ao controle severo da razão.”
Revista Espírita, dezembro de 1861

Ao abordar os conceitos de razão — ratio e logos — o pensamento espírita afasta-se da fé cega, do êxtase místico e das paixões descontroladas, aproximando-se de uma visão que valoriza o discernimento e a clareza mental. Esses perigos — a ilusão, o fanatismo, o misticismo desregrado — foram denunciados por Kardec como obstáculos ao verdadeiro progresso da Doutrina.

A Lógica como Suporte da Estrutura Espírita

Ao analisar a operação racional segundo quatro princípios clássicos da lógica — identidade, não contradição, terceiro excluído e razão suficiente — reconhece-se que esses fundamentos estão presentes, de forma implícita ou explícita, na construção do saber espírita:

  • Identidade: é o que permite reconhecer um Espírito, distinguir o real do ilusório e identificar com clareza uma manifestação mediúnica.
  • Não contradição: sustenta o princípio do controle universal do ensino dos Espíritos, pelo qual Kardec descartava comunicações contraditórias ou ilógicas.
  • Terceiro excluído: está presente em afirmações doutrinárias categóricas, como a imortalidade da alma — ou ela é, ou não é.
  • Razão suficiente: fundamenta a Lei de Causa e Efeito, segundo a qual nada acontece sem uma causa, e cabe ao Espírito investigar com lucidez os porquês da vida.

Esses princípios não são meros conceitos filosóficos, mas instrumentos vivos no exercício de um Espiritismo sério, responsável e coerente com sua proposta educativa e libertadora.

A Crítica como Exigência da Doutrina

Inspirando-se também em pensadores contemporâneos como Marilena Chauí, a reflexão aqui apresentada valoriza a crítica como instrumento de compreensão e libertação. Essa postura crítica é inerente ao Espiritismo, que não receia o questionamento — ao contrário, o estimula.

Kardec foi, acima de tudo, um crítico das comunicações mediúnicas. Ele avaliava o conteúdo das mensagens, comparava diferentes fontes, buscava coerência, rejeitava ideias conflitantes e desmontava posições ideológicas incompatíveis com os princípios da Doutrina.

“O Espiritismo quer ser aceito pela razão; por isso se dirige à inteligência, e não à imaginação.”
O Livro dos Médiuns, cap. XXVII, item 303

A crítica, nesse contexto, não destrói a fé; ao contrário, fortalece-a quando está baseada na razão e na observação.

Fenômenos Espirituais também Devem Passar pelo Crivo da Razão

Mesmo nos casos de fenômenos inesperados, sutis ou aparentemente inexplicáveis, a Doutrina Espírita mantém o princípio da racionalidade. Kardec jamais admitiu que a fé se fundamentasse apenas em maravilhas ou efeitos extraordinários:

“A fé raciocinada se apoia nos fatos e na lógica; não deixa nenhuma obscuridade.”
O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 7

Assim, mesmo diante do imponderável, o Espiritismo convida à prudência, à análise comparativa das manifestações, à verificação de suas causas e à coerência doutrinária, evitando os desvios da superstição, do dogmatismo ou da idolatria mediúnica.

Uma Contribuição que Dialoga com a Doutrina Espírita

A presente reflexão, inspirada no ensaio “O Crivo da Razão”, de Albino A. C. de Novaes, publicado no blog Espiritismo Comentado, integra-se plenamente aos fundamentos da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec. Ainda que elaborada a partir de elementos da filosofia ocidental, ela dialoga harmoniosamente com o pensamento espírita, que examina, filtra e se enriquece com o que há de mais sério e elevado na tradição filosófica e científica.

O Espiritismo propõe:

  • Uma fé lúcida, que não teme a razão.
  • Um método baseado na observação, no bom senso e na análise crítica.
  • Um estudo contínuo, livre, aberto ao diálogo com todas as áreas do conhecimento.
  • A construção de um saber espiritual rigoroso, coerente e acessível à inteligência humana.

Concluir que a razão é elemento estrutural da Doutrina Espírita é não apenas justo, mas necessário. É por meio dela que o Espiritismo se distingue dos sistemas místicos tradicionais e propõe-se como uma filosofia espiritual que não prescinde da ciência nem da lógica. Ao aplicar essa chave de leitura, reafirma-se que o Espiritismo é, acima de tudo, um convite ao conhecimento liberto e à fé esclarecida.

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